Por Paula Litaiff
Na semana que passou houve uma grande repercussão em cima de uma nota da coluna Expressão do Site AMAZONAS ATUAL na qual descrevia a história de um vereador de Manaus que, literalmente, decidiu “levantar as mangas” e foi para as ruas pintar paradas de ônibus, consertar sarjetas, entre outros serviços que, em tese, caberiam aos agentes do Poder Executivo. Desconsiderando que a iniciativa ocorre em ano eleitoral (seguidores do vereador disseram que ele faz isso todo ano), não é isso que o “eleitor contemporâneo” espera de um membro do Poder Legislativo.
A internet permite a todo e qualquer cidadão de toda escolaridade e nível social a democratização e socialização da informação seja ela de cunho político, social e “fútil”. Com essa ferramenta, o significado do que é legal, ilegal, moral, imoral, demagogo ou verdadeiro chega ao conhecimento da criança ao idoso; do mais pobre ao mais rico e até daqueles que vivem em áreas consideradas distantes, como a zona rural dos municípios. Os nossos políticos precisam entender – de uma vez por todas – que ficou no passado o tempo em que um “parlamentar” que ia às ruas “puxar” enxada era visto como um “homem do povo” ou “verdadeiro representante da sociedade”.
Pode parecer repetitivo, mas é sempre bom lembrar à classe política que a sociedade do século XXI está mais esclarecida, politizada e, independente da escolaridade, tem noção do que faz um vereador, deputado ou senador. Isso tanto é verdade que o post do parlamentar que trabalhava na reforma da parada recebeu mais de 80% de opiniões contrárias, caso semelhante ao que ocorreu com outro membro da Câmara Municipal de Manaus no ano passado, que apareceu com a farda da prefeitura nas redes sociais, “asfaltando” ruas ao lado de verdadeiros trabalhadores. Ele também recebeu uma enxurrada de comentários negativos.
A verdade é que não dá mais para enganar o povo (leia-se “povo”: o adolescente de 16 anos, a senhora de 70 ou o professor universitário) com ações que buscam agradar o eleitorado, mas na verdade expõem a fragilidade intelectual e política do parlamentar e de sua equipe. Sabemos que é mais cômodo pintar uma sarjeta que pesquisar noites a fio um projeto de lei que traga benefícios reais à população; ou é relativamente mais cômodo transportar um carrinho de areia que brigar com um aliado do Executivo por uma obra de uma escola que não sai do papel.
Não nos iludamos. Historicamente, ficou provado que esse tipo de trabalho no Legislativo não causa mais efeito nas urnas, tanto que o percentual de renovação das Câmaras Municipais e da Assembleia Legislativa do Amazonas chega a mais de 50% a cada novo pleito. Chegou a hora de usar o caminho mais difícil, mas que trará o reconhecimento de um povo cansado de tanta encenação.