Da Redação
MANAUS – Delatora do processo 4109/2017, resultado da Operação Maus Caminhos, a enfermeira Jennifer Nayara Yochabel disse em depoimento, na terça-feira, 14, que o médico e empresário Mouhamad Moustafa brigou com o ex-secretário de Saúde Wilson Alecrim, o que evitou de o INC (Instituto Novos Caminhos) ficar com a administração do Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz, na zona Norte de Manaus.
Segundo a enfermeira, que foi presa na operação e se tornou delatora no processo na Justiça Federal, Mouhamad queria que o contrato de gestão da unidade hospitalar fosse para as mãos do INC. O INC é a Organização Social por meio da qual se desviou mais de R$ 150 milhões – valores atualizados – dos cofres da Susam (Secretaria de Estado de Saúde), segundo investigação do MPF (Ministério Público Federal), CGU (Controladoria Geral da União) e PF (Polícia Federal).
“O instituto ia entrar também no (hospital) Delphina Abdel Aziz, e por uma briga entre o Dr. Mouhamad e o secretário de saúde (Wilson Alecrim), passou-se para uma outra OS (Organização Social), que é o Imed (Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento)”, disse Jennifer.
Jennifer não deu detalhes sobre o contexto desse desentendimento entre Mouhamad e o ex-secretário de Saúde. Em junho de 2014, depois da suposta briga, o Imed passou a administrar o hospital da zona Norte. Assim como o INC, a OS que administra o Delphina Aziz era totalmente desconhecida no Amazonas, e tem sede em São Paulo.
Também como o INC, o Imed opera no setor de Saúde do Estado por meio de contratos sem licitação. Recentemente, a OS ganhou um contrato de R$ 8 milhões para realizar cirurgias dentro do hospital que já administra desde 2014. Este contrato foi firmado na gestão do governador interino David Almeira (PSD).
Das 2,3 mil cirurgias contratadas, o Imed realizou menos de 50%. Na semana passada, a Susam informou que prorrogou o contrato por mais 30 dias. O contrato é alvo de investigação do TCE (Tribunal de Contra do Estado) a pedido do MPC (Ministério Público de Contas).
Levantamento do ATUAL no Portal da Transparência do governo, publicado em setembro, mostrou que o Imed foi a terceira OS que mais recebeu dinheiro do Estado no primeiro semestre de 2017. Foram R$ 30,5 milhões de janeiro a junho.
Jennifer Mayara sustenta em seus depoimentos que Mouhamad era o dono do INC e das empresas que prestavam serviços para o Instituto em três unidades de saúde do Estado (a Salvare, a Total Saúde e a Siema). Segundo ela, o médico comprou a OS de duas pessoas em São Paulo. Quando foi presa, a enfermeira presidia o instituto. Colaboradora da Justiça, ela responde ao processo em prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica.
Outro lado
Mouhamad nega que tenha sido dono do INC. Em depoimento nesta sexta-feira, 17, o médico também negou que tenha cometido ilegalidade nos contratos que manteve com a Susam. Ele chegou a ser solto, mas voltou para a cadeia em outubro, depois de ter violado o limite do perímetro urbano de Manaus.
O médico disse que é dono de apenas duas empresas, a Salvare e a Simea, que é uma cooperativa médica, e que era apenas um prestador de serviços para o INC.
A enfermeira disse, no depoimento de terça-feira, que Mouhamad Moustafa comprou o Instituto Novos Caminhos, que já existia em São Paulo desde o ano 2000. Segundo ele, o instituto pertencia ao um pastor evangélico e foi adquirido por R$ 300 mil. O médico nega que tenha comprado e disse que a história foi inventada pela enfermeira.
No mesmo depoimento, Jennifer disse saber de pagamentos de propina ao senador Omar Aziz (PSD) e aos ex-secretários Wilson Alecrim e Pedro Elias. Este último seria beneficiado com pagamentos de um apartamento do filho dele, segundo a enfermeira.
A enfermeira também disse que o INC queria administrar o (HUFM) Hospital Universitário Francisca Mendes. Segundo ele, o instituto chegou a fazer um projeto para apresentar ao governo. O hospital é atualmente administrado por Pedro Elias.