Por Cinthia Guimarães, especial para o Amazonas Atual
MANAUS – Devido a atraso nos salários, falta de pessoal, falta de material hospitalar básico e equipamentos para exames danificados, profissionais da saúde organizaram na manhã esta quinta-feira, 7, uma manifestação em frente ao Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, no São José, Zona Leste de Manaus, cobrando providências urgentes do governador José Melo e pedindo mais repasses financeiros à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam).
A situação é tão crítica, segundo o Simeam (Sindicato dos Médicos do Amazonas), que há dias que faltam medicamentos, bem como materiais básicos para fazer curativos e para realizar exames, informou a dra. Patrícia Sicchar, secretária-geral do Simeam, que estava à frente da manifestação.
“A saúde pede socorro! Acabamos de fazer uma visita in loco (no PS João Lúcio). O tomógrafo ainda não foi consertado, falta material ortopédico, tem paciente há uma semana esperando para ser operado da perna, do braço, porque não tem material cirúrgico; faltam antibióticos, alguns medicamentos. Então esta situação precisa ser restabelecida. Já fomos uma das melhores urgências e emergências do país. E hoje se você se acidentar e quebrar sua perninha, reze, porque só vão abrir e limpar sua ferida. Não tem material para fixar seu osso, não”, disse a médica.
As cooperativas médicas que operam com profissionais no serviço de urgência e emergência em todas as unidades de saúde do Amazonas estão sem receber o pagamento do Estado desde outubro, segundo o sindicato. Entre elas estão cooperativas de cirurgiões, pediatras, obstetras, clínicos, anestesistas.
“Pedimos melhores condições de trabalho para todos os profissionais médicos e a quitação do que o governador nos deve, que hoje, 7 de janeiro, recebemos 50% referente ao que trabalhamos em outubro. E o restante?”, questionou a médica Patrícia Sicchar.
O aposentado José de Almeida da Silva, 79 anos, teve um grave trauma ao cair de um triciclo em Maués, onde mora, e permanece na UTI do João Lúcio desde o dia 27 de dezembro à espera de um raio X, depois de espera 10 dias por uma vaga para o exame de tomografia. O caso foi relatado por Eudes Santos de Oliveira, mecânico de 32 anos, enteado de José.
“Precisamos de um raio X. A tomografia foi batida ontem, estamos desde o dia 27 esperando. O que o senhor governador está fazendo que não está olhando pela saúde pública?”, disse Eudes, indignado com o descaso.
Atualmente, apenas o tomógrafo do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto está funcionando, enquanto os aparelhos das unidades HPS João Lúcio, Pronto Socorro Platão Araújo e Hospital Tropical estão danificados.
Outro grupo de aprovados no concurso da Susam engrossou o coro dos manifestantes, pedindo nomeação nas vagas dos profissionais terceirizados. A Susam deve chamar os aprovados no concurso de 2005, segundo decisão judicial, e também os aprovados do concurso de 2014.
Hoje às 15h o MPF (Ministério Público Federal) vai ser reunir com o secretário da Susam, Evandro Melo, para negociar medidas imediatas para conter o caos na saúde pública do Estado.
Susam nega crise
A Susam contestou por meio de nota, no início desta semana, o caos na saúde pública, apesar das dificuldades financeiras impostas pela crise econômica brasileira que afeta a arrecadação dos estados. Segundo a Susam, a Saúde teve um reforço de R$ 540 milhões no orçamento, que inicialmente estava previsto em R$ 2,1 bilhões e que do total investido, 78,49% são recursos do Estado e apenas 21,51% são provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
A secretaria afirma que foram destinados 23,27% do orçamento de 2015 para a saúde pública e ainda que tem mantido os investimentos na aquisição de insumos e materiais para a rede de saúde e o pagamento de salários dos servidores.
“Devido à crise econômica, houve atraso do repasse do Governo para as empresas que contratam profissionais que atuam na rede de urgência e emergência. O pagamento já está sendo regularizado”, disse a Susam em nota.