A tarifa de ônibus de R$ 3,60, anunciada pelo sindicato das empresas de ônibus de Manaus, o Sinetram, é puro jogo de cena. Como fazem todas as vezes que querem aumentar a tarifa, esses empresários apresentam um preço acima da realidade para deixar o gestor público de bem com a população depois da tarifa. Já foi assim no primeiro aumento concedido pelo prefeito Arthur Virgílio Neto e será assim novamente, no segundo reajuste, que se avizinha.
Quem não lembra que em 2013 os empresários queriam elevar a tarifa de R$ 2,75 para R$ 3,50? Naquele mês de março, Arthur chamou a proposta de reajuste dos empresários de piada e concedeu aumento bem menor, elevando a tarifa para R$ 3,00. O staff da comunicação da prefeitura combinada com os meios de comunicação parceiros trataram o reajuste como um ato de coragem de Arthur, que negou o pedido dos empresários. Um jornal de Manaus estampou: “Reajuste concedido por Arthur frustra empresários de ônibus”.
Agora, os empresários tentam a mesma estratégia. Depois do reajuste de 7% nos salários trabalhadores do setor, concedido por decisão do Tribunal Regional do Trabalho, o Sinetram anuncia que a tarifa precisa ser elevada para R$ 3,60 para que as empresas suportem o impacto do aumento de salários e de outros benefícios conquistados pelos trabalhadores.
Arthur vai entrar em cena, de novo, para “apagar o incêndio” e “frustrar” os empresários. O preço da tarifa deve voltar a R$ 3,00. Esse valor deve ficar abaixo do que será apontado pela Superintendência Municipal de Transportes Urbanos (SMTU), na planilha de custos que costuma apresentar como balizadora do reajuste da tarifa de ônibus. Uns centavos a mais poderão ser cortados por Arthur para tornar o ato do prefeito ainda mais digno de aplausos.
Publicamente, em 2013, Arthur tratou de afastar qualquer suspeita de que o valor sugerido pelo Sinetram pudesse ser combinado com a gestão municipal. “É uma piada pra gente rir! Aí tem em duas possibilidades: ‘combinação’ entre prefeitura e empresários para eles darem um preço alto e eu dar um menor. Passar por herói provinciano. Não é meu caso. Não sou herói nem provinciano. É um despautério completo! Não existe nenhuma planilha. É um completo despautério!”
Não julgo se Arthur falava a verdade ou não. Mas o jogo de cena patrocinado pelo Sinetram serve, sim, para pulverizar na população a sensação de que o reajuste nem foi tão alto assim ou de que ele realmente era necessário. E quem ganha com isso? O prefeito, claro.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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