O MP-AM (Ministério Público do Estado) abriu um procedimento investigatório criminal (002/2015) para apurar denúncia de fraude no resultado do 50º Festival Folclórico de Parintins, “envolvendo suposta malversação do dinheiro público e suposta prática de interceptação telefônica em desacordo com a Lei 9.296/96”, que proíbe gravações de ligações telefônicas sem ordem judicial. O procedimento foi instaurado no dia 29 de junho e publicado no Diário Eletrônico do MP-AM desta quarta-feira, 01. O caso ficará sob a responsabilidade dos promotores de Justiça Flávio Mota Morais e Yara Rebeca Albuquerque.
A investigação do MP-AM tem como base o vazamento de áudios, no último domingo, 28, com conversas atribuídas ao artista Chico Cardoso, que integra a equipe da Associação Boi-Bumbá Caprichoso, o empresário Armando do Valle e uma terceira pessoa identificada como “Kid”, sobre uma manobra -, que já estaria assegurada – com a compra de jurados para eleger o bumbá azul e branco campeão de 2015. Caprichoso foi campeão este ano.
O áudio editado em formato de vídeo sobre a conversa começou a circular na internet antes da última noite do festival e mobilizou as diretorias de Garantido e Caprichoso. Na primeira noite de apresentação, na sexta-feira, 26, o Caprichoso chegou a pedir o cancelamento das notas dos jurados em função da chuva que atrapalhou a apresentação do boi. No dia seguinte, a diretoria do Caprichoso recuou e apresentou um novo documento à Secretaria de Estado de Cultura desistindo do cancelamento das notas.
A diretoria do Garantido, de acordo com uma fonte que participou das reuniões do festival, estranhou que o Caprichoso tenha pedido a validação da primeira noite. Em seguida, a diretoria tomou conhecimento do áudio, que chegou à agremiação vermelho e branco em um pen drive. Na primeira conversa, Armando e Chico citam o nome de Márcio como a pessoa que conseguiria o dinheiro. Trata-se, segundo apurou a reportagem, de Márcio Azedo, sobrinho do presidente do Caprichoso, Joilto Azedo.
O áudio
O áudio, inicialmente, traz uma conversa entre Armando do Valle e Chico Cardoso. Ambos eram ligados ao Garantido até o no passado e neste ano estão no Caprichoso. Chico Cardoso já foi presidente da Comissão de Arte do Garantido e, depois que Adelson Albuquerque assumiu a presidência do boi, ele foi afastado, e neste ano assumiu a diretoria do Conselho de Arte do Caprichoso. Armando, na gravação, cobra o dinheiro para pagamento, mas não fica claro se é de jurados.
Depois, os dois voltam a conversar, desta vez a respeito do cancelamento da primeira noite do festival. “Pelo feedback lá da Roberta, não sei se vale a pena cancelar a noite não, hem! Acho que vocês precisam avaliar bem isso”, diz Armando. Chico responde que já foi cancelada, e ouve de Armando: “pqp, nós fomos muito superior a eles na opinião dos jurados (sic)”. Na mesma conversa, eles falam de notas dadas pelos jurados a três itens do boi Caprichoso.
Na terceira gravação, Chico Cardoso conversa com um homem que se identifica como Kid. Eles conversam sobre o processo de escolha dos jurados e Kid explica as orientações dadas aos escolhidos. “Então a porrada é assim Chico. Eu falo olha meu irmão é 10 (pro Caprichoso), 9,5 e 9 (pro Garantido)”. Kid diz que dois jurados estão assegurados. “Mas a instrução é essa bicho dar porrada lá, e aqui a gente ficar de boa. Com essas duas notas no A e no C pode correr pro título segunda-feira”, afirma Kid.
Os dois jurados que Kid comemora são David Farias de Alagoas e Alda Lúcia Monteiro de Souza de Brasília ambos do Bloco C. A Gravação deixa claro como funcionou a sedução aos demais jurados. David Farias entrou na comissão julgadora com a intenção de dar notas máximas para o Caprichoso e conquistar novos adeptos da causa. “A gente já encostou no cara lá de Goiânia, que é do mesmo bloco dele, e o viadinho também”, afirma Kid na gravação.