Do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – Nascido em maio de 1930, lá se vão quase nove décadas, Bonifácio José Tamm de Andrada – ou Andradinha, para os mais chegados – é político profissional desde 1954, quando se elegeu vereador da UDN por Barbacena (MG), sua terra natal. Está no 15º mandato consecutivo – UDN, Arena, PSD, PTB e PSDB – e novamente sob holofotes desde que foi indicado como relator da denúncia contra o presidente Michel Temer na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Conservador de escol, Bonifácio teve participação destacada em vários momentos. Foi, por exemplo, dos que se bateram contra a emenda das Diretas-Já (1984), abstendo-se de votar. Na Constituinte (1987-1988), foi um importante líder do chamado Centrão, tanto na articulação, quanto, principalmente, na elaboração das emendas substitutivas que abriram o leque de propostas. Leia entrevista concedida em maio de 2014 durante pesquisa para um livro sobre a Constituinte.
O sr. é recordista em número de mandatos: um de vereador (1954-1958), quatro de deputado estadual (1959-1975) e está no décimo de deputado federal (desde 1979). Como é que se consegue uma façanha dessas?
A vida inteira, né? Mas é também uma espécie de obrigação. Porque eu sou a quinta geração que permanentemente está no Congresso. Desde 1821, desde as Cortes de Lisboa, até hoje, nós estamos sempre presentes na representação nacional. Só houve uma pequena interrupção, no fim do século anterior: durante quatro anos faltou um Andrada no Congresso.
E o que houve, nesse caso?
Foi quando morreu o último representante nosso no século 19 – o José Bonifácio, o moço. Que tem a estátua na porta da Faculdade de Direito de São Paulo.
Qual é o seu parentesco direto com o patriarca – José Bonifácio de Andrada e Silva?
O patriarca é avô do meu avô. É interessante. O patriarca não teve filhos, só filhas. E a filha dele mais velha – a Gabriela – casou-se com o irmão dele, o Martim Francisco. Eram os três: Martim Francisco, José Bonifácio e Antônio Carlos. Cada um com um temperamento diferente.
Um momento marcante dessa longa trajetória foi sua participação na Constituinte (fevereiro de 1987 a outubro de 1988), quando integrava o minoritário PDS. Quais foram os momentos marcantes que o sr. viveu ali?
O momento realmente mais grave foi quando surgiu o chamado projeto Frankenstein (como ficou conhecido o primeiro projeto de Constituição), que trouxe um mal-estar muito grande. Depois, com a organização do Centrão, a Constituinte fluiu melhor.
Nesse começo da Constituinte a turma conservadora, que o sr. integrava, estava bem desorganizada, não?
Totalmente desorganizada. Por um motivo simples: nós vínhamos de alguns conflitos internos sérios. O primeiro foi a formação do PFL, depois a disputa do Maluf e do Tancredo no Colégio Eleitoral…
Do Tancredo e do Sarney, ex-PDS, como vice.
Naquele período eu considerava o Sarney um politiqueiro, que abandonou os compromissos que tinha. Não um traidor, um politiqueiro. Me disseram, então, que já estava acertado que ele é que seria o vice do Maluf. Mas aí o Maluf foi lá no Ceará, fizeram uma manifestação muito grande para ele e pressionaram para que o vice fosse o Flávio Marcílio. Nessa hora o Sarney ficou indignado. E daí para a frente é que começou a manobrar (para sair do PDS e criar o PFL).
O sr. apoiou o Maluf…
Eu achava que o Maluf, naquela hora, era a melhor solução para a Brasil.
O sr. se arrepende?
Eu preferia o Maluf ao Tancredo. Ele e papai (José Bonifácio Lafayette de Andrada) disputaram eleições em Minas – meu pai pela UDN, o Tancredo pelo PSD. Papai e Tancredo eram amigos, e conversavam muito bem. O Tancredo era um político terrível. E eu conversava muito com ele, ele era muito inteligente, muito agradável.