A mídia traz, diariamente, manchetes do caos político e da incompetência administrativa do País, um assombro para todos nós. E o que é pior: no final dessa tragédia, pode restar a formação de novos padrões de conduta, com a naturalização do ilícito e a perda de nossa capacidade de indignação. Como transformar o constrangimento de mais um espetáculo deprimente da classe política fluminense em reflexão e tomada de atitude para pôr fim a esse jogo de regras obscenas? Chega de empurrar a poeira para debaixo do tapete! O Rio de Janeiro é aqui, ali e acolá, onde nossos gestoras têm tratado o bem público como extensão de seus quintais e conta bancária, embora isso ocorre em todo o território nacional e não apenas nas câmaras, assembleias e comissões de ética de todo o País.
O vexame vem dos bancos de escola, quando celebram o pacto da mediocridade e escolas fingem que ensinam pelo descaso cultural e estrutural e alunos fazem de conta que aprendem. Isso é extensão de padrões alterados do ambiente familiar e dos lares desfeitos pela penúria dos pequenos delitos que começam entre nós.
Os políticos, bons ou maus, são a expressão de seus representados. São eleitos pelo cidadão sem o compromisso do acompanhamento, elogio ou crítica das escolhas e condutas. Agimos com eles o que as famílias agem com seus filhos desde a creche, quando transferem responsabilidades de estruturação dos valores e atitudes para os professores oprimidos por baixos salários e absoluta falta de instrumentos para realizarem uma educação de qualidade.
Nesta semana, foi publicado o Relatório do Banco Mundial, “Um Ajuste Justo: Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil”. Ali está o retrato de um Brasil injusto, que gasta muito, distribui poucos benefícios, concentra a riqueza na mão dos mais espertos e exclui a maioria da população, especialmente os jovens, do banquete fraterno. “As despesas com ensino superior são, ao mesmo tempo, ineficientes e regressivas. O Governo Federal gasta, aproximadamente, 0,7% do PIB com universidades federais.” É tanta ineficiência que 25% são desperdiçado e os gastos por aluno nas universidades públicas são de duas a cinco vezes maior que o gasto por aluno em universidades privadas. Os estudantes de universidades federais não pagam por educação e mais de 65% deles pertencem aos quarenta por cento mais ricos da população. Além de corruptos nossos gestores possuem um amadorismo inaceitável.
Se vivemos numa sociedade doente e afundada na tragédia social da corrupção, temos de buscar em nós o fio da meada da transformação. Não é porque a “farinha é pouca, que meu pirão é o primeiro”. O paradigma do “cada um por si” alimenta o padrão político que nós temos. Urgente a necessidade de construir novos cenários, com relações transparentes e educação de qualidade. As despesas públicas com Ensino Fundamental e Médio, segundo o Banco Mundial, apresentam ineficiências significativas, com desperdício de 1% do PIB.
Uma análise de eficiência intermunicipal demonstra que o desempenho atual dos serviços de educação poderia ser mantido com 37% menos recursos no Ensino Fundamental e 47% menos recursos no Ensino Médio. São males de raiz. Essa não é a cidade e a política que queremos. Entre seguir chafurdando na lama da omissão, com a qual ajudamos a espalhar a desigualdade, origem da violência, melhor seria, desde já, promover a educação política de nossos filhos, de nossas escolas, com uma ressalva: filhos e alunos seguem exemplos de conduta. Não iremos, infelizmente, escrever a nova história de imediato, mas podemos iniciar a mudança nas próximas eleições. Os velhos paradigmas não vão sumir com voluntarismo ocasional, de forma que carecemos de padrões construídos com obstinação cívica diuturna, a começar agora. Remover a egolatria é tarefa diária de todos, partilhar habilidades, escolher e acompanhar gestores públicos competentes e parlamentares, capazes de estimular a revitalização da cidadania, mediante o compromisso de todos pelo bem comum na construção da política e da sociedade que todos almejamos.
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