Nesta quarta-feira, 9, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, fez ecoar um grito de revolta contra a classe política local e nacional, mas principalmente contra a local, por permitirem a aprovação no Congresso Nacional e a sanção pelo presidente Michel Temer de lei complementar que representa a maior ameaça para a Zona Franca e Manaus após a prorrogação do modelo por mais 50 anos.
Mas uma frase de Périco ficou a martelar a cabeça de quem assistiu à entrevista publicada em vídeo no ATUAL e principalmente dos associados do Cieam, empresários da indústria, no evento em que o presidente foi muito mais enfático: “Esses políticos que estão aí não me representam!”. Quem em sã consciência e sem a paixão por ter um cargo indicado por eles pode dizer que os representantes do Amazonas os representa?
A ridícula votação que livrou o denunciado Michel Temer de investigação no Supremo Tribunal Federal, realizada na Câmara dos Deputados, serviu apenas para mostrar o grau de descompromisso dos políticos com o eleitorado. Os votos favoráveis a Temer foram dados à base das negociações realizadas nos esgotos dos palácios de Brasília (a nossa herança monárquica ainda nos obriga chamar o espaço de comando do Executivo de Palácio).
Se fossem negociações para beneficiar os Estados, mesmo que para render votos aos parlamentares vendidos, ainda se tinha um alento. Mas no caso do Amazonas, o que houve foi exatamente o contrário. Depois de receber seis votos (de Pauderney Avelino, Arthur Bisneto, Átila Lins, Silas Câmara, Alfredo Nascimento e Sabino Castelo Branco) do Amazonas, Michel Temer presenteia os amazonenses com a sanção de uma lei que vai reduzir ainda mais a quantidade e a qualidade dos empregos no Polo Industrial de Manaus, onde mais se emprega no Estado.
A referida lei foi aprovada no Congresso Nacional sem o envolvimento dos parlamentares. Alguns discursos isolados foram ouvidos, mas nada comparado à votação da Emenda à Constituição que prorrogou os incentivos da Zona Franca de Manaus. Naquele momento, os políticos do Amazonas tinham a convicção de que a matéria seria aprovada e queriam estar ali para aparecer na foto.
Agora, quando o governo de Michel Temer e seus aliados trataram de cortar o direito adquirido na Emenda dos 50 anos de prorrogação, não se viu qualquer movimento articulado para tentar barrar a ilegalidade que se tornou legal. Esses mesmos políticos vão tentar achar os culpados para apontar o dedo, porque no próximo ano, dez dos 11 parlamentares do Estado precisarão passar pelo crivo do eleitor para se manter em Brasília. Eles apostam na amnésia coletiva para voltar às ruas e às casas para pedir voto. Eles querem continuar a ser representantes do povo.