Por Allan Gomes, especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – Na última sexta-feira, 13, o deputado federa Marcos Rotta (PMDB) recebeu o colaborador Allan Gomes, do AMAZONAS ATUAL, no estúdio onde grava o programa ‘Exija Seus Direitos’. Ainda na bancada do programa, após a gravação, o deputado conversou sobre sua atuação como presidente da CPI do BNDES, avaliou a conjuntura política do Congresso e as votações polêmicas no parlamento ao longo ano, além da situação de instabilidade pela qual passa seu colega de partido e presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Rotta conversou, ainda, sobre a conjuntura para as eleições 2016 e disse a orientação do PMDB é a de ter o maior número de candidatos às prefeituras dos municípios amazonenses. Naturalmente reticente sobre a possibilidade de ser candidato à prefeitura de Manaus, o deputado afirmou que está disposto a colocar seu nome na disputa caso o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga não tenha interesse em se candidatar para a disputa do próximo ano.
Em seu primeiro mandato como deputado federal, Marcos Rotta tem procurado se manter próximo ao tema sobre o qual construiu sua carreira política: Defesa do Consumidor. Confiram a conversa com o deputado:
AMAZONAS ATUAL – Como está sua atuação na Comissão de Defesa do Consumidor, e aqui, à frente do programa [Exija seus Direitos]? Não houve um afastamento dessas bandeiras com as quais o senhor construiu sua trajetória política?
MARCOS ROTTA – Não. É algo que eu faço com muita satisfação e muita responsabilidade. Dezenove anos é um tempo bastante longo, e você cria uma identidade muito grande com as pessoas. Então, graças a Deus que nós nos tornamos referência em muitos casos. Na procura de pessoas desaparecidas – nesses 19 anos foram cerca de 300 pessoas encontradas -, temos quadros específicos para isso. Temos um quadro chamado “A hora da esperança”, que possibilita a pessoa empreender, realizar seus sonhos, seus desejos. Às vezes fazemos parcerias com empresas e disponibilizamos para que a pessoa possa implementar seu próprio negócio. Esse contato que eu tenho com as pessoas já me proporcionou fazer leis, promover audiências públicas, enfim, aperfeiçoar a minha atuação legislativa, por conta dessa lida e com as conversas com as pessoas. Porque não tem outra forma melhor de saber o que se passa com as pessoas do que conversando. Então, eu acho que a todo homem público é dada essa obrigação de saber ouvir. É claro que depois, já dentro da Assembleia [Legislativa], nós estendemos a questão dos direitos do consumidor. Fui por muitos anos presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, e conseguimos empreender uma nova visibilidade para a própria comissão. Por iniciativa minha a ALE alterou a constituição do Estado, aumentamos as prerrogativas legais da comissão. A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia hoje pode fazer blitz, pode fazer fiscalização, apreender produtos, pode realizar audiências, pode se reunir em qualquer ponto do Estado. Isso tudo está embutido na constituição. Além do que, se pode fazer audiências conciliatórias. Quando o consumidor procura a comissão para reclamar, nós convidamos a outra parte, para buscar a solução. Agora, estou na comissão da Câmara dos Deputados. É outro nível. Aquilo que eu não consegui empreender aqui como deputado estadual, por conta da limitação, nós estamos procurando implementar na Câmara.
ATUAL – Como o projeto que institui uma espécie de “multa a favor do consumidor”?
ROTTA – É. Nesse caso eu estou na relatoria. E a proposta é criar uma alternativa ao poder Judiciário. O projeto é de autoria da deputada Maria Helena (PSB-RR), e permite ao poder público instituir a multa civil. É mais um instrumento de penalização àqueles que descumprem as regras, se aprovado. E eu espero que seja aprovado. As empresas atuam com um lobby muito grande dentro do Congresso contra esse projeto. Eu, pessoalmente, sofri muita pressão, mas não abri mão de dar ao Poder Judiciário mais uma alternativa, porque não é justo que um banco, por exemplo, que tem lucros bilionários seja apenado por descumprir uma regra, uma lei, com R$ 1.200,00, R$ 1.500,00 por dano moral. Então eu acho que o Poder Judiciário precisa ter um instrumento a mais para chamar essas empresas à responsabilidade.
ATUAL – É o que está acontecendo agora na situação do rompimento de barragens em Mariana (MG), onde se cogita uma multa de R$ 250 milhões, que não é nem o suficiente pra começar a reparação dos danos.
ROTTA – Isso aí seria o último recurso [a multa]. O ideal seria é que os responsáveis pela barragem não deixassem chegar aonde chegou. As multas são um instrumento de justiça. Porque quando um consumidor deixa de fazer a sua parte ele é apenado, então quando uma empresa deixa de fazer a sua parte é preciso sofrer uma sanção, é preciso ser apenada.
ATUAL – Neste ano tramitou na Câmara dos Deputados o PL 4248, que dispensa as indústrias de informarem no rótulo se o produto tem origem transgênica. O senhor foi a favor. Não seria uma contradição na luta pelos direitos do consumidor permitir que não se tenha essas informações nos rótulos?
ROTTA – Mas hoje no Brasil é praticamente tudo transgênico. Existe uma celeuma muito grande. Acho que melhor do que você identificar o que é produto transgênico é você aclarar o que é o transgênico para a sociedade. Desenvolver pesquisas mais profundas do que temos hoje, em relação ao transgênico. Porque nós tivemos, na própria comissão [de defesa do consumidor], debates a respeito disso, diversos especialistas foram lá, e garantiram que não existe qualquer tipo de problema na ingestão de produtos transgênicos. Então nós fomos, pelo menos a grande maioria dos parlamentares, convencidos dessa questão. Agora, eu acho que existe uma certa dúvida ainda quanto a isso e falta, por parte do poder público, através de estudos, pesquisas, um maior esclarecimento da população quanto a essa questão, inclusive da necessidade da produção de transgênicos.
ATUAL – Ainda assim, não feriria o direito do consumidor não ter essa informação [de que está consumindo um produto transgênico]?
ROTTA – [O consumidor] Tem direito à informação, e eu acho que ele fica resguardado dessa questão, não exatamente por conta dessa concepção que todo mundo tem. O transgênico é um produto que está hoje inserido na grande maioria dos alimentos brasileiros, e acho que é desnecessário você colocar que aquele produto ou aquela marca possui origem transgênica. Eu defendo que você informe à população o que é um produto transgênico e que ele não causa malefícios à saúde.
ATUAL – E na CPI do BNDES, o senhor como presidente, acredita que o governo está criando dificuldade para o trabalho da comissão?
ROTTA – Está, mas o governo teve algumas supostas perdas, com convocações muito emblemáticas. Conseguimos aprovar a convocação do sobrinho do Lula [Taiguara Rodrigues, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente], quebramos o sigilo de empresas ligadas ao governador Pimentel [Pepper Comunicação Integrada e OPR Consultoria Imobiliária, ligadas à Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais], que também deu uma repercussão muito grande, houve o vazamento das informações do Coaf, comprometendo o presidente Lula, Antônio Palocci, Erenice Guerra, o próprio Pimentel… despertaram preocupações, e o governo lutou bastante. Mudaram peças dentro da CPI que eram governistas, não eram tão governistas assim. Oscilaram um pouco, votaram com o governo, depois não votaram, então eles tiraram essas peças que eram ponto fraco e colocaram o pessoal que é tropa de choque, 100% governista. E o resultado disso foi que na última reunião deliberativa, por exemplo, tivemos o Palocci na pauta, foram 16 votos contrários e 6 votos favoráveis. Como se pode ver, eles estão blindando. Só que às vezes eles exageram muito na questão da blindagem, o Taiguara, por exemplo, era um temor, sobrinho do Lula, poderia causar danos irreparáveis, acabou que não gerou nenhum tipo de problema. Ele chegou lá dizendo que tava quebrado, o apartamento estava sendo leiloado, que não tinha mais nada, e foi desmontando toda aquela expectativa que tinha gerado. Então o próprio governo se desgasta exagerando nessa questão da blindagem. Na terça-feira [próximo dia 17 de novembro ] vamos levar o Eike Batista, que pode ser um problema, mas na quinta [dia 19 de novembro] vamos leva o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro. Então, o governo cede em alguns pontos e em outros deixa correr solto. A tática do governo é muito… muito difícil de ser compreendida…
ATUAL – Parece não haver coordenação?
ROTTA – Não tem coordenação. Exatamente. Um hora eles agem de forma muito contundente, muito organizada, e na outra eles se diluem, não se entendem e acontece o que aconteceu na última deliberativa. A oposição se organizou – mérito da oposição -, viu a fraqueza da situação, quando o governo percebeu, montou a tropa de choque, mas aí esvaziou o plenário pra derrubar a sessão, pra não ter quórum pra deliberar, a oposição se mobilizou, arrumou mais pessoas, preencheu [o quórum mínimo] quando o governo voltou, já tinha passado [a votação].
ATUAL – Além da convocação de pessoas, existem outras ferramentas que a CPI pode utilizar, como pedidos de quebra de sigilos, solicitação de documentos, etc. A movimentação dos parlamentares governistas não vai impedir que se tenha um trabalho mais aprofundado?
ROTTA – Eu acho que não. Eu tenho muita confiança no deputado José Rocha (PR-BA), que já tem muitos mandatos na Câmara, e sabe da responsabilidade que tem. O papel do presidente é o de criar a estrutura para que a CPI possa funcionar, e também dirigir os trabalhos. Então, nós chamamos o TCU, chamamos a Polícia Federal, o Coaf, a CVM, o Banco do Brasil, a Receita Federal. Todos esses órgãos têm técnicos à disposição da CPI e do relator, para que eles possam colaborar na apreciação dos documentos que estão lá. Por que nós temos mais de 8 milhões de páginas de documentos que foram solicitados envolvendo os financiamentos do BNDES. Então, é claro que se o governo exagerar na dose, como vem fazendo, pode sim, prejudicar. Agora, nós temos também que ter o equilíbrio, como quando algumas figuras são convocadas, para criar desgaste no governo, e muitas vezes nada têm a ver com a questão do banco. Por exemplo, a oposição insiste em trazer o governador Pimentel. A CPI não tem prerrogativa legal de convocar governador de Estado, isso é prerrogativa de Assembléia Legislativa. Então, eu preciso encontrar sempre esse equilíbrio para não deixar nem descambar para um lado e nem para o outro. Esse papel de não perseguir ninguém e nem proteger ninguém tem sido fielmente cumprido. Tanto é verdade que eu tenho a prerrogativa de fazer a pauta, mas eu nunca fiz isso de forma monocrática. Eu sempre busquei o consenso entre o governo e a oposição. Na última reunião deliberativa eu comecei a fazer a pauta às 9h e terminei às 16h, pra você ver como o desgaste é grande. Eu posso dizer que não estou agradando nem o governo, que me critica, e nem a oposição, que também me critica. Então pra mim está ótimo porque estou sendo imparcial.
ATUAL – E nessa disputa entre governo e oposição, como fica o PMDB? Teoricamente é um aliado do governo.
ROTTA – O PMDB é governista na comissão. Tem três membros, eu que sou presidente, e outros dois que têm seguido a orientação do governo nas votações. A minha posição pessoal não é de governo, nem de oposição. Eu preciso ficar em posição de imparcialidade, para não comprometer o próprio trabalho da CPI.
ATUAL – A CPI vai cumprir as investigações dentro do prazo?
ROTTA – Eu já pedi prorrogação, mas isso quem decide é o presidente da Câmara [Eduardo Cunha]. Há muita informação desencontrada se ele vai prorrogar ou não. Acabou de haver a ruptura com o PSDB e temos três integrantes desse partido na CPI, inclusive o vice-presidente Miguel Haddad (PSDB-SP). O presidente ainda não deu nenhuma declaração pública de que vai prorrogar a CPI, mas eu particularmente acho razoável prorrogar. Nós temos prazo limite até 4 de dezembro, mas como são informações técnicas, muitos documentos e a burocracia é muito grande, no mínimo por 30 dias vamos precisar prorrogar.
ATUAL – E sobre a situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que tem sido alvo de investigações, com provas robustas, e até já houve pedido de afastamento. Como o senhor enxerga esse momento?
ROTTA – O clima na Câmara não é bom. O cenário político de maneira geral.
ATUAL – Mas o senhor concorda que ele deveria se afastar do cargo, pelo menos enquanto acontecem as investigações?
ROTTA – Concordo que ele tem que se defender. Ele tem que percorrer todos os caminhos do devido processo legal. Foi dado início a um processo no Conselho de Ética, já existe um relator que, inclusive, quer antecipar o seu relatório. E o presidente Eduardo Cunha, sabe do peso das denúncias, eu acho que ele precisa também antecipar sua defesa, porque o quanto antes ele provar aquilo que diz, melhor. Agora, eu acho que isso não vai terminar no Conselho de Ética, eu acho que isso vai desaguar no Plenário. Acho que isso é uma situação que ainda vai se arrastar, espero que não por muito tempo, por que isso causa desgaste não apenas para o presidente, é um desgaste que repercute em diversas esferas e prejudica o país.
ATUAL – E ainda sobre a crise política, qual sua posição sobre a questão do impeachment da presidente Dilma?
ROTTA – Não passa. Na minha opinião não tem nada que ligue ela, ou aponte responsabilidade sobre isso [denúncias que embasariam um pedido de impeachment]. É bom a gente lembrar que vários outros presidentes já sofreram o que a presidente Dilma vem sofrendo, não é algo novo no cenário político brasileiro. Eu acho que se não houver uma comprovação dessas denúncias ligando-a diretamente aos crimes cometidos. Eu acho que não prossegue [o impeachment], claro que se chegar nesse nível vai ter que se reavaliar, mas hoje, eu particularmente não vejo motivação e fundamentação para que o processo de impeachment avance. E isso não é apenas o meu pensamento, mas da maioria dos deputados hoje – mas claro que pode mudar -, inclusive de deputados da oposição que já se declararam abertamente contra o impeachment.
ATUAL – Hoje esse Congresso é considerado o mais conservador da História, mais do que no período de ditadura militar. O senhor se vê como um deputado conservador?
ROTTA – Em alguns pontos sim… Essa questão, por exemplo, do Estatuto do Desarmamento. Embora eu não seja ligado à Bancada da Bala e nem à questão da segurança pública, mas acompanhei esse conservadorismo dos parlamentares e votei favorável nesse ponto específico da revogação do Estatuto do Desarmamento. Nós não estamos falando de transformar o Brasil em um faroeste, nós estamos dando ao cidadão brasileiro opção de escolher se quer ter uma arma para defender a sua família ou seu patrimônio. É uma questão de direito. Agora que a Câmara hoje em dia é mais conservadora, eu não tenho dúvida.
ATUAL – Anteriormente o senhor citou que o lobby de empresas pressiona a atuação de parlamentares na Comissão de Defesa do Consumidor. Essa revogação do Estatuto do Desarmamento também não seria fruto da pressão ou lobby da indústria armamentista?
ROTTA – Bom, não sei se houve, eu não sofri, embora eu fosse membro efetivo da comissão especial. O que eu acho é que a comissão, de uma maneira geral, se viu na obrigação de atender ao anseio de grande parcela da população brasileira. Quase 90% da população disseram sim à revogação do Estatuto do Desarmamento, então se nós somos representantes da sociedade brasileira, nós não poderíamos deixar de atender um pleito que é da grande maioria da população.
ATUAL – Tem sido recorrente parlamentares justificarem posições com base nesse tipo de pesquisa de opinião. No entanto, outros posicionamentos que também são apontados como apoiados pela maioria da população não têm essa repercussão. Isso não seria apenas uma desculpa para justificar determinadas votações?
ROTTA – Eu penso que temos que dar o direito de escolha ao cidadão. Porque o governo quando não consegue fiscalizar, não consegue acompanhar, ele proíbe. Veja o caso da BR-319, que o governo não consegue fiscalizar, então ele proíbe a recuperação. Foi assim com a questão da posse de arma de fogo, resolveu proibir. Então o cidadão precisa ter o direito à escolha, nós termos o livre-arbítrio de ter acesso a uma arma de fogo. Isso quem tem que decidir não é o Estado brasileiro, é o cidadão, como funciona, por exemplo, nos Estados Unidos. A grande comparação que se faz hoje é com as tragédias ‘fulano pegou uma arma e matou 300’, bom isso vai acontecer em qualquer lugar do mundo, basta que o cidadão tenha o conhecimento para manejar, tenha algum distúrbio, e qualquer país pode estar sujeito a isso. Acho que a Câmara marcou um papel importante nessa questão, que foi um assunto muito polêmico, muito discutido. Só eu discuti com vários especialistas, com o Instituto Sou da Paz ouvi toda a argumentação deles, e também pessoas do outro lado, principalmente os delegados de polícia, por que a comissão tinha seis ou sete delegados. Enfim, acho que nós prestamos um serviço à cidadania, dando um direito de escolha às pessoas.
ATUAL – Isso se aplicaria, por exemplo, à regulamentação das drogas?
ROTTA – É um assunto ainda mais polêmico. E aí eu acho que merece um pouco mais de aprofundamento e discussão com médicos, com cientistas, com a sociedade, com as empresas…
ATUAL – Mas não entraria na questão de garantir direito de escolha?
ROTTA – Eu também acho, eu defendo o direito da escolha, mas desde que o cidadão tenha todas as informações possíveis e imagináveis para que ele possa fazer o seu juízo de valor. Liberar as drogas sem que haja uma ampla discussão sobre o tema, acho que não dá. Agora, é preciso discutir do modo certo.
ATUAL – Como o PMDB está se organizando para a disputa das Eleições 2016 no Amazonas e qual o seu papel?
ROTTA – Hoje eu sou o vice-presidente estadual do PMDB, o ministro Eduardo Braga é o presidente e nós não discutimos isso. Eu discuti as eleições do próximo ano no Amazonas com o vice-presidente Michel Temer, e a intenção do PMDB nacional é lançar o maior número possível de candidatos [a prefeito] em 2016, para que a gente possa estruturar uma base, porque é interesse do partido lançar candidato próprio a presidente em 2018.
ATUAL –Isso é já é definitivo [lançamento de candidatura própria para presidente]?
ROTTA – Já. É uma orientação definida pela Executiva Nacional do partido. Eu tive uma longa conversa com o vice-presidente Michel Temer, e não definimos se o PMDB terá candidato próprio ou não em 2016 [em Manaus], o que temos é essa clareza de que o partido terá candidato próprio em 2018. E para isso ser fortalecido, nós precisamos passar, primeiramente, pelo fortalecimento do partido nas prefeituras. Seja na cabeça de chapa, ou apoiando outras candidaturas, o PMDB é o maior partido do país e não vai ficar de fora. Não apenas em Manaus, mas em todos os municípios do interior e na grande maioria dos municípios brasileiros.
ATUAL – Então vocês ainda não discutiram candidatura à prefeitura Manaus?
ROTTA – Em Manaus não.
ATUAL – Mas o senhor é sempre listado entre os possíveis nomes para a disputa.
ROTTA – Eu preciso respeitar a fila, e quem está na minha frente é o ministro Eduardo Braga. Se o Eduardo Braga não for candidato, é claro que eu vou colocar meu nome como um possível nome para avaliação do nosso partido, mas o meu candidato à prefeito de Manaus até lá – até pelo respeito à posição – é o ministro Braga, é a vez dele de ser candidato. Se ele não quiser…
ATUAL – Mas o senhor acha possível ele sair do ministério de Minas e Energia para vir disputar a prefeitura?
ROTTA – Acho que não. Ele próprio teria dito uma vez que não quer disputar, embora tenha boas lembranças da época que foi prefeito de Manaus, e tenha orgulho das obras que realizou, mas não está nos planos políticos dele, hoje, ser candidato à Prefeitura de Manaus.
ATUAL – Automaticamente o senhor estaria entre os possíveis candidatos…
ROTTA – Em tese, sim, mas a política no Amazonas, e particularmente em Manaus, a história mostra, só se define aos 45 do segundo tempo. Então, tudo que está acontecendo agora, esse cenário que está posto, pode mudar de forma radical. Eu já estou muito vacinado com relação a isso, então vou esperar. Eu não vou, de maneira alguma adiantar o processo político, eu acho que isso faz mal, inclusive, à administração. Eu fui favorável que nós tivéssemos no Brasil apenas uma eleição a cada 5 anos, pra evitar justamente essa especulação, porque a cada dois anos nós temos uma eleição, são bilhões de reais investidos e acaba uma eleição já se começa a especular sobre a próxima. Isso faz mal para o governante, faz mal para o país, faz mal para a economia, então eu não vou de maneira alguma antecipar o processo eleitoral. Principalmente levando em conta que as coisas se definem aqui nos últimos meses que antecedem a eleição.
ATUAL – E do grupo político ao qual o senhor faz parte temos outros nomes. Que nomes o senhor enxerga como fortes para a disputa do próximo ano?
ROTTA – Sim, temos tantos nomes, quanto fortes. Temos o próprio ministro Eduardo Braga, temos o [deputado federal] Hissa Abrahão, nós temos a Rebecca Garcia, temos muitos…
ATUAL – Marcelo Ramos já pode ser considerado?
ROTTA – Marcelo Ramos é meu amigo pessoal e eu já conversei com ele a respeito de eleição. Um nome extremamente preparado, qualificado, e jovem. Eu acredito que esta eleição não apenas em Manaus, mas em todo o Brasil vai passar por essa questão da renovação, da jovialidade. Novas ideias, novos pensamentos e novos posicionamentos. Essa questão de “eu vou apoiar o fulano, porque ele apoiou o sicrano e estou devendo algum favor a eles” não vai prosperar mais no país. O momento político exige isso, e eu acho que nós que estamos na linha de frente dessa renovação, nós precisamos ter essa consciência. O país mudou, se você não acompanhar a evolução da sociedade, você vai ficar com um discurso velho, arcaico e que a população não compreende, e não quer nem mais compreender. O momento é de renovação.
ATUAL – Quais as principais carências de Manaus hoje?
ROTTA – Bom, nós temos que resolver problemas crônicos, que estão aí e ninguém consegue resolver. As ruas do distrito industrial, por exemplo, é um problema que ninguém consegue resolver. Fica um jogo de empurrar entre a prefeitura, o governo e a Suframa, e ninguém consegue resolver esse imbróglio. Acho que tem que sentar todo mundo e pensar em uma alternativa. Colocar um ponto final. A questão do transporte coletivo em Manaus é outra vergonha. Tivemos como a grande renovação nesse setor uma faixa azul! E tinha sido prometido um sistema moderno, barato, ágil, que infelizmente não sai do papel. Manaus sofre, carece de um sistema coletivo à altura do que paga o passageiro e de que merece o cidadão. A faixa azul pode ajudar, mas nem de longe vai resolver a questão da melhoria do transporte coletivo. Temos a questão da iluminação pública em Manaus que seguramente continua sendo uma das cidades mais escuras do país, isso proporciona o aumento de estupros, assaltos, o vandalismo. A questão da água que é muito problemática, apesar de ter melhorado com o Proama, mas ainda tem diversos pontos que precisam ser resolvidos. Melhorar a questão da merenda escolar, que tenho visto diariamente reclamações de pais e professores sobre a questão da merenda escolar. Temos sérios problemas na questão da saúde.
ATUAL – Uma das maiores reclamações do prefeito é a falta de repasses de verba federal.
ROTTA – Bom, não vou entrar nessa seara, né… O governo federal diz que repassou bilhões pra cidade de Manaus, o prefeito reclama. Acho que ele está na posição dele. O prefeito esteve recentemente com a presidente Dilma. Tomara que questões políticas não afetem essa questão de repasses. Estamos falando de uma intriga entre duas pessoas, disputa entre duas agremiações políticas, que pode afetar uma cidade de dois milhões de habitantes. Eu particularmente não quero acreditar que presidente da República tenha esse tipo de atitude.
ATUAL – O Exija Seus Direitos já foi o início de várias carreiras políticas. Isso é uma vocação do programa? O senhor acha que ainda lançará outras?
ROTTA – Através do nosso programa nós tivemos três vereadores, e os três sempre entre os mais votados. Eu nunca incentivei isso. Assim como o Omar [senador Omar Aziz] quando criou o programa não incentivou isso. Eu acho que o bom disso é que as coisas acontecem naturalmente. Eu não fui ao programa Exija Seus Direitos com o objetivo de me tornar candidato, eu me tornei candidato em virtude do programa, não fui com essa mentalidade de ligar uma coisa a outra, como também com os três vereadores. Acho que há uma identidade, uma identificação, porque o programa presta muitos serviços, resolve muitos problemas, e acho que estender essa questão da tribuna que nós temos aqui para a tribuna do parlamento beneficiou a população, sobretudo pelo fortalecimento dessa bandeira de defesa do consumidor. Todos nós fomos eleitos por essa bandeira. No começo do programa foi muito difícil, muito conflitante, sofremos inclusive ameaças, agressões, por parte de algumas empresas que não queriam saber dessa questão da defesa do consumidor, mas conseguimos introduzir, fomos pioneiros no levantamento dessa bandeira da defesa do consumidor. Se hoje nós temos uma grande discussão nesse sentido, deve-se, em parte, ao nosso programa.
ATUAL – O senhor acha que o programa vai continuar sendo um celeiro de novas carreiras políticas?
ROTTA – É uma coisa que eu não incentivo, mas não posso proibir ninguém de ser candidato. Hoje temos um repórter jovem, que presta bons serviços, se a sociedade quiser que ele seja candidato, eu posso ajudá-lo da maneira que puder, mas não incentivo nem que sim, nem que não.