O que aconteceu depois do diálogo do major Carliomar Barros Brandão, subsecretário de Justiça e Direitos Humanos do Amazonas, demitido pelo governador José Melo (Pros), com um preso em uma cadeia de Manaus tem pouca importância diante do fato principal, ou seja, a ida do major ao presídio para negociar com um líder dos presos. O fato de haver um líder no presídio que fala pelos demais já é uma aberração do sistema prisional brasileiro. Mas esse é um tema para outra discussão.
O fato é que o major disse ter ido ao local depois de receber informação de que haveria uma rebelião e que se prometia matar dez presidiários de grupo rival. Rebeliões, quando ocorrem nos presídios, dificilmente são anunciadas previamente. Mas aceitemos a hipótese de que houve mesmo a comunicação. Não deveria a negociação com a liderança dos presos ser a opção primeira nem a última, porque o Estado não pode negociar com quem está privado de liberdade por cometer crime. O Estado sequer pode aceirar e existência de um líder no presídio; menos ainda, negociar com ele.
A ação do Estado deveria ser o reforço da segurança no presídio para evitar a rebelião. O que se ouve na gravação, no entanto, é uma conversa amigável entre o major e o preso Zé Roberto. Conversa que Carliomar Brandão não nega que tenha ocorrido. O major afirma que é dever dele salvar vidas, e não está errada a afirmação, mas não agiu corretamente quando decidiu negociar com os presos.
Outra questão sem resposta: o major agiu por vontade própria? Ou recebeu ordem para negociar com os presidiários? O fato de o governador José Melo demitir Carliomar Brandão indica que a ação dele não agradou. Mas o secretário da Sejus, coronel Louismar Bonates, disse à revista Veja que foi informado por seu subordinado da ida dele ao presídio, mas “o objetivo era manter a paz lá dentro da cadeia”. Por que ele não foi demitido junto com o major?
O caso merece ser discutido para além do processo eleitoral. No mínimo, o Ministério Público deveria tomar a iniciativa de investigar.