Por Patrícia Borges, da Redação
MANAUS – A cultura indígena ocupou o Teatro Amazonas e levou centenas de pessoas às apresentações durante duas noites, na quinta e sexta-feira, 9 e 10. O evento também serviu para o intercâmbio cultural entre povos indígenas de Manaus e de municípios das regiões do Rio Negro e Alto Solimões.
Com a proposta de reforçar a cultura como instrumento de identidade e dar visibilidade à música feita pelos povos originários, o ‘Wiyae’ (Nosso Canto) – 1ª Mostra de Música Indígena do Amazonas apresentou 18 grupos de diversas etnias que expuseram elementos musicais da cultura tradicional e da contemporaneidade difundida nas aldeias e comunidades.
Tikuna, etnia mais numerosa na Amazônia brasileira, Sateré-Mawé, Munduruku, Dessana e outros habitantes do Alto Solimões e do Rio Negro passaram pelo palco do teatro.
A cantora Djuena Tikuna abriu o evento cantando o Hino Nacional na língua Tikuna acompanhada pela Orquestra Filarmônica sob a regência do maestro Marcelo de Jesus. Outra participação especial foi a do grupo Raízes Caboclas que acompanhou alguns grupos, nas duas noites, em perfeita harmonia.
Entre as atrações da primeira noite, o jovem músico de Tabatinga Guildy Blan, representante da música indígena contemporânea, dominou o palco apresentando o que intitula de Reggaeton Tikuna e fez o teatro lotado interagir com suas canções.
Djuena Tikuna se apresentou também acompanhada dos Raízes Caboclas. ‘São 518 anos de resistência dos povos indígenas’, disse Djuena durante a apresentação. A cantora e produtora do evento foi a primeira artista indígena a protagonizar um evento no Teatro Amazonas, lançando o disco “Tchautchiüãne” (Minha Aldeia), em agosto de 2017.
Segundo Djuena, a Mostra ‘Wiyae’ é só o começo de uma história de luta e resistência que os povos indígenas querem cantar. “Mostramos a união dos povos para celebrarmos a música, nossa cultura e ancestralidade. Queremos mostrar quem somos sem o romantismo exótico que a sociedade nos imagina. Nossas danças, nossos cantos precisam ser entendidos como um patrimônio cultural, e por isso devem ser respeitados”, ressalta Djuena.
Marlui Miranda, cantora e pesquisadora da cultura indígena cantou ‘Araruna’, canto dos índios Parakanã do Pará adaptado em belíssimo arranjo de Marlui, sendo hoje um importante registro do cancioneiro popular. Marlui e Djuena encerraram a noite cantando a animada ‘Maraka’anandê’ (A festa dos nossos marakás), tradicional do povo Ka’apor adaptada por Djuena.
A segunda noite da mostra recebeu um público ainda maior, ultrapassando a capacidade do teatro, por isso alguns interessados ficaram de fora. Entre as atrações destacaram-se a emocionante apresentação do músico Andre Saterê e as animadas performances de José Tikuna e do grupo Marupiara de São Gabriel da Cachoeira, comandado pelo compositor Ademar Garrido. Segundo Garrido, a proposta do grupo é levar a mensagem do povo rionegrino por meio da música.
A mostra contou ainda com uma exposição de artesanato indígena no Largo São Sebastião.
O evento foi realizado com o apoio do Governo do Estado, por meio da Fei (Fundação Estadual do Índio) e dos artistas indígenas, em parceria com a Amazonastur, Secretaria de Cultura e organizações de referência do movimento indígena como Copime (Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno), Coipam (Coordenação dos Povos Indígenas do Amazonas), Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Foreeia (Fórum de Educação Escolar Indígena) e Rede de Mulheres Indígenas Makira Eta.
Confira todos os grupos e artistas participantes:
Quinta-feira, 9 – Djuena Tikuna e Orquestra Amazonas Filarmônica, Kariçu Mamaphia, Grupo Munduruku, Guildy Blan, Andre Saterê, Sahuape (Ritual Tucandeira), Grupo Wotchimaücü, Grupo Eware (Ritual da Moça Nova) e Marlui Miranda.
Sexta-feira, 10 – Ritual Justino Tukano e José Tikuna, Grupo Baayaroá, Grupo Inhambe Kurin, Weena Tikuna, Grupo Bajuna, José Tikuna, Grupo Waruna, Elizete Tikuna, Yra Tikuna, Grupo Yo’I e Grupo Marupiara.