O que aconteceu no Paraná há uma semana atrás chocou todo o Brasil. Ver professores sendo espancados por policiais militares, sangrando, pedindo socorro no meio da rua em meio a fumaça das bombas de gás lacrimogênio e disparos de balas de borracha, foi a prova mais cabal do desprestígio, e porque não dizer desdém, que esta profissão sofre no Brasil.
Mas nem sempre foi assim, professores já foram olhados com maior importância na sociedade brasileira, mas nas últimas três décadas houve o que chamo de “sabotagem” dessa profissão, pois um conjunto de fatores adversos foram produzidos para fazer a docência dar errado no Brasil, e junto com seu insucesso veio também o fracasso da educação brasileira.
Péssima estrutura das escolas, falhas na formação inicial, falta de formação continuada, indisciplina dos alunos, falta de apoio das famílias e ausência de um plano de carreira, são alguns dos fatores que fazem da profissão de professor uma das mais desmotivantes de nosso país. E olhe que nem coloquei nesta lista a principal bandeira de luta da categoria: os baixos salários.
Uma pesquisa realizada pelo professor Marcelino Rezende Pinto, da USP, que cruzou os dados do número de professores formados em duas décadas e o número de vagas ofertadas no magistério ao longo desses anos, concluiu que o país formou sim um número suficiente de professores para atender sua demanda, com exceção da disciplina de Física. Contudo, dados da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) dão conta que da educação infantil até o ensino médio há uma carência de aproximadamente 300 mil profissionais. O próprio Ministério da Educação (MEC) já reconheceu que só nas disciplinas de Matemática, Física e Química há hoje um déficit de 170 mil professores.
Mas se as universidades formaram um número suficiente de profissionais, então onde estão essas pessoas, que não nas salas de aula? A resposta apesar de simples é trágica, desistiram da carreira do magistério. Optaram por cargos a nível médio, fizeram outro curso superior ou até mesmo foram para o mercado informal. Qualquer coisa, menos a sala de aula. E aí está o resultado da tal sabotagem a qual me referi anteriormente.
O governo veio ao longo das últimas décadas criando condições totalmente desfavoráveis para o pleno exercício desta profissão. Do mais simples ao mais complexo, tudo foi negligenciado. A educação sempre pôde esperar, e ainda espera. É essa sabotagem velada, lenta, cotidiana, mas destruidora como um câncer, que nossos metres sofrem dia-a-dia quando nem água tem para molhar a garganta entre uma aula e outra.
Por outro lado, as famílias ao encararem a escola como um lugar onde se deixa os filhos enquanto se vai trabalhar, prestam um enorme desserviço à educação desses jovens. Nas reuniões de pais é quase sempre a mesma coisa, poucos comparecem. O motivo? Sempre o mesmo, a falta de tempo. Recordo-me o que certa vez uma mãe me disse pelo telefone quando pedi pela sexta vez que ela comparecesse à escola para falarmos sobre as dificuldades que sua filha estava tendo em Redação: “Não sou professora, nem redação eu sei fazer, deem o jeito de vocês aí. E outra coisa, ela tem que passar”, e bateu o telefone.
As recomendações do professor de redação iria dar para essa mãe, eram simples: verificar se a aluna estava tentando produzir os textos em casa e motivá-la a leitura de revistas e livros, de preferência com a mãe lendo também para debater com a filha. Uma estratégia para motivá-la. O professor queria também explicar os critérios que ele usava na correção das redações para que a mãe pudesse ficar atenta se a filha estava seguindo as recomendações. Havia tudo para dar certo, contudo, mais uma vez fomos sabotados. A aluna acabou passando, mas não me arrisco a dizer se aprendeu a redigir.
Como se pode ver muitas são as forças que concorrem para que nossa “pátria educadora” tenha cada vez menos mestres. E pior, cada vez menos respeito por eles. Contudo, ainda há quem numa visão míope das coisas tente colocar toda a culpa nos ombros dos professores. Para essas pessoas deixo uma informação interessante que considero a mais evidente das sabotagens, porque expressa em números o descaso com essa profissão. Segundo a consultoria internacional Gems Education Solutions, usando dados dos mais de 30 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e alguns emergentes (como é o nosso caso), o valor do salário pago pelo Brasil aos seus professores da educação básica é o terceiro pior, ficando à frente apenas de Hungria e Indonésia. Os maiores salários são da Suíça e Holanda, com médias mensais de R$ 17.420,00 e R$ 14.640,00, respectivamente. No Brasil esta média fica em R$ 3.740,00.