No primeiro ano de faculdade, o professor de Língua Portuguesa, que chamávamos carinhosamente de Rochinha, um senhor muito engraçado, que dava sempre um tom bem humorado às aulas, nos advertia: “Se alguém lhe disser receba meus comprimentos, recuse!” Aceite se ele oferecer os cumprimentos”. Aos homens, ele ia além na recomendação: “Nunca ofereça seus comprimentos a uma mulher, porque ela pode se sentir ofendida”. Comprimento tem sentido de grandeza, tamanho, e para o bom entendedor, não precisa dizer que o professor Rochinha acrescentava uma fina pitada de erotismo na piada. Cumprimento, ao contrário, é um gesto ou expressão oral ou escrita de cortesia; saudação, como bem define Aurélio.
Nesta manhã de sexta-feira (14/02), dona Dilma Rousseff (PT), a presidenta da República Federativa do Brasil, distribuiu, no discurso de inauguração de casas em Manaus, “comprimentos” para quem quisesse ouvir. Não escapou uma autoridade sequer; as mulheres incluídas. A um que quer ser governador, Dilma chegou a “dirigir um comprimento”. Sorte a dele que não chegou a ser atingido.
Mas chamaram a atenção três “comprimentos”, que reproduzo abaixo, pelo contexto político. O primeiro, ao vice-governador José Melo (Pros), que quer ser candidato ao Governo do Amazonas com o apoio de Dilma. O segundo, ao senador Eduardo Braga, que também quer ser candidato ao governo com o apoio de Dilma. E o terceiro, ao prefeito Arthur Virgílio Neto, que aprendeu, em pouquíssimo tempo, a se comportar como um verdadeiro petista e atua como um estranho no ninho tucano.
“Comprimento” ao José Melo: “Quero também dirigir um comprimento (sic) a outro parceiro, que é o vice-governador José Melo.0”
“Comprimento” a Eduardo Braga: “Queria comprimentar (sic) uma pessoa que me ajuda muito; um amazonense que me ajuda muito lá no Senado Federal, o meu líder, Eduardo Braga.”
“Comprimento” a Arthur Virgílio Neto: “Quero comprimentar um parceiro que é um parceiro… que nós somos de posições diferentes, mas trabalhamos juntos. Eu quero comprimentar (sic) o prefeito Arthur Virgílio.”
Quem duvidar, que acesse o site da Presidência e ouça o discurso da presidente.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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