MANAUS – A população carcerária do Brasil chegou, em 2016, a 726 mil presos. Considerando que a criminalidade está nas ruas, em cada canto das cidades brasileiras, suspeita-se que possa existir pelo menos 2 milhões de bandidos presos e soltos nas ruas. A prevalecer a tese de Jair Bolsonaro de que a polícia teve ter “carta branca para matar bandido”, quantos deverão ser exterminados para que o país se veja livre da criminalidade ou a reduza a patamares dos países desenvolvidos economicamente?
A tese de Bolsonaro jamais deverá se tornar realidade. Talvez não passe de uma fantasia que ele sabe que jamais vai realizar. Instruído e conhecedor das leis, é possível que o candidato a presidente da República use tal retórica apenas por imaginar que é mais fácil convencer o eleitorado falando o que eles gostariam de ouvir do que tratando o tema com seriedade.
O Brasil tem a polícia que mais mata e que mais morre no mundo. É o que diz o 10° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no final do ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Dados de 2015 mostram que naquele ano a polícia matou 3.320 pessoas enquanto 350 policiais morreram assassinados.
Nenhum país rico ou pobre elegeu a violência policial para combater a violência nas ruas. Nenhum tratado internacional aceita a matança como método para combater a criminalidade. Mas o velho adágio “bandido bom é bandido morto” nunca perdeu espaço na mente do brasileiro. E ouvir de um candidato com chances de vitória que o Brasil poderá adotar essa “sentença moral” como política de segurança pública causa frisson.
Essa é só uma das apostas de Bolsonaro para aumentar sua legião de seguidores. Outras teses semelhantes, como o resgate da família tradicional – como se isso fosse dependesse da vontade de um governante –, o fim da cultura e tradição dos povos indígenas, com a redução de suas terras, entre outras, ganham cada vez mais força numa sociedade que vive num atraso cultural e pobreza intelectual.
Bolsonaro joga bem o jogo até aqui. É pouco confrontado por adversário, tem pouquíssima atenção dos grandes veículos de comunicação de massa, mas tem uma coisa que os outros pré-candidatos a presidente da República não têm: uma militância voluntária e animada. E isso tem feito toda a diferença nos propósitos do ex-militar defensor do regime de exceção de 1964 a 1985 sob o comando dos militares.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.