Todo dia a população sofre com o atendimento da saúde do Estado. Filas demoradas, falta de medicamentos, equipamentos de exames sem manutenção, faltam profissionais para consultas, esperas para cirurgias e internações. Recebo constantes denúncias de descasos na saúde. Muitas dessas situações estão sendo constatadas nas visitas que estou realizando nas unidades de saúde no interior e na capital.
Esta semana, o professor Jonas Araújo denunciou a situação do Instituto da Criança do Amazonas (Icam). Um hospital de referência em Manaus no atendimento às crianças que precisam ser internadas em UTI, mas que faltam materiais básicos e para procedimentos cirúrgicos. Até água potável e álcool estão faltando, segundo o professor, que está aflito com a situação de saúde de sua filha.
Outra pessoa informa que no Hospital Cardoso Fontes está faltando material de expediente para o agendamento dos pacientes. Além disso, a impressora está sem toner. Faltam também máscaras e material de limpeza. O equipamento de Raio-X está sem manutenção.
No mesmo dia, recebi denúncias de que a Central de Medicamentos do Amazonas (Cema) não está atendendo a demanda dos pacientes que precisam de medicamentos para tratamento contínuo contra doenças crônicas. São remédios caros e de difícil acesso para compras. Todo dia centenas de pacientes saem da Cema) sem a medicação, muitos são idosos e crianças que correm risco de morte.
Nas visitas realizadas semanalmente, constatamos de perto essas deficiências e o pouco empenho do Governo do Estado. No Hospital Adriano Jorge, em Manaus, que visitei na semana passada, é notório a falta de investimento para ampliação das cirurgias ortopédicas. A fila de espera é grande. Têm pacientes aguardando há quatro anos. Obras de ampliação estão paradas. Pacientes que aguardam transplantes de rins e de fígado, todo dia veem o horizonte de vida diminuir.
No Hospital Dr. Geraldo da Rocha, no bairro da Colônia Antonio Aleixo, em Manaus, após muita luta da direção e dos moradores, o centro cirúrgico foi construído e implantado. Mas não funciona. Falta médico, bisturi elétrico, medicações e laboratórios para exames. Ora, o hospital atende pacientes com hanseníase, as cirurgias são fundamentais para minimizar as sequelas da doença, mas o Governo não prioriza.
No orçamento do Estado para 2018, consegui aprovar uma emenda no valor de R$ 70 mil destinada ao centro cirúrgico do referido hospital. Espero que a Susam realize esse investimento.
No interior do Amazonas, a situação dos hospitais é calamitosa. Em Tefé, visitado em abril deste ano, constatamos que no Hospital Regional faltam manutenções nos condicionadores de ar, nas instalações elétricas e hidráulicas. O gerador de energia não suporta mais a carga. A água do poço artesiano é insalubre, mas é usada para limpeza e lavagem de roupas e utensílios. Problemas crônicos com equipamentos de esterilização. Faltam leitos, materiais de camas e profissionais em todas as áreas. Até a lavanderia está precária. Nem passam a roupa. E a pequena ambulância não condiz com as necessidades diárias.
Não é diferente em outros municípios que visitei mês passado. Em Codajás, o hospital João da Silva Bastos necessita de médicos, enfermeiros, técnicos e serviços gerais. Vários exames básicos não estão sendo realizados por falta de materiais. O Estado há meses não repassa recursos para o hospital, informa a direção.
Em Alvarães, município próximo de Tefé, a Unidade Mista São Joaquim aguarda há 17 anos uma reforma. O hospital quase fecha devido às chuvas, pois metade do telhado quebrou. Poucos exames são realizados e há falta generalizada de funcionários.
Em Coari, o Hospital Regional é um dos mais procurados. Tem um número maior de médicos, mas sobrecarregados no trabalho. Faltam leitos, mais enfermeiros e há muita demora nos exames especializados.
No município de Caapiranga, o hospital não tem cirurgião. Todo dia têm pacientes sendo transferidos para Manacapuru ou Manaus para realizar cirurgias. Precisaria de reforma e ampliação. Também não tem bioquímico. A noite não tem enfermeiro. Muito sofrimento da população.
Enquanto isso, o Governo do Amazonino não chama os concursados da Susam, que decidiram acampar na sede da Susam, mas mantém as empresas terceirizadas. Na Assembleia Legislativa, a CPI da Saúde que apresentei precisa de mais uma assinatura para investigar todos os contratos milionários de empresas terceirizadas. Está difícil, pois poucos deputados estão interessados em passar a limpo a situação da saúde do Estado, que tem este ano R$ 2 bilhões a serem investidos.
O povo clama por saúde. Deus está ouvindo, mas não o Governo do Estado se faz de surdo.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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