MANAUS – O governador José Melo (Pros) aproveitou a leitura da Mensagem Governamental, na manhã desta segunda-feira, 1°, na Assembleia Legislativa do Estado para atacar o adversário Eduardo Braga (PMDB), candidato derrotado nas eleições de 2014 e autor da Ação de Investigação Judicial Eleitoral que resultou na cassação do mandato do governador e do vice-governador no TRE-AM (Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas), na semana passada. No fim da leitura da mensagem, Melo abiu um parêntese para discursar sobre o processo eleitoral e a cassação. No fim da fala do governador, ele disse que vai recorrer até a última instância porque está convicto de que os quase 900 mil eleitores que votaram nele em 2014 não venderam o voto.
Melo e seu vice Henrique Oliveira foram cassados por compra de voto e abuso do poder econômico e político, por usar dinheiro público pra “irrigar” a campanha à reeleição. O TRE-AM cassou o mandato dos dois por 5 votos a 1. Nesta semana, a defesa do governador promete ingressar com embargos de declaração na Justiça Eleitoral do Estado antes de o processo subir para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
No discurso, Melo enumerou uma série de episódios ocorridos em eleições passadas e que são atribuídos ao agora ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. Tratando o ministro apenas como “adversário”, Melo era aplaudido a cada frase proferida. A plateia era formada por secretários e servidores de segundo e terceiro escalões do governo, e também tinha a seu favor uma galeria lotada de apoiadores. Em dado momento, Melo foi aplaudido e o público passou a gritar o nome dele, que advertiu os presentes: “Vocês vão matar o velho”.
Durante a leitura da mensagem, o governador mostrou tranquilidade e brincou com o público, como sempre faz nos discursos desde que assumiu o governo. Melo fez uma longa leitura dos feitos do governo em 2015 e das propostas para 2016, com cerca de duas horas de duração.
Leia a íntegra da fala do governador sobre a eleição e o processo de cassação:
“Ganhamos uma eleição com apresentação de propostas. Tomamos essa decisão. Decisão de submeter ao povo propostas. Não nos arredamos disso aí. Falamos do Banco do Povo, do Pronto Especialista, do Todos Pela Vida, do Plano Safra, da educação com qualidade. Foi assim que perdi 9 quilos, andando nas ruas de Manaus, nos aviões, nos motores rabeta, subindo e descendo barrancos. E o povo do Amazonas entendeu a lógica da nossa campanha. Foi assim que nós nos postamos. Nunca fiz armação para ganhar uma eleição. Em todas, tomei a decisão de apresentar propostas. Nunca perdi uma eleição no Amazonas, nunca. Porque, como professor, nunca me arredei daquilo que eu acredito, que eram as propostas. Ganhamos a eleição para governador com mais de 173 mil votos de diferença. Nós tivemos 869.992 [votos] e o nosso adversário, 696.465, 55,54% dos votos; 11,08% foi a diferença que nós tivemos para com o nosso adversário. Como eu disse, eu nunca usei de artimanhas para ganhar eleição. Prestem bem atenção. Por exemplo: eu nunca usei, mesmo quando estava com a força, nunca usei da minha força para fechar nenhum órgão de imprensa; nunca pedi fechamento de nenhum jornal. Nunca apresentei um caso Pedro, Chico ou Renata da vida; nunca fiz isso para ganhar uma eleição. Nunca, nunca, nunca, nunca simulei sequestro de ninguém, nunca fiz isso. Nunca mandei ninguém jogar ovo em um candidato meu para simular uma agressão, nunca fiz isso. Nunca, em toda a minha vida, agredi um adolescente de 16 anos, nunca fiz isso. Nunca levantei a minha mão para agredir um deficiente físico, nunca fiz isso, cujo pecado foi o de querer tirar uma foto, nunca fiz isso, ao contrário, eu e minha mulher sempre tivemos uma dedicação enorme nesse campo sem nunca termos saído em nenhum meio de comunicação porque é assim que sempre quisemos que fosse. Também não fui ao Careiro Castanho mandar os meus seguranças agredir a um homem do povo do Careiro Castanho que estava exercendo o seu direito de reclamar, nunca fiz isso [governador é interrompido por muitos aplausos e gritos de Melo! Melo! Melo!]. Também, também, também (vocês vão matar o velho). Também, também nunca joguei lama em um candidato meu a prefeito para inviabilizá-lo, nunca fiz isso. Nunca apresentei dossiê, nunca publiquei coisas que denegrisse a imagem de qualquer candidato meu, eu nunca fiz isso. Também, em todas as minhas eleições, nenhum carro, nenhuma Kombi que estava a serviço da minha eleição foi sair por aí fazendo arrastão, simulando assaltos para demonstrar para a população que havia insegurança na cidade de Manaus, nunca fiz isso. Nunca me utilizei dessas coisas. Sempre fui limpo e reto nas minhas eleições. Nunca joguei sujo, nunca fiz isso. Porque, se para ganhar uma eleição eu tivesse que jogar sujo, quando eu dobro o meu joelho todo dia, eu pedia a Deus que não fizesse com que eu ganhasse essa eleição. Não mudei, sou o mesmo, respeito a Justiça da minha terra, respeito o Tribunal Eleitoral do Amazonas; decisão judicial você cumpre ou vai ao ordenamento jurídico brasileiro, que é piramidal, e exerce o sagrado direito de defesa até a última instância. Portanto, eu vou fazer isso, porque eu, nas minha convicções, sei que tenho que fazer isso até o fim, porque é impossível acreditar que quase 900 mil pessoas do meu Estado querido que me deu berço e que eu amo tenham vendido o seu voto.”