A foto esportiva mais curiosa de todos os tempos mostra uma partida de futebol americano acompanhada com muita concentração pelo público. Atenção exagerada mesmo. A imagem mostra que atrás das arquibancadas há um incêndio destruindo um prédio e, apesar das chamas e a fumaça negra ascendendo ao céus, jogadores e torcedores parecem apenas se importar com o jogo.
Logo quando a fotografia foi enviada aos jornais, muitos editores desconfiaram da veracidade dela. Quando verificou-se que era tudo real, a imagem provocou debates. Ela representava a devoção insana a um esporte? Ela mostrava a dedicação dos atletas mesmo em meio ao caos? Ela exibia uma preocupante confusão de prioridades? Ela deixava clara a ausência de protocolos de segurança contra incêndios?
A partida que não foi interrompida mesmo com um incêndio ocorreu no dia 20 de novembro de 1965, em Massachusetts (EUA) e envolveu Northfield Mount Hermon contra Deerfield Academy. Na época, as equipes mantinham uma rivalidade do nível do Caprichoso e Garantido. Era a última partida da temporada e Mount Hermon, o time anfitrião, detinha uma série invicta de 17 partidas. As arquibancadas, com capacidade para sete mil pessoas, estavam lotadas.
O jogo entre as equipes, como sempre, estava acirrado e empolgante. A poucos segundos do intervalo alguém gritou: “fogo, fogo”, apontando para o prédio de ciências da universidade. A partida parou. Os bombeiros não demoraram a entrar em ação e alguns voluntários ajudaram o combate às chamas com baldes de água ou resgatando equipamentos de laboratório.
Houve suspeitas de que algum “botafoguense” fosse o responsável pelo incêndio. A investigação, entretanto, apontou a fiação elétrica defeituosa como a verdadeira causa. Entre os “itens” perdidos, pássaros raros taxidermizados que eram objetos de uma pesquisa.
Enquanto tentavam debelar o fogo, Robert Van Fleet, pai de um dos jogadores do time Mount Hermon, usa sua câmera. Ele contou que, inicialmente, se sentiu desamparado, mas resolveu usar seus instintos de jornalista. Ele fez uma sequência de 20 fotogramas da situação. “Sabia que uma delas seria a foto da minha vida”, declarou Fleet.
Após uma rápida conversa entre bombeiros, juízes, treinadores, diretores das universidades, foi tomada a decisão surpreendente: eles decidiram voltar a jogar. Steven Webster, na época professor de ciências de Mount Hermon, justificou: “A ideia era manter todos nas arquibancadas para evitar que alguém entrasse no caminho do fogo. Por outro lado, se você não está lutando contra o fogo, o que mais você vai fazer? Você também pode assistir a um jogo de futebol”, disse.
Nem todos os atletas concordaram imediatamente com a ideia de reiniciar o segundo tempo da partida. Não houve, porém, discurso poético para convencê-los. Treinadores simplesmente disseram para os jogadores algo como: “Parem de mimimi e vão jogar”.
Um dos lances mais lembrados ocorreu a instante do fim da partida. O jogo estava 20 a 14 para os visitantes e o Mount Hermon preparou uma jogada para virar a partida. O plano era fazer o touchdown, que vale seis pontos, e depois converter o chute de ponto extra. Quando o atacante estava a poucas jardas da linha do gol (endzone) foi interceptado. Resultado para o time da casa: perda total. Do prédio e do jogo.
Para Jim Smith, o treinador de futebol americano de Deerfield, lances como a jogada de defesa decisiva de sua equipe foram mais inesquecíveis que o incêndio. “Foi um jogo tão emocionante que, mesmo com o incêndio, ninguém quis parar o jogo. Isso nunca sai da minha mente”.
Há algumas razões para o interesse permanente numa fotografia feita há mais de 50 anos. Para os que entendem os esportes como metáforas da vida, a imagem nos lembra que não faltam “incêndios” ao redor. Portanto, a questão adequada não seria: “Por que continuar?”, mas “Por que parar de jogar?”
Muito bom!!
Sou sua fã número 1!!!!
Me espelho em vc.