Pelo mesmo motivo que alguns grupos defendem a proibição do uso de fantasias como a de índio ou indumentárias que contenham turbante, há uma insistente exigência para que um time tradicional troque de nome. De preferência, para algum termo que não seja ofensivo para nenhuma coletividade.
A interdição às fantasias e a reclamação a respeito da denominação do time se devem a um conceito bem polêmico chamado “apropriação cultural”, que seria “a adoção de alguns elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural diferente”. Especialmente quando se tratar de uma ação de alguém considerado da cultura dominante contra uma de cultura minoritária. Assim, um branco usando a fantasia de um índio ou portando um turbante é interpretado como um ato de apropriação cultural.
Baseada nessa mesma ideia, alguns militantes reivindicam que seja alterado o nome do clube de futebol americano chamado, desde 1937, de Washington Redskins. Isso porque “redskins” significa, em inglês, “Peles-vermelhas”, uma denominação considerada ofensiva para os nativo-americanos.
A campanha ganhou a adesão do jornal mais popular da capital estadunidense, o Washington Post. Já faz algum tempo que o periódico não usa o nome completo da agremiação, preferindo referências como: “time de Washington da NFL”. Um grupo de 50 senadores elaborou um abaixo-assinado e o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, também fez pedidos formais para que o clube escolhesse outro nome.
O dono dos Redskins, Daniel Snyder, porém, jurou que jamais promoveria a alteração do nome e garante que o seu real significado “é uma homenagem aos indígenas americanos que foram tão importantes para o crescimento e desenvolvimento do país”.
Uma defesa do nome do time é que se for para atender o politicamente correto não bastaria tirar o termo pele-vermelha, mas também o do Estado. Afinal, George Washington foi um dono de escravos e fabricante de tabaco.
Outro argumento é porque a implicância com o nome do time quando há um Estado com um nome potencialmente mais ofensivo, Oklahoma? É que Oklahoma significa na língua da etnia Choctaw: povo vermelho.
Ainda a seu favor, o clube cita enquetes e pesquisas feitas por meios de comunicação no qual a maioria sempre vota a favor da permanência do nome. A ESPN fez uma pesquisa com 286 jogadores de futebol americano e 60% deles também optaram pela permanência do termo “pele-vermelha”. Outra pesquisa pública, desta vez feita com nativos americanos, deu como resultado que “90% não se incomodavam com o nome”. A pesquisa foi repetida em 2016 com 504 entrevistados e a porcentagem se manteve.
O grupo dos incomodados, porém, não se dá por vencido e faz questão de demonstrar sua insatisfação também com pessoas famosas. Chris Hemsworth, ator que interpreta Thor, foi para uma festa de aniversário cujo tema era “O Cavaleiro Solitário” e cujas fantasias possíveis era cowboy, índio ou cavalo. Ele se fantasiou de índio e foi massacrado nas redes antissociais. “Desculpe a minha ignorância. Não sabia que isso era tão ofensivo”, disse ele em seu pedido de desculpas.
Citando outros exemplos de famosos que tiveram que pedir desculpas a militantes, o humorista da HBO, Bill Maher, afirmou que o excesso de patrulhamento chegou a um nível tão insuportável que fez o povo americano escolher como presidente um homem tosco como Trump. O excesso de teses que separam as pessoas tornou possível o mandato de um homem que defende muros.
No Brasil, importantes times de futebol já tiveram que mudar de nome, pois as denominações originais foram consideradas muito ofensivas. No caso, na época da Segunda Guerra Mundial, com o País lutando contra o Eixo, dois clubes antes chamados de “Palestra Itália” mudaram seus nomes para Cruzeiro e Palmeiras. Seria, então, preocupações como essas uma demonstração de que vivemos em tempos bélicos?
Talvez seja por isso que já há quem sugira que para não ofender ninguém deve-se batizar times, cidades, prédios, com nomes “sem sentido” como se dão aos automóveis, tipo Vectra ou Sentra. O certo é que enquanto não percebemos que estamos todos no “mesmo carro”, continuamos todos juntos sendo “atropelados”.