Houve um tempo em que o bom humor reinava entre os protagonistas do excelente futebol brasileiro jogado nas décadas de sessenta, setenta e oitenta. Eram os jogadores entre jogadores, os jogadores com os dirigentes e inúmeros casos de jogadores com jornalistas e árbitros de futebol.
A convocação do Garricha para a Copa de 58 foi um grande acontecimento para o ambiente da concentração. O presidente da delegação, Paulo Machado de Carvalho, grande gozador e criador da camisa azul, que era o manto da nossa santa padroeira, ao sentir quem era o Garrincha, apavorou-se e convocou uma junta para avaliar aquele maluco. O psicólogo chamou o genial craque e conversou alegremente, muito antes de colocar um círculo em uma folha de papel e perguntar:
– Meu querido Garrincha, por favor, o que isso representa para você? Pronto, era só o que o “entortador” queria, entrou em uma crise de risos que ninguém conseguia fazê-lo parar de rir. Chamaram o Nilton Santos, o compadre segurou o amigo e balançou-o. Garrincha foi parando de rir e mostrou o círculo para a “Enciclopédia”, que o abraçou com o carinho dos grandes homens:
– Ele me perguntou o que é isso?
– E o que é compadre?
– Compadre, o nosso centroavante vai ficar uma fera. Ele desenhou a cabeça do Quarentinha. Um negócio desse tamanho não pode ser outra coisa. Era o que estava faltando para o Quarentinha ficar conhecido, até hoje, como “Cabeção”. Garrincha sempre se escondia, chamava pelo Cabeção e corria.
Outra história foi a do Didi, que comprou um rádio portátil do Garrincha, quando estavam arrumando as malas para voltar. O melhor jogador da Copa de 58 perguntou ao menino brincalhão:
– Vais dar pra quem esse rádio?
– Prá ninguém! Comprei e vou levar para o Brasil.
– Tu és maluco. Esse rádio só fala em sueco.
– Didi, então eu vou vender para alguém do hotel.
– Quanto tu queres? Te pago a mesma coisa.
– Tá legal, Negão. Pra ti eu não cobro nada e ainda estou presenteando o melhor jogador da Copa. Didi, malandro e bom de briga, ficou com medo das gozações do Garrincha quando soubesse do drible. Devolveu.
Ao tentar ver os jogos dos “timecos” brasileiros, deparamo-nos, a cada rodada, com todos os tipos de reclamações e palavrões dos jogadores para árbitros e bandeirinhas. Umas atitudes que escapam da razão e da compreensão. É tanto nome feio que os meus netos, prontos para a primeira comunhão, riem mais que o Garrincha do Quarentinha quando fazem a leitura labial. É nome de pai traído, mãe promíscua, animal quadrúpede com galhada e outras coisas novas.
A mesa redonda da FOX, composta de vários bambas, o craque baiano Mário Sérgio no meio, discutiu com profundidade o assunto. Então, perguntaram para o Mário Sérgio se ele teve alguma parada com árbitro. E o gozador falou e não deixou ninguém dormir de tanto rir.
– Como todos sabemos, o nosso Dulcídio Wanderley Boschilla era um palmeirense dos mais clorofilas. Ele estava dando tudo que era bola dividida para nós. Eu passei pelo Almirante, zagueiro do Taubaté, e disse:
– A parada está diferente para vocês. Não adianta me bater. Falei perto do Dulcídio para ele escutar. Ouvi o apitaço do monstro e vi o gesto de chamada para os dois capitães. Todos se aproximaram e ele disse:
– Atenção, muita atenção! Nos próximos dez minutos não apitarei uma única falta nesse baiano gaiato. Tenho dito. Os dois times só davam a bola para o Mário Sérgio e o baiano fugia de tudo e ninguém entendia.
Bons tempos!
Roberto Caminha Filho, nacionalino e economista é fã do finado Dulcídio.