EDITORIAL
MANAUS – No livro “O adiantado da hora, a influência americana sobre o jornalismo brasileiro”, o autor, o jornalista Carlos Eduardo Lins e Silva, diz que apesar dessa influência na formação dos jornalistas brasileiros e na estrutura dos principais jornais do país, o jornalismo dos Estados Unidos não moldou por completo a mídia em solo verde e amarelo. O jornalismo tupiniquim, na opinião de Lins e Silva, foi capaz de criar um produto específico e totalmente diferenciado.
O jornalismo dos Estados Unidos, no entanto, não deixou de influenciar o brasileiro, principalmente na cobertura dos temas nacionais e dos assuntos de governo. A mídia no Brasil segue com o presidente Jair Bolsonaro a mesma cartilha da mídia norte-americana da era Donald Trump, comparável a um bando de cães que ladram, mas não mordem.
Ocorre que lá, o(a)s jornalistas e as empresas de comunicação chegaram ao um limite e reagiram à altura, cegando a cortar uma transmissão ao vivo nas emissoras de TV e anunciar que o presidente da república estava mentindo aos seus telespectadores.
No Brasil, o(a)s jornalistas ainda não caíram na real e não enxergaram como o presidente da República usa a mídia para atingir seus objetivos. Como papagaios adestrados, os veículos de comunicação de maior circulação repetem diuturnamente as jactâncias de Jair Bolsonaro.
A mídia brasileira deveria há muito ter cortado as asas do presidente, quando ele resolveu isolar o(a)s jornalistas em um cercado nos arredores do Palácio do Planalto e a tratá-lo(a)s com desprezo e com o respeito merecido, menos por serem profissionais de jornalismo e mais por serem humano(a)s.
Naquele momento, ainda em 2019, o(a)s jornalistas deveriam ter dado um basta. A partir dali deveriam ter tratado o presidente da República como ele merece ser tratado, com a formalidade que o cargo exige. Assim, as bobagens arrotadas diariamente pelo mandatário brasileiro deveriam ser ignoradas.
A mídia deveria se ocupar dos assuntos relevantes, das decisões do presidente que impactam a economia, a sociedade. As opiniões relevantes deveriam ganhar destaque. As futricas, os insultos a terceiros, as picuinhas e os gracejos não são dignos de nota na mídia séria, mesmo que produzidas pelo presidente da República. Deveriam ficar limitadas às redes sociais de Bolsonaro e aos veículos bolsonaristas.
Bolsonaro sabe da importância da mídia profissional para a disseminação de suas “ideias”. Há um público no Brasil que consome qualquer bobagem que sai da boca do presidente. E a mídia profissional ajuda a levar a mensagem a elas, de forma gratuita.
Não há dúvidas de que a grande mídia tenta, de forma até obstinada, influenciar o eleitorado na escolha do próximo presidente, contra a reeleição de Bolsonaro. Em muitos casos erra a mão, exatamente ao tentar apresentar um Bolsonaro a partir dos atos e falas do presidente, mesmo que ele faça e diga coisas sem qualquer importância para a vida brasileira.
Como há uma legião de fanáticos que idolatram Bolsonaro e uma fatia considerável do eleitorado que não sabe que caminho seguir, falar bem ou falar mal do presidente acaba por frustrar esses objetivos da mídia.
Lembremos a ideia-frase do cineasta norte-americano Henry King (1886-1982): “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. É isso o que Bolsonaro quer; é isso que a mídia brasileira faz.
A imprensa brasileira está querendo voltar para uma ditaduras exclusiva onde ela mande. Triste ver isso.