O Bat-sinal ficou sem resposta e a Bat-caverna, vazia. No último sábado (10), morreu, aos 88 anos, o ator americano Adam West, que fez parte da memória afetiva de crianças de várias gerações. De janeiro de 1966 a maio de 1968, West interpretou o herói mascarado na icônica série ‘Batman’.
O jeito canastrão do ator combinou com o tom do programa: humor escrachado e visual colorido que renderam um sucesso instantâneo e até hoje “reverenciado”. Em suas primeiras semanas, de cada 100 televisores dos EUA, pelo menos 49 sintonizavam o programa do Homem-Morcego. No Brasil, a saga do ‘cavaleiro das trevas’ também causou estardalhaço.
Ao todo foram 120 episódios. Uma das mais engraçadas características da atração eram as onomatopeias (84 no total) que surgiam na telinha quando Batman e Robin partiam para a pancadaria com os capangas dos antagonistas: SMASH! POW! BIFF! SOC! POOF! CRASH! BOING! UFFF! ZAPP! KAPOW!
Também marcou época o vocabulário de Robin que sempre falava algo como ‘Santa Armadilha’ ou ‘Santa ingenuidade’. Os fãs contaram 352 variações da frase.
O ajudante do Batman também protagonizou a história de bastidor mais inusitada da série. A censura da época atazanou os produtores por conta de um pequeno grande detalhe: o volume na sunga do Robin. O ator Burt Ward chegou a usar duas sungas, mas os censores continuavam incomodados com o menino prodígio.
O estúdio chegou ao cúmulo de enviar o intérprete de Robin a um médico ‘especializado’, para que ele pudesse tomar pílulas para diminuir o tamanho dos órgãos genitais ou fizesse uma cirurgia de redução peniana. Por fim, santa solução: a emissora resolveu a questão filmando Robin somente em plano americano, ou seja, da cintura para cima.
Por certo, um dos maiores motivos de sucesso do seriado eram os vilões e seus planos mirabolantes para dominar Gotham City. Os mais marcantes desse rol maquiavélico certamente foram a sensual Julie Newmar interpretando a Mulher-Gato, Cesar Romero como o Coringa e Burgess Meredith como o Pinguim. Outra curiosidade do show: Romero não aceitou nenhuma oferta para raspar o seu bigode, o que obrigava a produção a caprichar na maquiagem. Olhando atentamente, porém, é simples perceber os fios do bigode escondido.
Outra marca do seriado era a presença de um narrador, que encerrava os episódios salientando que o próximo seria exibido ‘nesta mesma Bat-hora, neste mesmo Bat-canal’. Uma estratégia de formação de hábito, mas que também se tornou um bordão popular.
Recentemente, muitos torcedores brasileiros devem ter sentido falta de uma regularidade e um costume. Depois de décadas, dois jogos seguidos da Seleção Brasileira não foram exibidos no ‘Bat-canal’ de sempre: a Rede Globo.
No caso, os dois últimos amistosos – um contra a Argentina (derrota por 1 a 0) e outro contra a Austrália (vitória por 4 a 0) – foram transmitidos pela CBF através da internet e da TV pública, a TV Brasil. Tudo por causa de uma briga cheia de SOC! CRASH! E POW! Entre duas entidades que gostam de usar a fantasia de herói do esporte: CBF e Rede Globo. Só que dessa história, ninguém sabe quem é o mocinho.
Tudo era mais simples na série do Batman. Lá, era muito fácil saber quem eram os vilões. Malvados do tipo que, quando capturam o herói, fazem questão de contar os detalhes do plano maléfico. Hoje, porém, só escutamos o “plano do bandido” quando escapa alguma gravação. Há ainda os piores, sempre com uma desculpa ou um álibi preparados. Mas se prestarmos bastante atenção, é possível enxergar ‘o bigode oculto na maquiagem’.
E vinha exatamente dos vilões de Batman a mais importante lição da série. Boa parte dos episódios encerrava com a dupla dinâmica imobilizada, amarrada e presa numa armadilha mortal. Uma arapuca que parecia não ter escapatória! No episódio seguinte, porém, Batman e Robin sempre conseguiam se safar de maneira triunfal.
O Bat-ensinamento? Quando o problema parecer incontrolável, impossível e a situação, desesperadora, é bem-vinda a ‘santa paciência’. A solução triunfal, pois, pode chegar no ‘episódio’ seguinte.
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