SÃO PAULO – Assim que cheguei na terra da garoa as pessoas começaram a me confundir com os vizinhos cariocas. Sempre que eu tentava falar vinha uma indagação “mas você é carioca?”, égua! Mas que coisa absurda eu pensava. E permaneceu sendo assim por todos os outros meses em que eu convivia com os paulistas.
Lembro que quando visitei Porto Alegre a primeira vez fui comprar uma roupa para usar em uma reunião naquele mesmo dia e os vendedores fizeram a mesma indagação quando escutaram meu sotaque “você é do Rio de Janeiro?”. Todas essas experiências me levaram a um único pensamento, por que o meu sotaque parece com o sotaque carioca?
Conversando com especialistas da comunicação escutei uma resposta plausível à todas as indagações. Porém para isso vamos precisar viajar um pouco nas ideias e ir até o final dos anos 70 e começo dos anos 80. Se você estiver se perguntando o porquê dessa viagem no tempo, não desista de ler até o final ou melhor, não mude de canal.
Acontece que nos anos 70 e 80 a rede de comunicação de TV no Amazonas não existia. Se hoje a grade de programação da TV local é escassa, tu já imaginou como era há 40 anos? Imaginou? Se não conseguiu, eu vou te contar.
Antes de metade dos meus seguidores sequer pensarem em nascer, a rede globo carioca já dominava as programações de TV no Amazonas. Bom, era o que tínhamos não é mesmo? Do Globo Rural ao tradicional Fantástico de todos os domingos, os programas de auditório, os jogos de futebol. Já parou para pensar no porquê de ter tantos vascaínos e flamenguistas no Amazonas? Acho que já temos uma boa resposta.
Tudo isso explicaria o fenômeno que me acompanha nessa caminhada. Temos o sotaque parecido (é importante frisar que é apenas parecido afinal temos peculiaridades linguísticas, exclusivas) porque tivemos referências cariocas durante muito tempo de forma incisiva e eficiente através da programação carioca televisiva principalmente pela Rede Globo que era líder absoluta nessas décadas.
Hoje com a influência e a globalização que a internet e as novas tecnologia nos trouxe, novas influências virão e nosso amazonês com certeza vai mudar, a certeza é que jamais deixaremos de ser únicos mesmo que aquele “s” que soa como “x” seja parecido com os nossos irmãos Cariocas.
Trata-se de assimilação involuntária do sotaque de regiões do país.
Em relação a usos e costumes culturais, incluindo-se aqui o sotaque, o homem é produto do meio em que vive ou do meio com o qual tenha contato diário, ainda que através da televisão e do rádio.
No caso do amazonense, como bem lembrado pela articulista, o sotaque apenas “parece” com o carioca, não é igual. Há muitas diferenças fonêmicas de entonação, timbre e articulação de vogais e consoantes nas pronúncias das palavras em uma e outra região.
O fato de se confundir amazonenses com cariocas no que tange ao sotaque reside sobretudo no “chiado” resultante da articulação da letra “s” que no RJ, AM e PA são pronunciadas como “consoantes palatais” em palavras onde no restante do país essas mesmas letras são empregadas como “consoantes alveolares”.
O Brasil é um país de dimensões continentais, por isso mesmo cada lugar tem sua maneira de pronunciar as palavras e, nesse caso, não se pode dizer que existam entre nós sotaques melhores ou mais corretos que outros, já que todos os nossos sotaques fazem parte do nosso patrimônio cultural, impondo-se como importantes elementos de expressão da identidade do povo brasileiro.
Todos esqueceram da influência francesa na região norte. Os nobres portugueses imitavam o sotaque francês por acharem que possui um glamour. Esqueceram de falar da Belle Epoque, muita influência no Pará, Amazonas e RJ, não é atoa que Manaus era chamada de Paris dos trópicos.
Peço licença, para apresentar minha discordância, de forma respeitosa. Talvez eu não pude compreender a explicação por se tratar de um aspecto regional, e ninguém melhor do que o próprio nativo do Pará pra nos esclarecer sobre seu sotaque. Bem, eu sou de Goiás, e cresci ouvindo a transmissão da Globo (a primeira coisa a fazer depois de acordar era ligar a TV e ouvir o sotaque chiado da Xuxa.. rs.), mas nunca ouvi um morador de Goiás falar igual ao sotaque do carioca, e em nenhuma outra região do país. Eu percebo a assimilação involuntária do sotaque em regiões que são fronteiriças, adjacentes com outros estados. Explico: o sotaque do mineiro que faz fronteira com o Rio de Janeiro é diferente do sotaque do mineiro que faz fronteira com São Paulo, que é diferente do sotaque do mineiro de Belo Horizonte e interior de Minas Gerais. Mas daí, condicionar que houve essa assimilação entre dois estados (PA e RJ) que estão a milhares de km distantes um do outro, apenas porque ouviram a programação de uma emissora de TV em que seus apresentadores falavam com o tal sotaque, me faz pensar que deveríamos, então, ter outros estados que puxando o mesmo chiado do sotaque, pois a programação era transmitida também para vários outras regiões do Brasil. E por curiosidade, eu pesquisei sobre as emissoras do Pará. Havia duas emissoras: em 1961, a TV Marajoara que transmitia programação da TV Tupi – São Paulo (SP), e em 1967 a TV Guajará, que inicialmente era totalmente local, ao contrário da pioneira TV Marajoara, que por ser emissora própria da TV Tupi transmitia tanto local e nacional. Apenas em 1969 que a TV Guajará passou a ser a primeira afiliada da Rede Globo na Região Norte, permanecendo com grade de programação local na tentativa de rivalizar com a TV Marajoara. No entanto, a emissora local daqui do meu estado (Goiás) foi criada em 1963, alguns anos antes da afiliada do Pará que transmitiu a Rede Globo. Então, minha indagação é: já que Goiás teve exposição maior à programação da Rede Globo – pois iniciou a sua transmissão antes do Pará -, então, por que também não assimilou o sotaque da transmissão carioca como o autor do artigo apresentou? É isso. Agradeço a oportunidade em me expressar, e obrigado. Rodrigo Borges.
Todos os portugueses em Portugal falam assim. Sobre franceses “chiarem” nunca ouvi falar.
O chiado do “s” não é exclusivo dos Cariocas, além do RJ, vc vai encontrar no Pará, Amazonas e em Florianópolis…apesar dos sotaques serem diferentes…o chiado muito caracteristico é comum entre todos eles por conta do grupo d eportugueses que habitaram essas terras no período da colonização, considerando inclusive a influencia da catequização imposta aos indígenas, através dos portugueses jesuítas….Vc não vai encontrar esse chiado em outras regiões que tiveram mais influencia de outros povos migrantes, à exemplo de são paulo, que recebeu muito italiano e outros povos, vc vai encontrar um “r” de porrrrta, muito característico. A história d alingua portuguesa é uma relação de poder, aqui não se falava esse portugues…isso só nos foi imposto pelo marques de POmbal, pois aqui se falava uma lingua geral, que era uma mistura de tupi, com portugues e com forte influencia africana tbm, afinal esses eram os moradores daqui…Os linguístas podem explicar melhor! uma boa indicação é Rosa Virgínia Barretto de Mattos Oliveira e Silva.
Concordo com vc, Danilo. Mesmo a turminha que queria imitar o sotaque da Xuxa aprendeu o sotaque errado pois ela é gaúcha. O sotaque “carioca” dela é igual ao da minha prima goiana que, depois de morar no Rio uma semana já queria falar como os cariocas. Um dia ela chegou na minha casa e disse pra minha mãe: “tia, tive que pegar um takchi para chegar mais rápido”. Rimos disso até hoje.
Mas vou continuar pesquisando pq o povo da Amazônia fala assim. Será que havia colônias de portugueses por lá?
Sou mineiro da Zona da Mata, região onde as emissoras de rádio e televisão carioca dominavam a audiência e não temos sotaque semelhante aos vizinhos cariocas. Ao contrário os cariocas assimilaram bastante o sotaque dos mineiros.
Não concordo com você no que diz que o chiado do paraense é igual ao do amazonense e carioca, o chiado do paraense é puro X sem a menor confusão, não se confunde com o S, já o do Amazonense o X soa como S parecido com o dos cariocas ! Ok