MANAUS – Representantes de instituições que defendem direitos trabalhistas de soldados e oficiais da PM (Polícia Militar) no Amazonas negaram a existência de grupos de extermínio na corporação e questionaram a atuação de facções criminosas dentro presídios. Os policiais militares levantaram a suspeita de que as 35 mortes registradas em três dias em Manaus neste mês podem ter sido ordenadas por chefes do tráfico de drogas presos nas penitenciárias do Estado.
Em entrevista ao Programa Fantástico, da Rede Globo, no dia 26 de julho, o secretário de Segurança Pública do Estado, Sérgio Fontes, deixou claro que não estava descartada a possibilidade de existir um grupo de extermínio na Polícia Militar do Estado e que esse grupo tenha atuado nos assassinatos em série registrados no período de 17 a 20 deste mês. “(…) há uma possibilidade, eu digo possibilidade, de ser uma retaliação por conta da morte do sargento”. O secretário se referia ao sargento da PM Afonso Camacho Dias, que morreu ao reagir a um assalto no dia 17 de julho, numa “saidinha de banco”, na agência do banco Bradesco, no Bairro Educandos, zona sul de Manaus.
Procurado pelo AMAZONAS ATUAL para comentar a reportagem da Rede Globo, o vice-presidente da Associação dos Oficiais da PM, major Wilmar Tabaiares da Silva Neto, afirmou que repudiava as informações da matéria. Para ele, a abordagem do programa foi “tendenciosa” em relação ao assunto. “Em nenhum momento, a reportagem citou a morte de lideranças das facções criminosas que atuam nos presídios de Manaus. Eles poderiam ter levantado a possibilidade de confronto entre esses grupos e lembrar que existem dois líderes que tiveram que ser isolados em um quartel da Polícia Militar porque são ameaçados de morte nesta guerra”, completou o major.
Ele disse que em qualquer categoria de trabalho existem os maus profissionais, mas afirmou ser favorável à punição dos colegas caso seja provada a participação dos PMs nos assassinatos. “Se por acaso esta hipótese seja verdadeira, que os culpados sejam condenados e respondam por seus atos diante da lei. Até lá eu prefiro acreditar no quê prevê nossa Carta Magna da Constituição: Todos são inocentes perante a lei até que se prove o contrário”, finalizou o major.
Fase inicial
Para o soldado Lairton Silva, diretor de comunicação da Associação dos Praças do Estado do Amazonas (Apeam), a investigação sobre a chacina em Manaus ainda está no início e qualquer suposição sobre a autoria das mortes é precoce. “Nós defendemos a presunção de inocência sempre. Não podemos esquecer que houve três mortes por decapitação nos presídios do estado em um intervalo curto também. As mortes podem estar relacionadas a uma briga entre facções, não somente à morte do sargento Camacho”, comentou Lairton, referindo-se aos três assassinatos nos presídios do Estado entre 7 e 21 deste mês .
Sobre uma suposta cobertura que policiais militares poderiam ter dado aos criminosos nos dias das execuções por não haver policiamento nos locais das mortes, Lairton afirmou que a ausência dos PMs pode estar ligada a problemas estruturais que a corporação enfrenta, no momento. “O próprio programa Ronda no Bairro está sucateado, com racionamento de gasolina e viaturas a menos. Apesar dos esforços da administração, esta é a realidade. Afirmar que os policiais não estavam patrulhando a área no momento para facilitar qualquer ação criminosa é leviano”, concluiu.