Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – O médico Mouhamad Moustafa, considerado pelo MPF (Ministério Público Federal) como líder de quadrilha que fraudava contratos da saúde pública no Amazonas, negou as acusações que pesam contra ele no processo gerado a partir da Operação Maus Caminhos, da Polícia Federal, CGU (Controladoria Geral da União) e MPF.
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Uma das acusações era de que ele era o dono de fato o INC (Instituto Novos Caminhos) e das empresas envolvidas no esquema fraudulento: a Salvare, a Total Saúde e a Simea. Ele disse que a única ligação com as empresas eram de negócios. Mouhamad afirmou que sempre teve dinheiro em caixa e sempre tentou resolver todos os problemas, por isso as empresas ligavam para ele e pediam dinheiro emprestado no momento de atrasos de pagamento para fecharem as folhas.
“Esse é o caso do Alexandre (empresário, não citou o sobrenome) que me acusou de pagar propina, acusou a Priscila de pegar dinheiro de propina. Nunca aconteceu isso, numa ninguém me pediu propina e nunca paguei propina para ninguém. Eles me ligavam e emprestavam dinheiro para fechar a folha de pessoal. Cheguei a empresar R$ 300 mil para o Alexandre, dinheiro em espécie, e ele sempre me devolveu tudo certinho. A participação da Priscila nessa situação, é que muitas das vezes ele devolvia para ela”, disse.
Enfermeira no comando
Moustafa disse que as acusações feitas pela enfermeira Jennifer Nayara Yochabel, ex-diretora do INC, contratado pela Susam (Secretaria de Estado da Saúde), têm o objetivo de livrá-la de qualquer acusação. Em depoimento na terça-feira, 14, Jennifer disse que Moustafa controlava o esquema, era dono de todas as empresas envolvidas na Operação Maus Caminhos e que a ameaçava, prometendo acusá-la de ter o controle das fraudes.
Mouhamad Moustafa afirmou que a ex-colega está sendo mal assessorada e que faz acusações “inverídicas”. Segundo o médico, a enfermeira já havia comentado para Priscila Marcolino Coutinho (cunhada e sócia de Mouhamad), dentro da prisão, que ela iria optar por deleção premiada. “Na conversa que ela teve com minha cunhada, disse que pagaria R$ 500 mil parcelado para a Justiça e teria a redução da pena em dois terços, além de abstenção de prisão por uma delação premiada. O problema é que ela inventou várias histórias, quero saber como ela vai provar todas essas acusações”, disse o médico.
Moustafa disse que a aproximação com a enfermeira começou em um trabalho dentro de uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em Manaus. Segundo ele, ao perceber o excelente trabalho da enfermeira ao assumir o comando do hospital, resolveu indicar Jennifer. “Nesse momento, minha empresa [Salvare] estava em amplo crescimento. Foi quando resolvi sair do comando do hospital e disse que chamaria Jennifer para trabalhar comigo quando surgisse uma vaga. Ela disse que iria aguardar o convite”, revelou.
O médico explicou que a empresa apresentava crescimento em ameados de 2011, quando convidou a enfermeira para trabalharem juntos. Mouhamad se contradisse em seguida. Após afirmar que a Salvare estava em crescimento no Amazonas, no final da audiência afirmou que já estava estabilizado como empresário antes de vir para Manaus.
Nega ser dono
Mouhamad negou ser dono das empresas Total Saúde e do INC. No depoimento de terça-feira, Jennifer Mayara disse que Mouhamad comprou o Instituto Novos Caminhos de um pastor evangélico de São Paulo e trouxe a entidade para Manaus. Nesta sexta-feira, ele ser proprietário apenas da Salvare e Simea, todas envolvidas no esquema de fraudes, segundo o MPF.
No depoimento, porém, o médico demonstrou ter total conhecimento sobre as rotinas administrativas e financeiras das empresas citadas. Ele afirmou, inclusive, que muitas vezes ia à Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda), Casa Civil, e Susam cobrar o pagamento das empresas.
“Eu ia cobrar os pagamentos da minha empresa, e como mantinha o contato direto com todos os empresários, cheguei a cobrar os vencimentos deles também. Isso servia para pressionar pelo pagamento, uma vez que eu prestava serviço para o INC. Então, se eles recebem, eu também receberia”, disse o médico, em resposta à indagação do procurador da República Alexandre Jabur, que questionou a ida do médico às repartições públicas. Conforme o médico, as empresas fazem uma romaria nas repartições públicas do Estado e o objetivo é sempre o mesmo: receber os pagamentos em atraso.
Sobre a proximidade com a empresa Total Saúde (também comandada por Jennifer), o médico informou que houve conversas com a enfermeira sobre a possibilidade de criação de uma empresa prestadora de serviço de enfermagem, mas a ex-colega tinha uma pequena empresa que não se enquadrava nas necessidades.
“Eu tinha uma empresa parada, a ‘Bogotá’. Transferi ela para a Jennifer, que ficou prestando serviço de enfermagem para mim. Depois de uns anos, a empresa dela foi crescendo e ela chegou a faturar R$ 5 milhões por mês, mas nunca perdi o contato com ela. Sempre conversamos, inclusive, foi ela quem contou de uma esquema fraudulento que aconteceu dentro da minha empresa [a Salvare]. O ‘Gilmar’ [citado como ex-funcionário da contabilidade], que trabalhava com serviço contabilista, estava desviando dinheiro da minha empresa, a Salvare. Um problema que passou despercebido pela Priscila e pela própria Jennifer, mas hoje desconfio que ela (Jennifer) pode ter participado desse esquema”, afirmou.
Proteção de policial
Ao ser questionado sobre andar com escolta policial, Mouhamad disse que contratou policiais que estavam fora de serviço para fazer sua segurança. Segundo ele, nunca quis contratar serviço especializado de uma empresa de segurança por não confiar no serviço. “Esses seguranças recebem pouco, diferente do que é pago para a empresa, e eu sempre mexia com muito dinheiro. Meu medo era de assalto, por isso contratei bico de policiais, inclusive cheguei a contratar o coronel Aroldo (da Silva Ribeiro), para chefiar esse processo de escolta”, disse.
Segundo o médico, foi preciso contratar uma pessoa com estatura superior e tivesse contanto com policiais de outros Estados para que viabilizasse de forma mais rápida a escolta quando tivesse em outras cidades.
Saque milionário
Sobre o saque e mais de R$ 40 milhões realizados por ‘Bruna’ e ‘Gilmar’ (fex-funcionários da Salvare), Mouhamad disse que o dinheiro era para pagar prestadores de serviços plantonistas que estavam atrasados. Segundo ele, com o atraso de pagamento por parte do governo do Estado, os funcionários ficaram sem receber e estavam faltando plantões. “Eles falavam que só iam ao trabalho se recebessem os pagamento em dinheiro, então, eu era obrigado a fazer isso para não paralisar os serviços. Usava o dinheiro, também, para pagar fornecedores e outros contratos”, disse.