O povo brasileiro, ainda que por estreita margem, elegeu Dilma Rousseff e a quer governando o país por mais quatro anos. Ao mesmo tempo entendeu que Aécio Neves deve situar-se no campo da oposição, com o mesmo discurso que o levou a obter mais de 50 milhões de votos.
O Brasil mostra-se dividido entre o lulopetismo e seus adversários. Há muito ódio no saldo da disputa eleitoral, porquanto o jogo foi pesado. No vale-tudo do pleito, no faroeste dos programas eleitorais, nos debates e entrevistas, vencer tornou-se uma obsessão do PT. Nas redes sociais, sob o estímulo de lideranças raivosas e desesperadas, preocupadas em perder o poder, a militância lulopetista caluniou, injuriou e difamou o candidato oposicionista, com mentiras e informações falsas, intoleráveis numa campanha civilizada.
Foi assim que Dilma, o PT e seus aliados conquistaram novo mandato presidencial. Lula foi longe demais, ao chamar Aécio Neves de playboy e filhinho de papai, dentre outros adjetivos pesadíssimos. Na mesma linha, Dilma já o havia rotulado de bêbado e drogado, em debate na televisão. Também insinuou que o tucano trataria mal as mulheres, pelo simples fato de tê-la chamado de leviana. Ora, ora, neste ponto, o candidato do PSDB não se afastou um milímetro da verdade, uma vez que a petista não agiu com seriedade e valeu-se de dados e números que sabia inverídicos, com base em fontes inconsistentes, sem relação com a realidade.
Divulgar que o tucano acabaria com os programas sociais, na corrida enlouquecida pela conquista do voto em bolsões vulneráveis, vai além do comportamento leviano e infame. É o uso incerimonioso do ardil que vicia o processo eleitoral pela patranha disseminada em todos os meios de comunicação, espécie de guerra de guerrilha instrumentalizada pela fraude levada às últimas consequências.
Falar agora em diálogo e em estabelecer pontes, como anunciou a presidente, com a vileza que dominou a campanha, é um escárnio ou despropério. O certo é que houve e há claro antagonismo entre projetos e propostas, caminhos e visões sobre o Brasil, todos expostos ao longo do processo eleitoral. De um lado, como a própria fazia questão de frisar, Dilma Rousseff, com seus ranços estatizantes, atrasados e assistencialistas, leniente com a responsabilidade fiscal e tolerante com a inflação, a corrupção e o aparelhamento da máquina pública pelo PT; e, de outro, Aécio Neves, contemporâneo e desenvolvimentista, com percepções e concepções oxigenadas pela economia livre de peias imobilizadoras, somada à valorização da meritocracia como único instrumento eficaz de modernização da administração federal voltada para os interesses concretos da sociedade.
Razão assiste ao senador Aloysio Nunes Ferreira, vice de Aécio e vítima de acusações ultrajantes do PT e de seus ‘longa manus’, ao recusar o diálogo proposto pela presidente. Sustenta que Dilma não dispõe de autoridade moral para acenar com qualquer possibilidade de acordo político, porquanto a oposição correria o risco de ser apunhalada pelas costas. Acrescenta que jamais será sócio de um governo falido, nem cúmplice de um governo corrupto, definindo o espaço reservado ao PSDB e partidos afins no novo cenário político brasileiro.
É evidente que cabe à oposição fazer oposição e o discurso deve ser implacável, como fez com êxito o PT no passado, tanto é que conquistou o poder e nele permanece até hoje. E há nomes que podem interpretar o sentimento e aspirações que no momento desunem o povo brasileiro, sob a liderança de Aécio, ao lado de José Serra, Tasso Jereissati e do próprio Aloysio Nunes Ferreira.
Motivação é que não falta. Vencida a eleição, Dilma começa a fazer o que combateu e disse que não faria. Elevou logo de saída os juros básicos da economia, decisão atribuída aos tucanos no passado e tão criticada durante a campanha. Como é natural, virão em seguida os aumentos sucessivos nas contas de luz, gasolina, diesel e gás, com seus inevitáveis reflexos sobre os custos do transporte, alimentação e em vários outros setores, mantendo-se a inflação fora de controle e ameaçadora.
Impõe-se, de mais a mais, o combate sem tréguas à corrupção no governo. E os escândalos do Petrolão continuam em pauta, com desdobramentos imprevisíveis, que poderão levar a uma crise institucional de largas proporções, uma bomba a cada dia, detonada pelos delatores. Lá atrás, ao eclodir o caso do Mensalão, a oposição, quando tinha todas as condições de obter o impeachment de Lula, preferiu deixar o então presidente sangrando até esvair-se por completo. Um erro imperdoável. Ao contrário do que esperavam os oposicionistas, ao invés de desfalecer, reelegeu-se, e continua mais insultuoso do que nunca, lépido e fagueiro.
A hora é da oposição e basta saber aproveitá-la, no interesse maior da nacionalidade, da moralidade, da ética e dos bons costumes republicanos.
———————–