É comum nestas “Semanas do Meio Ambiente” as organizações da sociedade civil e do setor público distribuírem mudas e incentivarem a população a plantar árvores Brasil afora, como remédio para os problemas ambientais, que são graves e gritantes. Preservar as florestas e arborizar as cidades deveria ser uma política incessante e não apenas uma ação de curtíssima duração, como ocorre ano a ano. Mas outros problemas mais graves precisam ser enfrentados tanto pelo poder público quanto pela população.
Um dos principais problemas é o lixo. A cidade de Manaus é uma vergonha nacional. Cortada por igarapés e banhada por dois dos maiores rios do mundo, é enfeitada de lixo. Toneladas e mais toneladas de dejetos são retiradas todos os meses dos leitos dos rios e igarapés. As ruas são tomadas de todo tipo de lixo, atirados pelas janelas dos carros, pelos pedestres e até pela janela das casas.
Não se trata de conscientizar a população, como se ouve falar desde que o mundo é mundo. Falta criar na população um sentimento de pertença. A cidade precisa ser encarada como a casa de cada cidadão. Assim sendo, é necessário que se estabeleçam regras e punições para aqueles que as desobedecem. Jogam-se colchões velhos, restos de sofás, carcaças de fogões e geladeiras, pedaços de móveis nos igarapés e ninguém é responsabilizado por isso.
As indústrias também precisam ser responsabilizadas pela poluição das cidades. À época em que não existiam garrafas pets, toda população comprava refrigerante com as garrafas de vidro retornáveis. Havia um comércio de garras escuras responsável, às vezes, pelo sustento de famílias. Algum iluminado criou as garrafas descartáveis para aumentar o lucro das empresas, mas ninguém se deu conta de que causariam um prejuízo ambiental de largas proporções, como vem ocorrendo atualmente. Está na hora de mandar a conta para quem ganha dinheiro com esse lixo: as indústrias de plástico e de bebidas.
No programa Fantástico do último domingo, uma reportagem mostrou organizações da sociedade civil nos Estados Unidos que pregam o fim do uso dos canudinhos de plástico. Um acessório totalmente desnecessário nas refeições, mas que causam um estrago inestimável à natureza, pelo tempo que leva para se decompor. Qual a necessidade de usar um canudo para tomar um suco em um copo de vidro ou em uma lata de refrigerante? A água de coco não poderia ser servida em copos?
Alguns supermercados já estão eliminando a sacola plástica para “embalar” as compras. Por que não se obriga todos a fazerem o mesmo? Por que o cliente precisa colocar uma caixa de sabão em uma sacola plástica que em seguida vai para o lixo? Por que o consumidor não volta às origens, quando era obrigado a levar para a feira ou o mercado uma sacola não descartável para carregar as compras?
E finalmente, é preciso atacar o problema da poluição das águas. Em Manaus, centenas de milhares de toneladas de esgoto são despejadas nos leitos de rios e igarapés. Falta tratamento de esgoto. Por que países com poucos recursos hídricos conseguem tratar seus esgotos e o Brasil não consegue avançar nesse propósito?
Tratar o esgoto e retirar os canos que despejam dejetos nos igarapés é uma medida importante para convencer o cidadão a não jogar lixo nos cursos d’água. É caro? Não tenha dúvida, mas é infinitamente mais barato do que os gastos com saúde para tratar uma população que vive às voltas com as doenças provocadas pela falta de saneamento básico.
As comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente deveriam ser uma celebração pela vida saudável e não um amontoado de cobranças. Para que isso possa um dia acontecer, é necessário que todos botem a mão na massa, mas o poder público deve tomar as rédeas, senão nada vai mudar.
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