Sou daqueles que só revelo o voto para os amigos mais próximos e para quem eventualmente me questiona sobre o assunto. Esse é um tema recorrente em tempos de eleições para os cargos políticos no Brasil. Este ano, fui convidado por uma turma do curso de Comunicação da Universidade Federal do Amazonas para discutir o tema com alunos que tinham opiniões divergentes a respeito da declaração de voto revista da Carta Capital à candidata Dilma Rousseff.
Não vejo problema nenhum no fato de uma publicação declarar apoio a um candidato, mas também não considero que deve ser a regra. Aqueles que não conseguem manter o mínimo de equilíbrio na cobertura das eleições deveriam, para o bem de seus leitores, declarar apoio, como fez a Carta Capital. Mas isso não obriga seus profissionais a fazerem o mesmo.
O jornalista, como qualquer profissional, tem o direito de escolher seu candidato. Não seria prudente que declarasse voto nele usando o veículo que declarou apoio ao candidato adversário. Também não seria prudente fazer tal declaração em outra mídia, como a internet, num país em que as liberdades são condicionadas às vontades de quem tem poder.
Outro aspecto que advogo é o do voto secreto como direito constitucional instituído exatamente para preservar a democracia. O Brasil, nos primeiros anos da República, já teve o voto aberto para o eleitor, e a experiência se mostrou desastrosa, com o surgimento do voto manipulado, roubado, fraudado ou comprado, conforme assinala o jurista Luiz Flávio Gomes, em artigo publicado recentemente (Voto secreto e democracia no Brasil). Foi nesse período que surgiu o “voto de cabresto” que se perpetuou até os dias atuais, principalmente nos municípios mais pobres do país.
O voto aberto ou a declaração de voto obrigatória, como apregoam alguns, não contribui em nada para a democracia, pelo contrário. Imagine se o trabalhador fosse obrigado a declarar, em uma empresa, o seu voto para governador, presidente da República ou qualquer outro cargo, e se essa empresa apoiou e financiou a campanha do adversário? Seria, no mínimo, constrangedor.
Para o jornalista não é diferente. Ele está submetido às mesmas regras que qualquer outro profissional dentro de uma empresa, com o agravante de que em um processo eleitoral, é mais vigiado que os demais, exatamente porque o que ele diz pode influenciar o eleitorado. E isso não é suposição, é uma realidade. Algumas empresas proíbem, inclusive, que seus funcionários acessem o estacionamento com adesivos de candidato nos carro. Nas redes sociais, há proibições de qualquer tipo de manifestação sobre candidatos durante as campanhas eleitorais, muitas vezes porque a empresa tem compromissos com um deles.
Esse controle tira do profissional de jornalismo qualquer liberdade para opinar e manifestar publicamente o voto, mesmo àqueles que se sentirem à vontade para manifestar apreço a um dos concorrentes aos cargos públicos.
Apesar de todas essas considerações, o mais importante é o direito sagrado ao sigilo do voto. Esse é um direito que não pode ser negado em nenhuma hipótese sob pena de fragilizarmos a já fragilizada democracia brasileira.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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