A posse de Michel Temer e seus ministros, na tarde quinta-feira, 12, depois da fatídica quarta-feira que não terminou, foi um evento melancólico, constrangedor e deprimente. Explicando os adjetivos de traz pra frente, a cena mais deprimente talvez tenha sido a do aguerrido senador Aécio Neves (PSDB) aplaudindo, com um sorriso, estampado no rosto, o presidente temporário. O derrotado nas urnas em 2014 consegue um orgasmo assistindo ao coito alheio. A “vitória” desta quinta-feira, para Aécio, tem um sabor daquela comida que está na vitrine, mas o faminto não possui o necessário para adquiri-la, e se contenta em ver os de dentro saboreá-la.
Mas Aécio pode se orgulhar de seu partido ter dado uma contribuição extraordinária àquele momento. Afinal, foi do caixa do PSDB que saíram os R$ 45 mil que pagam a peça de acusação de Dilma Rousseff que resultou no afastamento da presidente. É do PSDB a figura símbolo do pedido de impeachment, Miguel Reale Jr., a confirmar aquilo que um dos últimos intelectuais respeitáveis do país, Milton Santos, classificou como “intelectuais que preferem ser statement“. Foram do PSDB grande parte dos recursos que financiaram as estruturas dos protestos nas ruas com o discurso “Fora Dilma” e “Fora PT”. Foi do PSDB a defesa mais aguerrida do impeachment na Câmara dos Deputados e no Senado. Tudo foi feito pelos derrotados nas urnas para o deleite de Temer.
O evento de posse também foi constrangedor pela “qualidade” dos ministros do novo presidente. A começar pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes (PSDB). Quando assumiu a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, em janeiro de 2015, o jornal o Estado de S. Paulo revelou que o nome dele constava em ações judiciais em nome da Transcooper, uma cooperativa de transportes investigada pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Mas isso não é tudo: os três ministros do PMDB nomeados por Temer são investigados na Operação Lava Jato: Romero Jucá, do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; Gedel Vieira Lima, da Secretaria Geral da Presidência; Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Henrique Eduardo Alves, do Turismo. Gedel Vieira Lima e Henrique Alves, com a nomeação, passam a ter “foro privilegiado” e só poderão ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal. Mas até agora, nenhum partido e nenhum seccional da OAB ingressou com ações na Justiça para impedir ou revogar a posse dos ministros, como fizeram com Lula, ao ser nomeado para a Casa Civil no governo Dilma.
Melancólico, porque frustrou as pessoas de boa-fé que foram às ruas exigir uma política mais decente. Temer, como bem mostrou as pesquisas de opinião, tem alto índice de rejeição; nas redes sociais, choveram emoticons de vômito, demonstrando a decepção e o repúdio ao novo presidente da República. Mas Temer é só a ponta do iceberg. Quem assistiu ao espetáculo da posse pôde perceber aquilo que o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) decantou durante o voto contra o impeachment no Senado: a volta dos velhos senhores da velha política carcomida, que nunca se afastaram do poder, mas que estavam segurando nas bordas. Agora, estão todos no comando. Viva a vitória das ruas!!!!!!
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