Não acreditei quando Marin e Del Nero, dois deuses do futebol, anunciaram o Gilmar Rinaldi para reinventar o finado futebol brasileiro. Vamos ao melhor exemplo que Gilmar, o Rinaldi, dá para o futebol brasileiro. Ele administrou a vida atlética do craque do Flamengo, Adriano, o Imperador. Imperador?
Esperei a terça-feira para confirmar que era uma pegadinha de última o nome do famigerado Dunga. Um comediante da Globo, em tirada inteligente, disse: “O Dunga pode ser treinador de qualquer coisa, tipo MMA ou boxer, mas está muito longe de ser um ‘professor’, um treinador de futebol. O ódio que ele consegue destilar sobre as pessoas que o fazem responder sobre a seleção, é qualquer coisa de impressionante, digno de ser narrado pelo José Mojica Marins, o simpático Zé do Caixão.”
Então, aparece um novo Dunga, terno brilhante, com fios de ouro, cabelos bem cortados e penteados, sorriso estudado, prometendo tratar a todos como iguais e tudo o que existe no Manual do Escoteiro.
Quanta desfaçatez!
Quem teve a oportunidade de ler o livro, ou assistir ao filme “O Médico e o Monstro”, e eu vi o original na Disney, sabe que o médico bonzinho nunca existiu e que era uma extensão do monstro. O Dunga fez com que eu lembrasse da Disney muito mais que do monstro. Em nenhum minuto disse o que pretende mostrar ao Brasil, dos anos de estudos profundos do futebol, em que ficou parado no seu Rio Grande do Sul.
É bom que se diga que o Dunga é um bom caráter, um dedicado treinador, foi um disciplinado e aplicado jogador, mas tudo indica que será um corta-luz para que os velhos coveiros do futebol brasileiro estendam seus tentáculos.
Vamos dar uma pensada no nosso Palmeiras.
O Palmeiras tem escolinhas, sub-15, sub-17, sub-20 e um plantel de quarenta jogadores. Os jogadores pertencem, desde os 10 anos de idade, aos seus dignos procuradores. Eles sabem que estão ali só para um pit-stop. A camisa que eles sonham em vestir é a do Barcelona, do Madri, do Chelsea e, no pior dos mundos, a do Paris Saint-Germain. O time esmeraldino, hoje, é composto por seis estrangeiros e cinco brasileiros. Os brasileiros, só de passagem, como todos sabemos, mas todos com médicos, nutricionistas, psicólogos, fisiculturistas, academia com aparelhos mais modernos e sofisticados que as do Madri. Para quem todo este investimento? Para o Brasil chorão? Para os espertalhões que vendem os craques, colocam o dinheiro nas suas contas de paraísos fiscais e passam o troco do caixa?
Essa conta não tem como fechar.
Não se sabe. O que o Brasil sabe e chora é que por aqui não se tira três jogadores dos cinco melhores clubes do Brasil para fazer uma seleção que seja competitiva frente ao Equador, ao Chile, à Venezuela ou à Costa Rica.
Prometo não falar ou escrever mais sobre o Dunga e Gilmar. Eles não são os culpados pelas nossas lágrimas.
Vamos acreditar no preparo físico como construtor de grandes processos táticos, e no drible como desmontador de esquemas fechados e alegria no futebol. Enquanto corríamos, nesta Copa, sete quilômetros por jogo e diminuíamos a cada encontro, por falta de treinamento, Bastian Schweinsteiger, o meio campista alemão, começou as primeiras partidas correndo dez quilômetros e, na final, correu dezesseis quilômetros.
Quem viu um drible nesta Copa do Mundo em que fomos os melhores anfitriões do planeta? Messi, Robben e James se esquivavam dos adversários e protegiam a bola. Só o Neymar varava como um raio-x. Neymar quebrou e a Copa ficou sem dribles.
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Roberto Caminha Filho, economista, acredita na recuperação do futebol brasileiro por técnicos estrangeiros e competitivos.