A política brasileira historicamente convive com certos movimentos circulares de polarização partidária que impedem de nascer “o novo”.
A atual polarização político-partidária PT x PSDB, que já perdura duas décadas de modo ininterrupto, faz lembrar as velhas disputas entre conservadores e liberais no império, partidos regionais do regime “café-com-leite” (partido republicano paulista e partido republicano mineiro) na velha república, o PTB e a antigetulista UDN na era Vargas, a Arena e o MDB durante o regime militar, o PDS e o PMDB na reabertura política, enfim, uma bilateralidade de pretensões e enfrentamentos políticos que quase sempre não redundam em benefício do amadurecimento da política brasileira.
Mudam-se certas coisas para que velhas outras permaneçam como sempre estiveram. E o que poderia ocorrer de melhor, ser “o novo”, acaba sendo abortado pelo velho círculo de polarizações. Não se chega a uma nova síntese benéfica. Dá-se sempre um “jeitinho” de evitar que “o novo” aconteça. Há sempre um “veneno” para abortar o processo de mudança. A dialética não se realiza, voltando sempre à estaca zero sem haver completado o processo. Um movimento de sabotagem do “novo” atualmente previsível, mensurável, mas infelizmente ainda insuperável.
Enquanto isso, o fisiológico tarefismo administrativo-parlamentar se ilude e deseduca as massas, informando que faz política. Nada mais enganoso. É frustrante ver gente supostamente preparada que, ocupando cargos públicos eletivos ou não, aderiu a esse velho jogo e se convence, por alguma razão útil, que faz política. O pragmatismo partidário, potencializado pela rentável captação eleitoral, tem um fim em si mesmo, embora sob o verniz de alguma grife ideológica moderna.
O pluripartidarismo fez crescer o número de partidos políticos, mas a política efetivamente se apequenou. As instituições tradicionais de mediação política estacionaram no tempo, nos privilégios oficiais e no lucrativo jogo eleitoreiro. A grande obra, quando muito, é “trocar seis por meia dúzia”. E assim vai-se entorpecendo a sociedade com a droga eleitoral, depois administrativa, fazendo crer que se faz política. Um oneroso engodo viciante, mas que mantém um velho círculo de polaridades estéreis.
O esgotamento da política não é um fenômeno exclusivo da política brasileira, ocorrendo também noutras nações, inclusive de grande expressão mundial. Obviamente, há razões globais e nacionais, gerais e específicas, externas e internas para tanto. Alguns dizem que é marca do tempo em que vivemos devido a razões históricas e estruturais do conjunto das sociedades em todo o planeta. A ausência de utopias é apenas um elemento desse novo tempo sem futuro. Não casualmente o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, chamou nosso tempo de a era do “fim do futuro”.
A “nova ordem” não alterou substancialmente a velha política. Pelo contrário, conferiu-lhe um papel ainda menor no contexto de globalização da economia de mercado e de esvaziamento de sujeitos históricos (burguesia, operariado, movimentos sociais, movimentos populares, movimentos acadêmicos, movimentos eclesiásticos esclarecidos, intelectuais orgânicos…). Até quando prevalecerá o velho círculo nos iludindo que de que, de algum modo, fazemos política? Talvez, por isso mesmo, o maior desafio da vida política brasileira ainda consista, seja por via de reforma política no congresso ordinário seja por via de nova constituinte, em suplantar o velho círculo de polaridades que historicamente vicia a mediação política e expele a possibilidade “do novo” nascer na sociedade brasileira. Afinal, ainda é bastante contemporâneo o ensinamento de Mahatma Ghandi: “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.”
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