O episódio em que o candidato a governador do Amazonas Eduardo Braga (PMDB) desce do carro para tomar satisfação com um homem que fotografava a passagem de sua comitiva no município de Maraã, um dos mais pobres do Amazonas, está longe de se tornar uma página virada, como quer demonstrar a assessoria do candidato. Braga cometeu um erro grosseiro, no momento em que a campanha eleitoral ainda era ensaiada por todos os candidatos, e deve pagar o preço durante toda a campanha.
Se houve agressão ou não por parte do senador da República é uma questão irrelevante. O motorista ‘Bira’, que serve a Braga há pelo menos duas décadas, agrediu, e o seu chefe não pode ser isentado de culpa. É preciso, numa batalha como uma eleição, que todos os soldados estejam bem treinados para agir conforme as regras. E neste caso, a regra transgredida não foi nem eleitoral, mas constitucional.
O simples fato de descer do carro para tomar satisfação já caracteriza uma agressão inaceitável. Quem disse que um cidadão não pode filmar ou fotografar um evento público, realizado em via pública? A Constituição da República garante esse direito a qualquer indivíduo. E se essa pessoa estava a serviço de candidato ‘A’ ou ‘B’, tal direito não lhe é subtraído. Se o material coletado será usado para perseguição política, como alega o senador, que seja questionado judicialmente ou politicamente na campanha eleitoral. Mas o cidadão pago para fazer imagens, profissional ou não da área de comunicação, não pode ser impedido de realizar sua tarefa sob qualquer pretexto, assim como qualquer cidadão, com uma câmera ou um telefone celular na mão, também tem o direito de filmar ou fotografar o que bem entender em via pública.
Eduardo Braga esqueceu-se naquele momento de que é candidato a governador. Os números da pesquisa eleitoral o empolgaram a ponto de ele sentir-se imbuído do cargo de governador antes de travar a disputa e, como tal, achou-se no direito de “peitar” uma pessoa que está ali apenas realizando o seu trabalho. Foi assim que ele sempre agiu com os jornalistas dos jornais mais tradicionais de Manaus. Como governador, não foram poucas as vezes em que ele segurou o crachá de um jornalista e lhe repreendeu em público diante das perguntas indigestas. Também não foram poucas as vezes em que tentou mandar recado aos donos dos veículos de comunicação que ousaram lhe contrariar, constrangendo os jornalistas que o abordavam em eventos públicos.
Foram poucas as vezes que esses casos vieram a público, em certa medida, por covardia dos que decidem sobre o que sai publicado no dia seguinte e pela pouca importância que os veículos dão aos profissionais do jornalismo. No caso de Joel Reis da Silva, um simples fotógrafo amador, a repercussão foi diferente e ganhou status de “viral” nas redes sociais. Mas não nos enganemos: foi assim porque estamos em plena campanha eleitoral. E as imagens ainda devem ser usadas à exaustão até o fim do processo. Como disse um amigo nesses dias, o caso de Joel Silva pode ser tornar um novo “Ovo da Vanessa” da campanha de 2012.
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