Não é difícil de se entender porque presos ou organizações criminosas dominam as cadeias no Brasil. Durante a entrevista coletiva das autoridades do Estado, incluindo o governador José Melo, com a presença do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, tentou-se convencer a opinião pública de que problemas como a matança de presos ocorrida no dia 1° de janeiro em Manaus ocorrem em qualquer lugar do mundo, o que não é verdade.
O Brasil há muito começou a relaxar o encarceramento de presos – ou por falta de recursos ou por que as autoridades decidiram minimizar o problema. Lembro-me de uma visita há cerca de dez anos ao município de Coari, onde alguns presos tinham a chave da cela. Depois, começou-se a permitir o comércio nos presídios, de um preso, que passou a ganhar poder; depois de um agente penitenciário, que viu ali uma oportunidade de aumento da renda.
Com o aumento das prisões de traficantes de drogas, esse comércio se fortalece, extrapola a mera troca de mercadorias por dinheiro e passa a criar um poder paralelo dentro dos presídios. Como o dinheiro do tráfico é farto, criou-se uma verdadeira rede para alimentar esse comércio dentro e fora das cadeias.
Não se faz isso sem um aparato forte. Não é novidade para ninguém que há policiais civis e militares envolvidos com o tráfico e dando proteção aos bandidos mais perigosos. Investigações da Polícia Federal confirmaram o que há muito se comentava nos corredores do poder: o envolvimento de juízes e desembargadores, dando suporte a essa rede. Não se dá suporte ao tráfico nem a crime algum se não for em troca de muito dinheiro.
Portanto, o que está por trás do tráfico e da violência do tráfico é um Estado corrupto. Curioso é que a inteligência das secretarias de segurança não conseguem detectar os integrantes dessas redes que se fortalecem a cada dia, se armam muito melhor do que as forças de segurança e começam a ditar as regras não apenas dentro dos presídios, mas fora deles.
No Amazonas, há um agravante: o Estado entregou o comando das cadeias a uma empresa que sangra anualmente milhões de reais do contribuinte e que é responsável pela entrada de tudo o que é proibido nos presídios. Sem força para agir contra o crime organizado cada vez mais forte, os funcionários dessas empresas atuam como serviçais dos bandos que ditam as regras nos presídios.
E as autoridades fingem que nada está acontecendo de grave. A solução apresentada pelo ministro Alexandre de Moraes e aplaudida pelo governador José Melo é a liberação de mais dinheiro para construir novos presídios, para comprar escâneres e para instalar bloqueadores de sinal de telefonia celular. O cerne do problema não interessa atacar.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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