Em nome do velho axioma – em política vale-tudo, menos perder as eleições –, os candidatos prometem o céu e a terra, o possível e o absolutamente impossível. Pintam e bordam, fazem o diabo, contanto que saiam vitoriosos do pleito. E assim segue o andor da demagogia e da corrupção eleitoral que apanha os incautos, o maior contingente de eleitores brasileiros, massa desinformada e inconsciente.
Nesse expediente típico do faroeste político, dois instrumentos são fundamentais: dizer o que o povo quer ouvir, em cima do discurso instrumentalizado pelo marketing político, e captar o sufrágio popular a qualquer preço, via meios lícitos e ilícitos. Assim, os eleitores não enxergam a realidade e deixam de ver o candidato com sua história pessoal, suas verdadeiras inclinações e compromissos. Portanto, fazem uma opção eleitoral que já chega pronta e embrulhada em papel celofane, com laço de fita, tudo bem arrumadinho para ludibriar os tolos e conquistar o poder.
Não se discute nada de sério na campanha eleitoral. Fica-se no paraíso cômodo das superficialidades e mesmo os programas de governo, de apresentação obrigatória, são produzidos de improviso e sem maiores responsabilidades. Importa atender às expectativas de quem elege, sem a menor consideração a processos éticos, com base em proposições irrealizáveis. Há, em consequência, procedimentos políticos de palanque muito semelhantes entre os candidatos, todos sob o guarda-chuva do discurso único, com um ou outro pequeno viés, que jamais servirá para diferenciá-los a fundo.
Com apoio em pesquisas, tem-se conhecimento prévio e em escala dos problemas que atormentam a sociedade, em função dos quais elaboram-se as propostas que dão sedimento às candidaturas, nas mais diversas áreas. Procura-se então atender apenas e tão somente às prioridades detectadas nas sondagens de opinião. Se a preocupação maior da população for com segurança e saúde, o candidato virá com a promessa de vencer as dificuldades encontradas nos setores respectivos, ainda que saiba ser impraticável resolvê-las em um único mandato. E será assim em relação à superação da crise na economia e da estagnação industrial, domada a inflação reincidente. Na mesma linha, segue-se em matéria de educação, mobilidade urbana, infraestrutura logística do país, além de outras demandas urgentes que afloram no cotidiano dos brasileiros.
Ao espelharem um quadro idêntico de preocupações, lá na ponta, as pesquisas propiciam a unificação do pronunciamento dos diversos postulantes, que usam enunciados e mensagens iguais diante dos problemas que advogam enfrentar, com nuances de forma e a maior cara de pau do mundo. Resulta daí a irritação com os políticos, acusados de prometer e nunca cumprir nada do que prometem.
A atual disputa presidencial mantém a regra do discurso equivalente. A rigor, na abordagem das questões prioritárias, não há distinção entre as propostas dos presidenciáveis. Quem está no governo sustenta que já fez muito e que fará ainda melhor, no mais amplo espectro. Na oposição, por dever de ofício e com estrutura crítica contra os detentores do poder, prega-se com avaliações e soluções análogas. E, na esteira das similitudes, sem a menor cerimônia, anuncia-se o velho como novo na política, ainda que integrando na origem o espaço partidário em vigor no País com a redemocratização, vencido o período ditatorial. E vem sob a capa de uma “nova política”, que já nasce envelhecida, rançosa e falsa, em todos os aspectos.
Desalenta constatar o vazio das candidaturas, que perdem a oportunidade de debater temas de grande interesse da nacionalidade, como o tamanho do Estado brasileiro e de suas instituições. Qual o Estado afinal que queremos ou devemos ter? Nelas todas nenhuma reflexão sobre a composição numérica da Câmara Federal, verdadeira Babel, e sobre a manutenção do sistema bicameral – Câmara e Senado. Nenhuma palavra contra a orgia de partidos sem representatividade, como siglas de balcão ou de aluguel. Ou sobre os gargalos históricos que configuram o insuportável custo Brasil, que impede o país de alcançar o status da modernidade e da eficiência. No mais, nenhuma medida concreta é anunciada, que possa com clareza apontar e detalhar caminhos, mostrando o que, como e com que recursos fazer, no sentido de permitir que o País reencontre-se com o desenvolvimento econômico e o progresso social de seu povo.
No universo rasteiro, é o mesmo blá-blá-blá de sempre, uma tristeza.
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