Por Rosiene Carvalho, da Redação
MANAUS – O deputado estadual e pré-candidato ao Governo do Amazonas pelo PT José Ricardo articula com a executiva nacional do partido a participação em atos de campanha em Manaus e no interior do Estado dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff nesta eleição suplementar. A votação em primeiro turno está marcada para o dia 6 de agosto.
A estratégia é usar a popularidade, sobretudo de Lula, no interior em favor de José Ricardo, pouco conhecido fora de Manaus. José Ricardo, em 2016, terminou a disputa pela Prefeitura de Manaus com 113.939 votos e com maior visibilidade que conseguiu nas disputas pelos cargos legislativos. Mesmo nas eleições para deputado estadual, em que votam eleitores de Manaus e do interior, a maior parte dos votos de José Ricardo é da capital.
Em Manaus, as pesquisas mais recentes mostram José Ricardo com um dos menores índices de rejeição. Lula, nas pesquisas para 2018, no Amazonas, é o pré-candidato com maior intenção de votos, mas também o que tem maior rejeição.
“A direção nacional já sinalizou o apoio (à candidatura). Já falei com ele (Lula). Na segunda-feira passada, conversei com o Lula, Dilma, com a candidata à presidente do PT Gleisi Hoffmann, com deputados federais, governadores. Ficaram de vir depois a Manaus, mas a confirmação da agenda só depois do Congresso Nacional”, disse José Ricardo ao ATUAL.
Neste final de semana, entre 1 e 3 de junho, o Partido dos Trabalhadores realiza o 6º Congresso Nacional do PT “Marisa Letícia Lula da Silva”, em que uma das pautas é a escolha do futuro presidente do partido. José Ricardo vai participar do congresso.
O PT se reorganiza internamente com a perspectiva de reação ao atual contexto político do País e do próprio partido que sofreu a perda do poder e o abalo de sua imagem em função de denúncias de corrupção da Lava Jato. Estas questões são avaliadas tendo em vista as Eleições de 2018 e até mesmo a possibilidade de uma eleição direta ou indireta antes de outubro do ano que vem.
Lula, pré-candidato à Presidência em 2018, tem aproveitado bem as chances de aparição pública. Foi assim na “inauguração popular” da transposição do rio São Francisco, no nordeste, em março deste ano, e até mesmo em seu depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, há cerca de um mês. E o Amazonas é um estado simbólico nas vitórias do PT à presidência da República por dar ao partido as maiores votações proporcionais.
José Ricardo pode usar a popularidade de Lula no interior para se inserir no eleitorado dos municípios que não o conhecem. E o espaço criado para aparições também pode ser de interesse de Lula que tem usado estes momentos para projetar o seu nome e a força popular que ainda tem o partido, apesar dos revezes dos dois últimos anos.
O pré-candidato do PT no Amazonas admite que a presença de Lula em sua campanha seria positiva. “Lula tem grande aceitação, principalmente no interior. É lembrado por tudo mundo”, disse.
José Ricardo também tem clara consciência das dificuldades da campanha no interior do Estado em função dos guetos eleitorais formado pelos prefeitos e ex-prefeitos, figuras que estão no auge da disputa entre os pré-candidatos neste pleito suplementar. Basta uma passagem rápida nas redes sociais oficiais dos pré-candidatos com base política nos municípios para se encontrar fotos com lideranças do interior em abundância.
“Estamos nessa expectativa. As pesquisas mostram possibilidade de grande crescimento pela aceitação e por termos uma das menores rejeições. Realmente o maior desafio é o interior. A internet não funciona. Há dificuldades em chegar o sinal da televisão e tem ainda a influência dos prefeitos, que acabam se transformando em coronéis. Temos que superar tudo isso”, afirmou.
Para José Ricardo, sua candidatura está confirmada e é questão fechada tanto na executiva estadual quanto na nacional do partido. Ao ser questionado se a candidatura dele, para o PT, era irrevogável, José Ricardo respondeu: “A decisão é do Congresso (Estadual), que é a instância maior do partido. A direção nacional já sinalizou o apoio também”, disse.
Bastidores
José Ricardo foi a Brasília na segunda-feira, 22, passada a convite do presidente do PT, Rui Falcão, que deve deixar o comando do partido no dia 3 de junho, quando será eleito o novo ou a nova presidente da sigla. Rui queria saber qual o contexto da eleição local e se a candidatura de José Ricardo “era para valer”. Ao receber as respostas do pré-candidato “garantiu” o apoio da sigla.
No mesmo dia, havia várias reuniões na sede do partido em Brasília e José Ricardo também encontrou com Lula e Dilma. De Lula, ouviu a mesma pergunta feita por Rui Falcão: “É para valer mesmo? Então, conte com o meu apoio”, disse Lula na ocasião.
Nesta ida de José Ricardo, ficou combinado também a vinda da senadora Gleisi Hoffmann ao Amazonas para participar de uma espécie de seminário para ajudar a construir o plano de governo.
Pessoas que apoiaram a campanha de José Ricardo em 2016 temem que a presença de Lula atraia peso negativo para a imagem do pré-candidato.
Cientista político avalia chance de segundo turno
O analista político e presidente do Instituto Action Pesquisa de Mercado, Afrânio Soares, avalia que o nome de José Ricardo (PT), na possibilidade de vir impulsionado também pelo apoio do ex-presidente Lula na necessidade da sigla de reação para 2018, pode ter chance de ir para o segundo turno.
“Tem uma ligação. O Lula tem aqui perto de 30%. Pode participar no sentido de tentar jogar o José Ricardo para o segundo turno. Porque também tem o outro lado, o Lula tem a maior intenção, mas também a maior rejeição. Se ele conseguisse transferir 10% a mais do que o José Ricardo tem, José Ricardo está pleiteando um segundo turno. Principalmente se vier do interior, onde José Ricardo tem menos votos “, disse.
Afrânio afirma que o palanque de José Ricardo também seria bom para Lula enfrentar as questões políticas que atingem o nome dele e o do PT e que vão estar na balança eleitoral de 2018. “Evidentemente que tem uma corrente que está convencida que Lula é culpado e nada que ele vá falar, vai convencê-los. Mais em Manaus e menos no interior. Existe também no interior, mas é bem mais forte em Manaus. Lula como tem menos resistência no interior poderia trazer mais votos”
O analista vê limitações no crescimento dos votos ideológicos de esquerda. “O problema do voto da esquerda é que tem cunho ideológico. O cunho ideológico, ao mesmo tempo que é a qualidade do voto, vamos dizer assim, é a limitação. Porque não tem um número muito grande de pessoas com essa ideologia. A esquerda não se une a favor. Os partidos de esquerda, PSOL PSTU, não se unem em torno de um nome só”, disse.