“Entre um governo que faz mal e o povo que consente,
há uma certa cumplicidade vergonhosa.” Vito Hugo
Os bastidores da política amazonense, especialmente em Manaus, apontam novamente para uma engenharia política de conveniência, que pretende oferecer aos eleitores opções de voto “direcionados” para um dos dois grupos que se formaram a partir das eleições de 2012: de um lado candidatura(s) alinhadas ao Ministro Eduardo Braga e do outro, candidatura(s) apoiadas pelo Governador Melo e Arthur. Ambos filhos políticos de Amazonino Mendes.
De fato, nossa sociedade não evoluiu para a formação de um projeto político de base social. Temos repetido a velha fórmula de candidaturas forjadas no topo da pirâmide e impostas ao povo pelos donos do poder político, financeiro, empresarial e das comunicações. As velhas práticas políticas e de gestão possuem o claro objetivo de manter o status quo de dominados e dominadores: educação e saúde precárias, ausência de saneamento e urbanização dignas, transporte público indecente e humilhante e migalhas, distribuídas aos aliados, por outro lado, o surgimento de fortunas repentinas.
Assim, o senso comum é de revolta contida. Sabe-se que há muitos problemas, mas não se conhece os caminhos que a cidadania oferece para solucioná-los. Esse quadro favorece e alimenta a “maldição da rodela”, como diria o ex-Senador Evandro Carreira, ou círculo vicioso no qual nos metemos há trinta anos atrás. Sem saber por onde, nem como resgatar o protagonismo político, a população vive à espera de um novo salvador, favorecendo a renovação do mesmo grupo que nos domina e subjuga.
Dessa forma, não renovamos o pensamento político ou evoluímos na gestão de recursos ou transparência e democracia. Ao contrário, nos contentamos com um novo cacique ou discurso político de ocasião, milimetricamente construído com base em pesquisas qualitativas. A renovação política não significa apenas um novo nome, idade ou discursos. Significa uma nova postura social, um novo olhar sobre o outro, o meio ambiente e a coletividade. Um novo fazer político, preocupado em manter um equilíbrio social, ambiental e econômico.
Portanto, um novo comportamento político não nasce para negar tudo aquilo que foi construído, mas para dar um novo significado para a relação poder público-cidadania-gestão, oferecendo espaços de debate, participação e mais democracia. O poder público precisa ser mais sensível e solidário. E isso vale para todos os poderes constituídos. O Tribunal de Justiça do Amazonas acaba de criar sete novas vagas de Desembargador, que irão custar aos cofres públicos R$ 8,6 milhões por ano! Uma lástima!
Esse dinheiro poderia ajudar a pagar o passe livre de estudantes de baixa renda, que a Prefeitura diz que não pode bancar. E antes que alguém diga que é impossível, que os recursos pertencem ao TJAM e não podem ser aplicados nisso ou naquilo, lembro que o dinheiro é público. Portanto, deveria ser aplicado em causa mais urgente do que manter sete gabinetes nababescos. Isso seria agir onde é mais urgente, isso seria uma atitude solidária e justa. Isso é o pensamento para uma nova postura política.