Alguns acontecimentos pontuais teimam em anunciar, mais uma vez, um terreno onde quebras de paradigmas são possíveis. Especialistas de todo o mundo, dentre eles economistas mais ousados, tentam explicar enquanto tentam entender o que talvez só será bem compreendido daqui a anos ou décadas.
A tecnologia, assim como a informação, a ciência, e as consciências dos povos se agitam e se articulam durante esta década de maneira jamais vista nem tampouco ensaiada até então.
O Capitalismo nunca produziu tanta riqueza, porém, paradoxalmente, continua claudicando diante de uma crise que parece não ir embora. Ao mesmo tempo em que a desigualdade produzida por esse sistema contraditório acaba de bater o mais alarmante recorde.
Estabeleceu-se foco para a cultura do imediatismo, hedonismo e a um mito contemporâneo de sujeito atomizado, anterior às relações sociais, que identifica a busca pela felicidade com o aumento do consumo.
É preciso admitir que a sociedade consumista é brutalmente incompatível com a saúde do planeta. Estamos acabando com ele para sustentar uma lógica capitalista que deu certo somente para alguns poucos bilionários, e outros assalariados ricos. Isto é, a riqueza de apenas 1% da população superou em 2015 a dos outros 99%.
Sempre haverá aqueles que insistirão na tese de retirar do Estado o papel de regulador da economia. Há de se reiterar outra tese: a de que notavelmente o mercado não consegue curar os problemas que ele mesmo causou. Se hoje estamos nessa situação econômica global, há de se lembrar também que para salvar o capitalismo de um colapso fatal diante da crise de crédito em 2008, o governo dos EUA juntamente com a União Européia injetaram quase 3 trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro.
Nota-se ainda algo mais contraditório: quem está a cavar sua própria cova é o próprio Capitalismo. Atividades que foram produzidas graças às demandas do mercado podem agora servir de base material para uma possível nova organização do sistema.
Novas modalidades de serviços e meios de produção aditivos com alto poder revolucionário, como as impressoras 3D e a Nanotecnologia Molecular, são capazes, em tese, de enfraquecer o poder de grandes monopólios ao dar acesso ao sujeito portador dessas tecnologias a possibilidade de produzir quase qualquer objeto que queira.
Se teremos de fato a emersão de algo realmente novo, e também de que maneira sua mudança pode ser concretizada, fica para os já consolidados intelectuais discutirem sob a minuciosidade das teorias.
Com isso mantenho minha admiração numa ideia de Hegel, e com que Marx concorda, de que é sim o homem quem faz a história, mas nunca da maneira que acha que está fazendo.
O ex-paraíso dos liberais, os EUA, agora vê em sua corrida presidencial o ascender de uma figura assustadora para seus padrões ideológicos, Bernie Sanders, democrata que se intitula socialista, é favorito entre parcela grande dos jovens. Com rigor, não poderia ser chamado de socialista, mas sim de social democrata. O que já é muito para um país que tem em coma seu real pensamento de esquerda.
Sanders não deve ganhar a eleição, mas só o fato da terra da liberdade ter crescente especulação a respeito de um sujeito como Sanders já é um grande dado histórico.
São tempos em que as dúvidas ganharam força em detrimento de várias certezas. Entre elas, as formas com que aprendemos a intervir e solucionar os desafios que a realidade impõe.
Instituições capengam no momento que deveriam recomendar saídas e proporcionar segurança.
As relações interpessoais estão em crise, ao tempo em que uma neblina se impõe quando nos erguemos para olhar o futuro. Um terreno perfeito para o surgimento de um novo homem num novo mundo.
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