Ontem, sai de casa às 17h10 para ir à casa da minha mãe. Eu moro no bairro São José Operário, zona leste; ela, na Praça 14 de Janeiro, zona sul. A viagem dura, em média, 20 minutos, quando não há congestionamentos no trânsito. Mas nesta segunda-feira chuvosa, o trânsito de Manaus se transformou em um caos, e minha viagem foi uma das mais demoradas: cheguei ao destino às 19h.
O pior desafio foi a Alameda Cosme Ferreira (nunca entendi por que resolveram chamar essa via de alameda). Todos os dias, quando volto para casa, vejo o caos que é o trânsito do outro lado da pista de três faixas da Cosme Ferreira, desde o Viaduto Gilberto Mestrinho (Bola do Coroado) até a Feira do Coroado. Só ontem senti na pele o que é enfrentar aquela fila de carros empatada por uma obra mal projetada.
O congestionamento começava na curva depois do Clube do Trabalhador. Por meia hora, os carros ficaram parados. Eu estava entre o cruzamento da entrada do Conjunto Tiradentes e a Feira do Coroado. A impressão era de que um acidente havia obstruído a via. Depois de mais de meia hora o trânsito começou a fluir lentamente. Até a Bola do Coroado, não havia sinais de acidente. Um agente de trânsito, na rotatória, controlava o incontrolável trânsito.
Há algum tempo venho tecendo críticas ao projeto de engenharia do “Complexo Viário Gilberto Mestrinho”, concebido na gestão de Serafim Corrêa e concluído por Amazonino Mendes. Lembro-me de que a rotatória, antes da obra, era dotada de semáforos. O trânsito era complicado nas primeiras horas da manhã e no final da tarde, mas fluía muito melhor do que hoje. O prefeito Arthur Virgílio Neto terá que instalar os semáforos novamente na rotatória, ou fazer uma intervenção viária para amenizar o problema.
Os engenheiros que conceberam o projeto do viaduto do Coroado devem ser os mesmos que fizeram o da rotatória do São José. Inaugurado com pompa em março de 2012 pelo prefeito Amazonino Mendes, o local é dor de cabeça para quem sai do Zumbi pela Cosme Ferreira ou para quem chega àquele bairro pela Avenida Autaz Mirim. A qualquer hora do dia, até 19h, enfrenta congestionamentos.
Quando da inauguração da obra do Coroado, em janeiro de 2010, o site da Prefeitura de Manaus divulgou matéria que começava assim: “O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, inaugura, neste sábado, às 20h, o Complexo Viário Gilberto Mestrinho. A obra, orçada em R$ 41 milhões, foi concluída em tempo recorde – apenas 11 meses. Com isto, a prefeitura resolve definitivamente o problema de fluidez no trânsito que havia nos quatro eixos que cercam a rotatória do Coroado – avenidas General Rodrigo Otávio, Ephigênio Salles, André Araújo e Alameda Cosme Ferreira.” A matéria continha duas inverdades: não foi concluída em 11 meses (a obra foi iniciada no terceiro ano da gestão de Serafim Corrêa, portanto, pelo menos três anos antes da inauguração) e não resolveu o problema de fluidez no trânsito.
O problema é da cidade
Não escrevo apenas por me sentir violentado depois de a prefeitura fazer gastos astronômicos em viadutos para não resolveram o problema do trânsito (o complexo viário do São José custou R$ 56,3 milhões e o do Coroado, R$ 41 milhões). Em meio às dezenas de carros, havia muitos ônibus parados, cheios de passageiros. Prejuízo para as empresas de ônibus, prejuízo para os passageiros, muitos deles se deslocando para o trabalho. Para quem esperava ônibus para voltar para casa também foi afetado pelo congestionamento na Cosme Ferreira, porque teve que esperar pelo menos duas horas na parada. Muita gente, nos carros, se deslocava para fazer negócios, comprar, trabalhar. O tempo parado dentro de um veículo é um problema da cidade e não apenas do cidadão. O cidadão é apenas a vítima imediata.
Há estudos no Brasil mostrando o tamanho do prejuízo que um trânsito ineficiente causa à economia do município, do Estado e do País. Mas não há política de Estado para resolver esse problema. O que há são paliativos, como a construção de complexos viários capengas.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.