Da Redação
MANAUS – Depois de liderar a paralisação de 1,4 mil ônibus que deixaram mais de 800 mil pessoas sem transporte, afrontar a Justiça ao desobedecer duas ordens judiciais, ter a prisão decretada e horas depois revogada, nesta terça-feira, 17, a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Passageiros de Manaus se contentou com o compromisso assumido pelo prefeito Arthur Neto (PSDB) de negociar com o Sinetram (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Amazonas) o pagamento de 8% de reajuste salarial e adicional de insalubridade reivindicado pela categoria.
Com a promessa da intermediação de um acordo, o sindicato se comprometeu a avisar motoristas e cobradores a retornarem ao trabalho nesta quarta-feira, 18. O desfecho da greve deflagrada pelos rodoviários foi anunciado pelo próprio prefeito na noite desta terça, em sua página no Facebook, depois de mais de quatro horas de reunião com representantes dos empresários e dos trabalhadores. Estes foram representados pelo vereador Jaildo Oliveira, irmão do presidente do sindicato dos trabalhadores Givanci Oliveira e do vice, Josildo Oliveira.
Inicialmente relutantes em conversar, os sindicalistas aceitaram a solução proposta pelo prefeito. “Estamos abrindo uma rodada de negociações. O próximo passo será reunirmos os trabalhadores e patrões para vermos exatamente quais são os pontos de convergência para depois chegarmos nas divergências, mas em primeiro lugar estão os interesses de Manaus e do seu povo”, disse Arthur, ao anunciar que o vice-prefeito, Marcos Rotta (PMDB) será o intermediador na negociação.
Arthur disse que, por enquanto, não há nenhuma decisão sobre reajuste da tarifa, mas que “nenhuma capital do País mantém a tarifa congelada desde 2014”. “Havia um compromisso do Governo do Estado de repassar parte do subsídio e que não foi cumprido. Agora, temos que buscar uma forma de aumentar o valor desse subsídio dentro do que é possível em relação ao nosso tesouro municipal”, disse o prefeito, sinalizando com maior repasse de dinheiro às empresas. Hoje, a Prefeitura paga R$ 1,3 milhão por mês para manter o valor da passagem de ônibus em R$ 3.
Jaildo dos Rodoviários, como o vereador é conhecido, deu o tom político à reunião desta terça e também se deu por satisfeito com o desfecho. “Trouxemos uma demanda dos trabalhadores, reivindicada há oito meses, um aumento que é de direito. Foi uma conversa muito boa e o prefeito nos recebeu muito bem. Os ônibus, amanhã (nesta quarta), estarão rodando normalmente”, disse o vereador.
A paralisação desta terça-feira desobedeceu decisão da última segunda-feira, 16, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que a pedido da Procuradoria Geral do Município (PGM), determinou que fosse mantida a circulação de 100% da frota de ônibus da capital, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. Os trabalhadores ignoraram a Justiça e cruzaram os braços. Nenhum dos 1.360 veículos do Sistema de Transporte Coletivo saiu das garagens.
Em uma nova decisão liminar emitida na manhã desta terça, desta vez a pedido do Sinetram, o TRT determinou que 100% da frota dos ônibus de Manaus voltasse a circular imediatamente. A multa também foi majorada para R$ 50 mil por cada hora de paralisação, a contar do recebimento da notificação.
O órgão trabalhista declarou ainda a prisão de toda a diretoria do Sindicato dos Rodoviários, como resposta à solicitação encabeçada pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE), juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Procon Amazonas, pela desobediência à decisão judicial expedida na segunda-feira, 16.
Mesmo sem ter sua ordem obedecida nenhuma vez, o juiz Adilson Maciel Dantas revogou suas decisões.