Da Redação
MANAUS – A Polícia Civil do Amazonas indiciou 210 presos pelo massacre de 56 detentos no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, no dia 1º de janeiro deste ano. A delegada Emília Ferraz, corregedora auxiliar da Polícia Civil, disse que a chacina ocorreu por rivalidade entre as facções criminosas Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC), que atuam no Estado e buscavam ter o domínio dentro dos presídios em Manaus. Conforme Ferraz, a ordem para o massacre partiu do líder da FDN, José Roberto Fernandes Barbosa – o ‘Zé Roberto da Compensa’, que está cumprindo pena em um presídio federal em Campo Grande (MS).
A delegada informou que os presos identificados como ‘Maguila’ e ‘Caroço’, que comandavam o grupo da FDN dentro do Compaj, lideraram a chacina por ordem de ‘Zé Roberto’. Esses dois detentos passaram as coordenadas para que outros nove presos colocassem o plano em prática. “Nos autos temos relatos de testemunhas oculares informando que foi lida uma carta em reunião, dentro de uma das celas do Compaj, determinando, especificamente, como se daria o massacre. Foi estabelecido que, a partir da última visita daquele dia, eles entrariam em campo, invadiriam a portaria e fariam reféns para que não houvesse o controle estatal e começariam a chacina propriamente dita. É bom ressaltar que outra motivação seria o comportamento dos presos do PCC dentro do sistema prisional. Em várias oitivas, inclusive de agentes de ressocialização, ficou bem claro que eles faziam chacotas com os presos da FDN. Uma motivação muito forte que todos eles apresentaram era essa, o comportamento dos internos do PCC em relação aos familiares e presos da FDN”, disse Ferraz.
‘Maguila’ e ‘Caroço’, juntamente com outros 15 detentos, foram transferidos para presídios federais no dia 11 de janeiro deste ano. Emília Ferraz disse que alguns presos eram os alvos principais. “Algumas vítimas, como ‘Velho Sabá’, não era integrante do PCC, mas era um dos alvos. Outros indivíduos eram estupradores, além de presos vulneráveis e membros do PCC. Em algumas situações as vítimas já entraram no presídio com a sentença de morte decretada”, disse.
O delegado-geral adjunto da PC, Ivo Martins, disse que o Serviço de Inteligência do Sistema de Segurança Pública tinha informações de que poderiam ocorrer rebeliões nas unidades prisionais do Estado. “Os informes de inteligência davam conta de que iriam ocorrer eventuais rebeliões nas unidades prisionais, mas isso não significava dizer que, de fato, iriam acontecer. Também não sabíamos a data precisa. O conjunto fático de inquéritos trabalhou com várias situações, 210 foram indiciados, mas nós ouvimos vítimas de constrangimento, tortura e outros tipos de procedimentos. Ouvimos agentes de ressocialização e autoridades em relação a isso. Enfim, é uma gama muito grande de informações que obtivemos, de testemunhas, de detentos, até dos indiciados, informações sigilosas e confidências, inclusive de outros estados, que nos fez compreender como esse evento aconteceu”, disse.
No inquérito foram ouvidas 350 pessoas. O documento possui, aproximadamente, 2,6 mil folhas e vídeos das câmeras de segurança do presídio. O relatório será enviado à Justiça na segunda-feira, 4.
Confira o vídeo: