Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – A prisão do ex-governador do Amazonas, José Melo (Pros), e de cinco ex-secretários poderá afetar políticos ligados ao mesmo grupo que foi vitorioso nas eleições de 2014, afirmam analistas políticos. O efeito tende a ser a desconfiança e a rejeição de políticos ligados ao ex-governador. Os analistas ponderam, entretanto, que a exemplo do que ocorreu na eleição municipal de 2016 quando aliados mantiveram distância do ex-governador, possíveis candidatos nas eleições deste ano tentarão dissociar sua imagem da de Melo. Já a oposição usará o caso como munição eleitoral.
O cientista político Elso do Carmo diz que o impacto da prisão de José Melo afetará tanto aliados e ex-aliados quanto a oposição. Carmo diz que deve-se levar em consideração o fato de os suspeitos ainda não terem sido julgados. “É importante não atropelar esse processo que faz parte de um estado democrático de direito. Eles têm direito de serem julgados, e se comprovado a culpa, que sejam condenados, Então, eu acredito que vai impactar principalmente o partido do ex-governador”, disse.
Elso do Carmo avalia que parte do eleitorado sempre leva em consideração para a próxima eleição os fatos que envolvem corrupção. Ele cita, porém, o caso de Paulo Maluff que foi acusado durante anos de desvio e falcatruas e sempre conseguiu se reeleger. “Sabemos, também, de pessoas aqui do Amazonas que são suspeitas, mas sempre são eleitas e reeleitas. Parte do eleitorado é criterioso, mas em sua grande maioria continua votando por favores e tradição”, disse.
O cientista político comentou que os fatos envolvendo o ex-governador do Amazonas poderão afetar políticos próximos a ele. Citando a eleição de 2016, Carmo afirma que ninguém vai querer se associar ao ex-governador. “Na eleição de 2016, o ex-governador estava com uma popularidade tão baixa que ninguém quis tocar no nome dele, muito menos ter o apoio dele. Por isso, acredito que os candidatos do Pros vão sofrer muito mais. Os demais, vão dizer que nunca estiveram com ele”, disse.
Lição política
Para o sociólogo e cientista político Carlos Santiago, a prisão de José Melo e de sua mulher, a ex-primeira-dama, Edilene Gomes de Oliveira, além dos ex-secretários, está dentro de um contexto segundo o qual as instituições de fiscalização estão funcionando. “Podemos dizer que a prisão e a investigação das autoridades presas são influência da operação ‘Lava Jato’, que tem demostrado que pessoas poderosas poderão ir para a cadeia. O impacto de tudo isso é pedagógica, ou seja, que pessoas poderosas são iguais perante a lei”, disse.
Carlos Santiago considera que o eleitor tem, a partir dessas operações, rejeitado partidos e políticos envolvidos em corrupção. Le cita como exemplo a colocação do PT nas eleições municipais de 2016, quando o partido perdeu muitas prefeituras.
Além da ‘Maus Caminhos’, Santiago cita outras operações que vêm influenciando o processo eleitoral no Amazonas como a própria ‘Lava Jato’ que investiga, inclusive, políticos do Estado. Conforme Santiago, a desconfiança do eleitor, caso se acentue, pode tornar inviável a candidatura de muitos candidatos. “Tudo que está acontecendo com o Melo vai ser relembrado nas próximas eleições. E poderá inviabilizar muitas lideranças de participarem do pleito deste ano”, disse.