Francisco Loebens afirma que os indígenas deveriam responder o processo em liberdade porque não apresentam risco à investigação
MANAUS – O coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi, Amazonas e Roraima), Francisco Loebens, disse nesta segunda-feira que as prisões dos cinco índios da etnia Tenharim, feitas pela Polícia Federal no último dia 30, em Humaitá, são injustificadas. Na avaliação dele, a PF quis dar uma satisfação à família dos homens desaparecidos e efetuou as prisões sem qualquer embasamento legal.
“A impressão que a gente tem é que eles, pressionados pelas famílias dos desaparecidos, quiseram apresentar uma resposta. É estranho que a Polícia Federal não tenha divulgado qualquer informação sobre o teor das denúncias conta os índios”, disse. Em nota, a Polícia Federal informou, na semana passada, que “as prisões foram expedidas pela Justiça Federal do Estado do Amazonas em razão de possível envolvimento dos índios na morte de três pessoas que desapareceram ao atravessarem uma das aldeias localizadas na rodovia Transamazônica.”
Para Loebens, o procedimento legal era que os índios respondessem o processo em liberdade, mesmo que houvesse provas contas eles. “Não dá para imaginar que os índios teriam interesse em fugir ou que poderiam atrapalhar as investigações da polícia”, disse o coordenador do Cimi, afirmando que esses seriam motivos que justificavam a prisão preventiva. “A Polícia Federal não apresentou motivos para a prisão preventiva”, disse.
Nesta segunda-feria, o advogado da comunidade Tenharim, Ricardo Tavares, prometeu ingressar com habeas corpus pedindo a liberdade dos cinco presos.
Entenda o caso
No dia 3 de dezembro, o cacique da Ivan Tenharim foi encontrado agonizando na rodovia BR-230 (Transamazônica) e morreu. A morte, aparentemente, foi causada por ferimentos em um acidente de moto. Mas os indígenas chegaram a suspeitar de assassinato, porque havia insatisfação de moradores da cidade de Humaitá pela cobrança de pedágio que os indígenas faziam na rodovia.
No dia 16 de dezembro, três homens (o representante comercial Luciano Ferreira Freire, o professor Stef Pinheiro e o funcionário da Eletrobrás Aldeney Ribeiro Salvador) desapareceram quando trafegavam pela rodovia no trecho que corta a terra indígena Tenharim Marmelos.
Sem informações oficiais sobres os desaparecidos, moradores de Humaitá atearam fogo em 11 carros e na sede da Funai na cidade, no dia 25 de dezembro, e queimaram vários pontos de cobrança de pedágio usados pelos índios ao longo da Transamazônica.
Depois dos protestos, as autoridades se mobilizaram e a Polícia Federal passou a investigar o desaparecimento dos três homens. No dia 30, os policiais realizaram uma operação para prender cinco índios suspeitos de matar os desaparecidos e ocultar os corpos. Eles foram levados para um presídio de Porto Velho.