SÃO PAULO – Uma nova categoria de shopping centers se espalhou pelo País nos últimos anos, com praças de alimentação vazias e tapumes no lugar de vitrines. São os shoppings “fantasmas”. Hoje, quase metade das lojas dos empreendimentos novos, inaugurados a partir de 2012, está fechada. Se considerados todos os 498 shoppings centers em operação, o número de unidades vagas chega a 12,2 mil. Esses pontos comerciais ociosos somam uma área de 1,7 milhão de metros quadrados, o que equivale a 58 empreendimentos do tamanho do Pátio Higienópolis, em São Paulo, ou do Shopping da Gávea, no Rio.
Em Manaus, o shopping Vianorte é que tem o maior problema de esvaziamento. Mais distante das principais áreas de fluxo e comércio entre os shoppings da cidade, o empreendimento impressiona pelo grande número de lojas fechadas.
No ano passado a Associação Comercial do Amazonas divulgou o número de unidades vagas em três centros comerciais da cidade. Na época, o Vianorte tinha 69 lojas desocupadas. Localizado na periferia da cidade, ele chamou atenção na inauguração pela sua infraestrutura, mas isso não foi suficiente para atrair consumidores. Procurada, a administrações dos shoppings Vianorte não retornou os pedidos de entrevista.
Estudo/Ibope
A parcela de lojas vagas nos shoppings brasileiros, revelada por um estudo feito pelo Ibope Inteligência em parceria com a Associação dos Lojistas de Shoppings (Alshop), atingiu neste ano níveis recordes e já faz empreendedores reduzirem o aluguel e até deixarem de cobrar a locação para segurar o lojista. Nos shoppings consolidados e abertos até 2012, a vacância é de 9,1%, o dobro da média histórica. Nos shoppings novos, a ociosidade chega a 45%.
A combinação de dois fatores gerou essa situação: o fim da década de ouro do varejo e a construção desenfreada de novos empreendimentos. “Mesmo se a economia não tivesse entrado em parafuso, nós teríamos shoppings com problema de vacância”, afirma.
Fábio Caldas, do Ibope, um dos responsáveis pelo estudo. Só entre 2000 e 2015, segundo ele, foram inaugurados 259 shoppings. Muitos foram desenvolvidos por empreendedores que não eram do setor, atraídos pelo desempenho espetacular do varejo. Entre 2004 e 2013, o volume de vendas do comércio varejista, sem contar veículos e materiais de construção, cresceu 7,5% ao ano, segundo o IBGE. Em 2014 e 2015, o avanço foi bem menor: 2,2% e 3%, respectivamente.
No contexto de euforia do consumo, o negócio de shoppings parecia muito bom. “Mas, quando as obras foram concluídas, a oferta se revelou maior do que a demanda e os lojistas começaram a escolher para onde ir. Optaram pelos melhores projetos e alguns ficaram vazios”, explica Caldas.
Para o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, esta é a pior crise dos shoppings. “A situação é preocupante, com o fechamento de lojas e demissões”, diz. Neste fim de semana, ele esteve à frente do primeiro simpósio do setor, realizado em Punta Del Este, no Uruguai. O evento reuniu empresários para tratar dessas e de outras questões.
Desconto
Com a oferta maior que a demanda, Sahyoun conta que os empreendedores passaram a dar desconto no valor do aluguel. O abatimento pode variar entre 25% a 30% no caso de marcas tradicionais. Nos shoppings novos, há casos em que o aluguel deixou de ser cobrado e o lojista paga apenas o condomínio. “Eles preferem abrir mão do aluguel para não ter de arcar com outras despesas.”
Segundo Adriana Colloca, superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que reúne os donos de shoppings, os descontos estão ocorrendo pontualmente e variam caso a caso. Nas contas da entidade, a vacância dos shoppings fechou dezembro em 4% – um dos níveis mais altos desde o início da série da pesquisa. “Os novos sofrem mais do que os maduros”, afirma.
Na opinião de Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&BW, consultoria especializada em shoppings, a tendência é que a vacância continue crescendo, o que deve refletir nos investimentos.
Em 2016, estavam previstas 30 inaugurações, mas duas já foram canceladas segundo a Abrasce. Até 2019, 58 empreendimentos devem entrar em operação. “Mas, quando se olha para a frente, muita gente pode desistir”, diz Caldas.
Regiões mais afetadas
Os shoppings novos das regiões Norte e Centro-Oeste são os que têm os maiores índices de lojas vazias. Enquanto, no País, a ociosidade dos empreendimentos inaugurados entre 2013 e 2015 está em 45%, nos shoppings do Norte esse porcentual é de 56% e, no Centro-Oeste, de 53%, revela o estudo do Ibope Inteligência. Inaugurado em agosto de 2013, o Shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande (MS) tem 59 lojas fechadas e outros pontos de venda devem encerrar as atividades nos próximos meses. Só na última semana, três lojas encerraram as atividades: uma esmalteria e duas lojas de roupa, segundo lojistas ouvidos pelo Estado. A direção do shopping não respondeu aos pedidos de entrevista do Estado.
Com capacidade para 167 estabelecimentos, o shopping pretendia atrair o público principalmente por meio de grandes marcas, mas a crise não facilitou o processo. Até mesmo a praça de alimentação, que deveria ser um chamariz, vem perdendo unidades.
Um restaurante tailandês, que chamou atenção nos primeiros meses de inauguração, já não existe mais e o local está vago. Em fevereiro, um restaurante japonês também deixou de funcionar. Na praça de alimentação, que comporta 20 unidades, há pelo menos cinco fechadas.
No restante do shopping, a situação não é tão diferente. Basta percorrer os corredores para perceber que há poucos clientes e muitas lojas vagas. Até mesmo as âncoras – lojas maiores que costumam atrair mais movimento – deixaram o local, como a rede Walmart. Desde o final de 2015, quando o hipermercado fechou, o espaço continua vago. A marca Luigi Bertolli, em recuperação judicial, também saiu.
Entre lojistas, a sensação é de que mais lojas devem encerrar as atividades. “A crise atrapalhou e o movimento já está caindo bastante”, disse a comerciante Jaqueline Spuri, que trabalha com artesanato. “No mês passado, não vendemos o suficiente nem para pagar a conta de luz.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)