MANAUS – O depoimento prestado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 4 de março à Polícia Federal, foi liberado nesta segunda-feira, 14, no site da Justiça Federal do Paraná. Lula foi conduzido coercitivamente na 24ª fase da Operação Lava Jato, para prestar esclarecimentos aos investigadores na delegacia da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas.
O juiz Sérgio Moro suspeita que o ex-presidente tenha recebido vantagens indevidas das empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras, na forma de obras do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e do tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo.
Palestras de 200 mil dólares
Sobre as palestras de 200 mil dólares, o presidente disse aquilo que já havia falado em discurso que fez depois do depoimento: “Quando eu deixei a presidência todas as empresas de palestras, que organizam palestras de Bill Clinton, Bill Gates, Kofi Annan, Felipe Gonzales, Gordon Brown, todas as empresas mandaram e-mail, mandaram telegrama, mandaram convite, telefonaram, que queriam me agenciar para fazer palestra, nós então fizemos um critério de não aceitar nenhuma empresa para me agenciar, primeiro por cuidado político, que a gente não sabia quem eram, e segundo porque a gente queria fazer palestras selecionadas, ou seja, que a gente pudesse falar do Brasil, eu posso até mandar para vocês alguns discursos que eu faço, ou seja, a gente fazia discurso primeiro mostrando o que aconteceu no Brasil em 8 anos, que era o que todo mundo queria, e depois a gente dizia qual era o futuro do Brasil, o que o Brasil tinha de perspectiva para a frente, e decidimos cobrar um valor, todas as minhas palestras custam exatamente 200 mil dólares, nem mais e nem menos”
Sobre o Instituto Lula
Depois de explicar que o Instituto Lula foi criado com o objetivo de difundir as políticas públicas do governo dele, Lula é questionado pelo delegado federal e dá as seguintes respostas:
Delegado da Polícia Federal:- Certo. E para que o senhor fizesse isso,
o seu instituto atingir esses objetivos, o senhor conta com que fonte de renda no
instituto?
Declarante:- Doações, sim.
Delegado da Polícia Federal:- Doações sem contrapartida?
Declarante:- Sem contrapartida.
Delegado da Polícia Federal:- E a despesa, qual é a saída de…
Declarante:- Aí não sei, querido.
Delegado da Polícia Federal:- Não, não, eu não pergunto números, o
senhor autoriza que seja gasto…
Declarante:- Eu não autorizo porque eu não, no instituto hoje eu sou só
presidente de honra e você sabe que se um dia você for presidente de honra da
Polícia Federal aqui você não representa mais nada, ou seja, então o presidente de
honra é um cargo de honra só, eu não participo das reuniões da diretoria, eu não
participo das decisões, porque o instituto tem uma diretoria própria.
Delegado da Polícia Federal:- Nos últimos 10 anos quem decide pelo
Instituto Luiz Inácio Lula da Silva?
Declarante:- Nós últimos dez anos o instituto ficou, ficou, o instituto
começou a funcionar mais fortemente agora quando eu deixei a presidência, ele
funcionava muito antes de eu deixar a presidência, antes de eu ser presidente, no
tempo que eu fui presidente ele ficou morno, o último projeto nosso acho que foi o
Projeto da Juventude, e voltou agora à atividade, quando eu deixei a presidência.
Delegado da Polícia Federal:- E, quando o senhor deixou a
presidência, quem dirigia no sentido de autorizar despesas, investimentos feitos pelo
instituto?
Declarante:- Não, quem é o presidente do instituto é o companheiro
Paulo Okamotto.
Sobre os pedalinhos do sítio de Atibaia
A respeito do pedalinho e do sítio de Atibaia, Lula travou o seguinte diálogo durante o depoimento, com intervençoes da defesa:
Delegado da Polícia Federal:- É, tá certo. O senhor tem conhecimento se a dona Marisa ou algum familiar seu comprou algum bem como, volto a dar o exemplo, o barco, e mandou entregar no sítio?
Declarante:- Não sei.
Delegado da Polícia Federal:- Recentemente foi noticiado que tinha pedalinhos com inscrições.
Declarante:- Ela comprou, certamente que ela comprou.
Delegado da Polícia Federal:- E o barco…
Declarante:- Certamente que a dona Marisa adoraria ver os netos dela e outras crianças que fossem lá possivelmente passear naquilo.
Defesa:- Doutor, o senhor me permita uma intervenção, se a linha de investigação é que o sítio é do presidente e não dos reais proprietários, isso é prova documental, ou seja, o senhor tem aí a escritura, o senhor tem o cheque que comprou o sítio. O fato de frequentar, de ter pedalinho, de ter barco? Nós somos profissionais do direito, isso não transfere propriedade, isso a imprensa pode explorar, mas nós, operadores do direito, não podemos explorar isso.
Delegado da Polícia Federal:- Eu preciso dar oportunidade ao investigado pra que ele esclareça…
Defesa:- Qual seria o crime que o senhor estaria investigando por ter um barco e um pedalinho?
Delegado da Polícia Federal:- O mesmo que eu falei desde o início, que apura o registro da propriedade do sítio, e aqui o ex-presidente está esclarecendo…
Declarante:- Eu fico, acho que não é legal, eu fico constrangido de você me perguntar de pedalinho e de me perguntar de um barco de 3 mil reais, sinceramente eu fico…
Defesa:- Há uma questão muito importante nessa resposta agora, delegado.
Declarante:- Eu acho que depõe contra, não sei, depõe contra mim. Fica bem pra Veja, mas desde então…
Delegado da Polícia Federal:- Eu só estou lhe dando oportunidade de esclarecer o que tem sido publicado e o que realmente é verdade.
Defesa:- Delegado, uma questão só, uma questão, é que na ordem das perguntas há uma mistura temporal, por exemplo, ele falou só soube em janeiro, aí o senhor pergunta do pedalinho e tal, como se aquilo fosse à época, antes de ele sair da presidência. Então isso poderá, amanhã, numa tradução, imaginar o seguinte: ele, presidente, sabia que havia pedalinho como se fosse dentro da época que ele não tinha conhecimento. Então só vamos tentar esclarecer, deixar nas perguntas pra ficar explicado isso também, correto?
Delegado da Polícia Federal:- Sim. Todo momento que pode haver esse tipo de dúvida ou confusão temporal, os senhores têm toda a liberdade de pedir pra que seja esclarecido.
Defesa:- Vou só deixar esclarecido então que a questão do pedalinho e do barco é bem posterior, é coisa de 1, 2 anos atrás, não se misturando com os fatos que eram de 2010, final de 2010, 2011.
Declarante:- E a imprensa foi atrás da nota do pedalinho.
Delegado da Polícia Federal:- Sim, sim. Mas esse é o momento para a gente esclarecer. E os senhores têm toda a liberdade de pedir pra que seja esclarecido.
Declarante:- Eu fico chateado de ver um Delegado de Polícia Federal se preocupar com pedalinho (ininteligível).
Delegado da Polícia Federal:- Eu só tenho uma preocupação aqui, é lhe dar oportunidade para o senhor responder isso.
Declarante:- É o pedalinho.
Defesa:- É o que eu acho, doutor, me desculpe, a questão da propriedade, quer dizer, então existe uma escritura do sítio onde constam duas pessoas, “Ah, quem pagou?”, na escritura consta o cheque que pagou, então se tem esse caminho, quer dizer, a menos que haja algum tipo de vício nessas declarações, o fato de ter um pedalinho, de ter um barco, de ter o que for lá dentro, não pode tornar o ex-presidente proprietário. Então, eu acho que, assim, o que eu pediria é que nós pelo menos levássemos em consideração que há esses documentos, que são públicos, têm fé pública, certo? Então fazer perguntas em torno de aspectos que não podem contribuir…
Delegado da Polícia Federal:- Doutor, as perguntas que estão sendo feitas é para esclarecer justamente documentos que ainda não foram esclarecidos e isso só ajuda ao seu cliente a esclarecer. Isso chama ampla defesa. Então se eu estou com uma dúvida e eu estou conduzindo uma investigação, eu sou obrigado a perguntar, o seu cliente não é obrigado a responder.
Defesa:- Eu sei disso, eu só estou colocando esta questão pra lembrar ao senhor de que há esses documentos que têm fé pública…
Declarante:- Agora, se eu não responder mais é porque eu me sinto envergonhado de falar no pedalinho.
Leia íntegra do depoimento: