O Amazonas está em Manaus e o interior continua vazio e desamparado. Há pequenas bolhas, melhor do que polos, com alguma atividade econômica, em alguns poucos municípios. Nos demais, sobra atraso e ausência de perspectivas, num quadro desalentador que se revela há anos.
Na capital tudo se resume ao Distrito Industrial, que dá dinamismo aos demais setores da economia. O poder econômico concentra-se nos projetos nele implantados e em desenvolvimento, com uma gama de produtos fabricados. Fora da área pública é quem emprega o grosso da mão de obra no Estado, com vetores que impulsionam a contratação de trabalhadores em outras áreas. Por isso é que já estamos cansados de saber que são os operários da Zona Franca as primeiras vítimas de qualquer abalo na política de vantagens comparativas concedidas ao nosso modelo de desenvolvimento, como acaba de ocorrer com a aprovação e promulgação pelo Congresso Nacional da chamada PEC da Música.
Bem, até aí nada de novo, mas essas considerações servem para destacar o papel do setor público, alimentado pela atividade privada, via tributação escandalosa e crescente, no contexto da economia e da política no Estado. Em suas múltiplas derivações é quem efetivamente mais oferece trabalho e é quem distribui maiores somas de recursos financeiros, fato que resulta no poder incontrastável de seus dirigentes, em todos os aspectos da vida na região.
O governo, leia-se executivo, é exercido entre nós de forma cesarista e todos a rigor mantêm com ele uma relação de dependência. Na política, a sorte bafeja somente os ungidos pelo sistema. À oposição, com exceção de casos raríssimos, ainda assim, circunscritos à órbita municipal, só resta o direito de espernear sem o menor êxito. Em âmbito estadual, desde a vitória de Gilberto Mestrinho, em 1982, nenhum governador foi eleito longe das benesses e do apoio do poder.
No interior do Estado a força do governo mostra-se em sua plenitude, diante da pobreza dos municípios amazonenses. Os prefeitos vivem à míngua, de pires na mão. Não conseguem fazer nada a não ser com ajuda dos cofres estaduais, através de convênios com repasses financeiros que chegam sempre em boa hora, manipulados em cima de interesses políticos. No momento da cobrança, os gestores municipais fazem o que seu mestre manda e avalizam a candidatura do poder, sem restrições. É como se explica, a cada eleição, a revoada de prefeitos para o colo do partido oficial do governador de plantão, tenha a denominação que tiver, pouco importando a conotação de ordem ideológica que possa representar. Lembro de nomes carimbados do conservadorismo local obrigados a aderir ao PPS de Roberto Freire, quando da vitória de um governador eleito pela sigla, herdeira do histórico e velho Partidão – o Partido Comunista Brasileiro, fato que certamente lhes causou engulhos, tanto é que quando possível logo se agasalharam em outras legendas.
Em Manaus, a situação não é diferente. O interior também está na capital, em suas áreas periféricas, ao lado de migrantes de outros estados, especialmente do Pará, Maranhão e Ceará, em bairros que amontoam carências e mazelas de todos os tipos. Tornam-se, desse modo, extremamente vulneráveis às investidas do poder político e econômico, como vítimas maiores do balcão, em ações de mercantilização do sufrágio e num círculo difícil de ser rompido. A cooptação é fantástica e direta, com dinheiro ou em troca de benefícios que o poder proporciona.
Estima-se hoje que os custos de uma campanha para o governo do Estado não saem por menos de R$ 150 milhões, segundo especialistas na matéria. Uma soma vultosa que só o poder tem condições de suportar, independente de suas estruturas ordinárias, utilizadas de igual modo nas campanhas eleitorais sem nenhuma cerimônia. E, nas circunstâncias, impossível captar financiamento privado que possa oferecer o mínimo de competitividade à campanha.
Como nenhum candidato estará disposto a meter a mão no bolso, mesmo dispondo dessa dinheirama toda, frente aos riscos de uma disputa contra o governo, verifica-se uma corrida desenfreada pelo apoio oficial. Sem o concurso da grande máquina estatal fica difícil e o insucesso divisa-se no horizonte previsível. E quem detém as rédeas do Estado sabe disso, do alto de sua irrefreável artilharia, ciente de que a roda da fortuna política inclinar-se-á sempre em favor do candidato que receber a chancela do poder, como a história tem ensinado.
Sob molduras diversas, Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes e Eduardo Braga já enfrentaram o poder. No embate, todos eles perderam: Braga para Amazonino, em 1998; Mestrinho para Braga, em 2002; e Amazonino para Braga, em 2006. Convém, portanto, acompanhar o andar da carruagem e ver como e em que sentido soprarão os ventos em 2014, bem longe das nuvens e com os pés fixos no chão.