Por Maria Derzi, da Redação
MANAUS – Apoio no segundo turno de concorrentes derrotados no primeiro não significa transferência efetiva de votos. “No máximo, de 30% a 40% dos eleitores dos candidatos derrotados tendem a votar em quem eles apoiam no segundo turno”, diz o cientista político Afrânio Soares, diretor da Action Pesquisas de Mercado. Afrânio avalia que essa é a tendência de parte dos eleitores do deputado estadual Serafim Corrêa (PSDB) e do federal Silas Câmara(PRB) que decidiram apoiar Marcelo Ramos (PR) à Prefeitura de Manaus. Ramos ficou em segundo lugar no 1º turno com 24,86 % dos votos. O prefeito Arthur Neto (PSDB), que disputa a reeleição, foi o primeiro com 35,17%.
Para Afrânio, a transferência de votos independe da vontade do candidato porque o voto é facultativo ao próprio eleitor. “É dele a vontade ou não de votar em determinada pessoa. Isso acontece parcialmente, nunca será integralmente. Existe uma influência dependendo do perfil do eleitor”, disse.
Com base no perfil do eleitorado dos dois deputados, o cientista político avalia que Ramos pode ter mais voto de um do que de outro. “O eleitor do Serafim é mais instruído e mais esclarecido. Esse já definiu, na minha opinião, em quem ele irá votar independente de ouvir orientação do próprio Serafim. O eleitor do Silas Câmara é mais susceptível à orientação dos pastores”, disse Afrânio, referindo-se ao fato de Silas ser pastor da Igreja Assembleia de Deus, no Amazonas. “Talvez tenha um percentual de votação um pouco maior em relação ao eleitor de Serafim”, deduziu.
Para Afrânio, esse percentual, por influência do candidato, não quer dizer que todo mundo que votar em Marcelo tenha votado no Serafim ou no Silas no primeiro turno. “Não quer dizer que os votos que o Marcelo obtiver dos eleitores deles (Serafim e Silas) foram por influência dos candidatos que anunciaram apoio. Eles podem, por exemplo, já ter uma predisposição a não votar no Arthur e votar no Marcelo. O eleitor não vai seguir cegamente a orientação dos candidatos”, comentou.
Afrânio considera que o eleitor tem vontade própria e analisa o cenário que mais se aproxima do seu posicionamento político, do que entende ser o melhor para a sociedade. “Muitas vezes o eleitor vê como traição o fato do candidato dele apoiar, no segundo turno, o outro candidato que foi seu adversário no primeiro turno. De certa maneira, tiveram críticas aos dois que ficaram como candidatos para o segundo turno e essas críticas refletem. Tem também a posição ideológica. Por exemplo, o Zé Ricardo (José, do PT) que não definiu apoio a ninguém porque acha que os dois representam os grupos que estão no poder há muitos anos. O Zé Ricardo teve uma posição esperada dele. Se ele apoiasse qualquer um dos candidatos, estaria traindo sua ideologia”, avaliou.
Afrânio analisa que a eleição em Manaus foi surpreendente pelas inúmeras alianças até então improváveis. “Acredito que o eleitor vai parar e analisar o seguinte: muito bem, vai ter outra eleição no dia 30 de outubro e agora, em que vou votar? Aí ele vai decidir”, disse.
O analista também ressaltou que a questão das alianças anteriormente improváveis passa pelas decisões e apoios que ocorreram no início das eleições, quando os dois candidatos escolheram seus parceiros políticos para a disputa do pleito. “Todos os dois têm chances de ganhar, mas nenhum deles governa sem essas alianças políticas. Porque você tem que governar com o Legislativo e o Legislativo é comandado pelos partidos. O Executivo é comandado pelo candidato, porém, com um arco de alianças que será transformado em secretarias, que serão comandadas por determinados partidos. Há indicações e diversos outros tipos de favores que vão gerar esse circuito político”, explicou.
Fidelidade
Na análise do cientista político Carlos Santiago, Marcelo Ramos já sai em vantagem por ter conquistado o apoio de Silas Câmara, tendo em vista o voto dos eleitores evangélicos que congregam na Assembleia de Deus. Conforme Santiago, esse eleitorado seria mais ‘preciso’. “Os eleitores do Silas tendem a votar mais pelo o que o Silas representa, pelos interesses que ele defende. Essas instituições religiosas são verdadeiras máquinas eleitorais. Não é à toa que o João Luís se elegeu o vereador mais votado (com 13.978 e também do PRB, mesmo partido de Silas). A bancada evangélica aumenta. São máquinas muito bem azeitadas. Então, com o apoio do Silas, o candidato está um passo à frente no sentido de ter a maioria desses eleitores, que são motivados, são impulsionados a votar naqueles candidatos que as lideranças religiosas indicam”, afirmou Santiago.
O cientista político também traçou um perfil do provável voto dos eleitores de Serafim e de José Ricardo. “Eu acho que os eleitores do Serafim e do José Ricardo vão levar muito em consideração a capacidade de administrar a cidade. Como não existe essa questão mais ideológica, nesse sentindo o eleitor mais crítico está mais preocupado em saber quem tem capacidade para administrar a cidade”, disse. “Por exemplo, lá em São Paulo eles votaram num candidato que negava a política, mas se colocou capaz de gerir aquilo que os políticos tradicionais não faziam. Independente da coloração partidária, eles tendem a votar naquele candidato que se mostrar mais capaz de resolver os problemas da cidade que estão postos”, analisou.
Para Santiago, além de Arthur e Marcelo, os grandes vencedores também foram Silas Câmara, Serafim Corrêa e José Ricardo porque obtiveram votações muito expressivas no primeiro turno. “Juntos, eles somam 340 mil votos. É muito voto que está em jogo. Os outros dois sequer estão sendo articulados para apoio. Os eleitores do Serafim e do José Ricardo são mais autônomos e o voto vai se definindo à medida que o segundo turno vai se encaminhando. Agora, ter as figuras que foram candidatas ao seu lado reforça a sua campanha”, comentou.
No primeiro turno, Silas Câmara obteve 115.770 votos. José Ricardo, na primeira vez que concorreu à prefeitura, obteve 113.939. O ex-prefeito Serafim Corrêa fechou a campanha com 113.054 votos.