Por Ismael Benigno
Criticar as bobagens do pensamento juvenil não deixa de ser uma forma de protestar contra a minha idade. Pode ser uma explicação para o fato, mas o fato não deixará de ser fato por isso. Resumindo bem a moral da história entre a juventude e a idade adulta, é preciso admitir que a juventude é muito mais feliz, e a maturidade é muito mais sábia – e uma coisa depende inteiramente da outra. De modo que é necessário ser um tanto burro – e quase sempre jovem – para acreditar em algo maior do que a complexidade tediosa da natureza humana, matéria na qual nós, adultos, somos bons, infelizmente.
Acabou o “rolezinho” nos shoppings paulistanos. Como um dia acabou o “Fora do Eixo” e como também acabou a “Mídia NINJA”, pelo menos para o grande público. Com a diferença, entre o primeiro e os outros dois, de que os meninos da periferia de São Paulo não queriam derrubar, pichar nem depredar nenhum símbolo do capitalismo, como os fora do eixo e os ninjas. Pesquisa do Datafolha, publicada nesta quinta, mostrou que 82% da população paulistana condena os “rolezinhos” nos shoppings da cidade. A maioria dos negros e pardos é contra a bagunça e não vê, nos centros de compras, diferenciação de tratamento por causa de cor. É na zona leste, a parte mais pobre da cidade, que a aprovação é a menor, apenas 8%. Não custa repetir: a pesquisa ouviu moradores da capital e os rolés ocorreram, na maior parte das vezes, em shoppings da periferia – ou seja, lugares que já eram frequentados por aqueles jovens e por suas famílias.
De camisa social e barba feita, eu seria o típico conservador em qualquer mesa de boteco ruim de Manaus. Rodeado por cigarros, sandálias, camisetas, brincos e barbas, seria a antítese do que pede a noção vigente de modernização do mundo e dos costumes, todo aquele fenômeno secular de melhoria na percepção mundial sobre tudo e sobre todos, de revolução nos hábitos e nas tolerâncias, que geralmente acaba ali pelos 26, 27 anos de idade, com as exceções de praxe: professores universitários que pularam a adolescência, cinquentões que cresceram longe dos grandes centros e não puderam tomar cacetada dos militares, mocinhas engajadas das pizzarias de Higienópolis e meninos militantes dos gabinetes de Brasília.
A história do mundo mostra que os meninos estão quase sempre errados. Estar certo, nessas circunstâncias, não é nada prazeroso nem charmoso. Pelo contrário, é aborrecedor, afasta as moças, decepciona os rapazes e ofende os mais sensíveis. Se estivéssemos falando de paixões, carisma, sentimentos, textos e imagens de arrebatar o coração, eu estaria frito. De forma de, como autodefesa, preferi comentar as coisas que vejo por escrito, e não nos botecos ruins de Manaus. Porque quando se põem os dados sobre a mesa, com gráficos, números e respostas tabulados sob a luz de uma luminária de escrivaninha – aquele momento em que os jovens começam a bocejar –, eu e qualquer outro infeliz de 40, 50 anos é que estou certo.
Isto, claro, se estivermos dentro dos padrões estatísticos humanos planetários. Sim, a palavra “padrão” soa conservadora e parece pedir para ser desafiada. Mas é assim mesmo. A “complexidade tediosa na natureza humana” tem resistido à revolução social que, em dois séculos, produziu milhões de mortos no mundo inteiro e um punhado de slogans empoeirados, que fazem sucesso apenas em ambientes controlados, como os botecos ruins e as faculdades ruins de Manaus.
Fora deles, a vida segue. Pobre frequenta shopping há décadas, gosta de marca cara, é contra beijo gay em novela, assiste filme americano, quer viver melhor, viajar e beijar na boca na praça de alimentação. Sempre foi assim, é assim agora e seguirá sendo assim.
A esquerda é, como apontaram estudos científicos, frequentada por pessoas mais inteligentes. Eu diria que é a adolescência do pensamento. Tensa, irritadiça, apaixonante, romântica, carismática, fascinante e burra.
Mas ela acaba, meninos. Por favor, não a pulem, ela precisa ser vivida e aproveitada, senão vocês acabam virando professores universitários que pularam a adolescência, cinquentões com atração por farda militar, mocinhas engajadas das pizzarias de Higienópolis e militantes de gabinete de Brasília.
Fechem o caixão da última causa dessa esquerda hormonal, os “rolezinhos”. É hora de procurar novas “injustiças históricas” surgidas na última semana no Facebook. Uma dica: Já vi um movimento pela conscientização de quem joga chiclete no chão, pois passarinhos estariam morrendo ao confundir a goma com comida.
Mas se você já está perto dos 26, 27 anos de idade, é bom correr.