Iniciada com atraso pela gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto, a discussão em torno do Plano de Mobilidade Urbana do município de Manaus trouxe, na comissão de frente, uma surpresa: o prefeito já definiu o modal que será implementado para tentar resolver o problema do transporte público – o BRT (Bus Rapid Transit). Nas discussões que começaram a ser realizadas com entidades há duas semanas, tratou-se apenas de como será estruturado o sistema e suas variantes. A decisão foi tomada no gabinete do prefeito, sem qualquer discussão com a sociedade.
Manaus é uma metrópole de fato e de direito e, como tal, deveria merecer um olhar mais futurista do que imediatista. Há outras soluções para o transporte público além do BRT, apesar de a empresa contratada pela Prefeitura de Manaus para prestar assessoria, a Oficina Consultores, argumentar que o sistema foi implementado em mais de 130 cidades do mundo.
Uma das opções que vem sendo testadas com sucesso no mundo é o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), mencionada pelo prefeito Arthur em entrevistas sobre o assunto no passado recente. Esse sistema é o bonde ampliado e melhorado com a tecnologia disponível atualmente, mais de um século depois da experiência vivida em Manaus. Na França, desde o início desta década, mais de 20 cidades já instalaram o VLT, inclusive Paris, como sistema complementar ao metrô.
O grande problema da mobilidade urbana é que as discussões só ocorre nos gabinetes. As audiência públicas, exigidas por lei para qualquer processo de mudança estrutural das cidades, são uma farsa. A população é convidada apenas para ser comunicada das decisões. Foi assim que aconteceu nos preparativos da Copa do Mundo. Os que participaram das audiências sequer foram ouvidos. O evento resumiu-se às apresentações dos representantes das empresas de consultoria e a perguntas para esclarecimentos sobre o que estava decidido.
Nesse processo, estavam incluídos o monotrilho e o BRT como sistemas de transporte para Manaus. Os questionamentos do Ministério Público e de uma gama de entidades e pessoas contrárias foram ignorados. Deu no que deu: o monotrilho foi licitado, consumiu R$ 10 milhões e agora foi abandonado; o BRT, até hoje, não passou de um projeto mal elaborado.
Outra experiência fracassada de Manaus, o Expresso, foi retomado na gestão de Arthur, pelas mãos de Pedro Carvalho, o técnico que trouxe e implementou o projeto na gestão do ex-prefeito Alfredo Nascimento. Nos inícios dos anos 2000 Carvalho foi buscar a experiência de Curitiba para formatar a matriz do transporte coletivo de Manaus. Mas as ruas estreitas e o projeto mal elaborado resultaram num prejuízo que a sociedade manauara ainda não esqueceu nem digeriu.
Agora, Pedro Carvalho e os técnicos da Oficina Consultores foram buscar a experiência do Rio de Janeiro, que inaugurou recentemente um sistema de BRT. É possível, mas muito difícil implantar um serviço parecido com o que está funcionando no Rio de Janeiro pela dificuldade de ampliação dos principais corredores do transporte em Manaus.
Por isso, é necessário pensar a cidade e seu sistema de transporte público para o longo prazo. Uma cidade que cresce a cada dia, que se amplia para o norte e se espraia através da Região Metropolitana, não pode cair na mesma esparrela do passado, com um sistema de transporte que precisará ser desmontado no futuro próximo.
Não é saudável para as finanças da cidade, do Estado e do país investir em paliativos só para satisfazer o ego de um governante que quer começar e inaugurar uma obra. É preciso pensar um transporte para ser construído ao longo de vários governos. Para isso, é necessário que se criem projetos de Estado. São necessários investimentos bilionários que não estão disponíveis em uma ou duas gestões.
Se não for assim, vamos assistir a mais um capítulo do desperdício do dinheiro público, como já vimos em outras ocasiões.
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