O delegado da Polícia Federal Sérgio Lúcio Mar dos Santos Fontes (foto acima), convidado pelo governador José Melo (Pros) para o cargo de secretário de Segurança Pública, já teria batido o martelo e aceitado. A estratégia de Melo, de chamar um delegado da Polícia Federal, já vem sendo questionada nas duas principais corporações da Secretaria de Segurança Pública: a Polícia Militar e a Polícia Civil. O histórico dos delegados da PF no cargo para o qual Sérgio Fontes foi convidado, deveria servir de exemplo para o governador, mas Melo dá pouca importância para a história. O último delegado colocado no cargo foi Zulmar Pimentel, que ficou apenas sete meses, entre março e outubro de 2011. O então governador Omar Aziz o substituiu pelo atual coronel Paulo Roberto Vital. Zulmar trocou toda a cúpula das polícias Civil e Militar, e o resultado foi desastroso. Antes dele, Omar Aziz havia experimentado o delegado federal Geraldo André Scarpellini Vieira no cargo, mas este também ficou apenas sete meses, entre junho de 2010 a início de janeiro de 2011. No período de transição entre Scarpellini e Zulmar, outro delegado da PF, Umberto Ramos Rodrigues, que era secretário executivo, ficou no cargo interinamente. Todas essas experiências foram frustrantes, mas nenhuma foi pior do que a passagem de Francisco Sá Cavalcante, outro delegado da PF, aposentado, que deixou o cargo depois de cinco longos anos e uma história de corrupção e desmonte da Polícia Civil. Sá desmontou a Academia de Polícia e deixou no limbo a Corregedoria e a Inteligência da Polícia Judiciária do Estado. Um dos casos mais conhecidos de corrupção durante o comando de Sá Cavalcante foi a compra de carros da marca Nissam para a SSP, feitas na empresa Parintins Automóveis Ltda., da família do então governador Eduardo Braga. Em abril deste ano, o Tribunal de Contas da União determinou que Sá Cavalcante e o agora conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Júlio Pinheiro, devolvessem aos cofres da União R$ 22,5 milhões pelos negócios da Secretaria de Segurança.
Comando da tropa
Os delegados de Polícia Federal podem ter larga experiência com investigação, mas nenhuma com o comando corporações de Estado, como são as polícias Civil e Militar. O fato de ser uma pessoa estranha ao corpo já cria um clima de animosidade entre aqueles que almejam cargos superiores no Estado. Pesa, sobretudo agora, o fato de a Segurança Pública do Amazonas ter sido usada pelos candidatos ao governo nas eleições deste ano, e a consequente divisão gerada pela disputa de poder. Um delegado da PF não é a pessoa mais indicada para curar as feridas abertas no processo eleitoral.
Por que Fontes?
A escolha de Sérgio Fontes para a SSP tem pelo menos dois motivos, segundo fontes da própria secretaria: 1) ele é muito bem relacionado com o poder no Amazonas; 2) ele teve um bom comportamento no comando da Superintendência da Polícia Federal no Amazonas, sem incomodar o poder político local. Na passagem dele pela PF, durante os seis anos no cargo, a instituição não realizou qualquer operação que envolvesse políticos. A última foi a Operação Vorax, em 2008, que desarticulou o grupo criminoso montado por Adail Pinheiro em Coari, mas estranhamente, o então prefeito foi poupado da prisão. Apenas os subordinados dele foram presos. A Vorax foi deflagrada no início da gestão de Fontes na PF e o caso já vinha sendo investigado há dois anos.
Delegado-geral
O delegado-geral da Polícia Civil, Josué Rocha, é um dos nomes na lista da degola no novo governo de José Melo. Apesar de desenvolver um trabalho que voltou a colocar a corporação em evidência, a Operação Estocolmo, que resultou na denúncia de políticos e empresários por crimes sexuais contra menores de idade, desagradou muita gente. A cabeça de Rocha está colocada a prêmio e os articuladores dessa proeza já fazem ressoar na mídia local nomes de substitutos dele. Melo não tem nada contra Josué Rocha, mas não tem forças para mantê-lo no cargo.
Homem forte
Os atuais secretários de Estado se movimentam preocupados com as mudanças que o governador José Melo prepara para anunciar no próximo dia 20. Mas um deles goza de plena tranquilidade: o chefe da Casa Civil, Raul Zaidan. Nos bastidores, dizem até que ele está mandando mais do que o governador, e determina quem fica e quem sai, do primeiro ao terceiro escalões do governo.
Histórico
Raul Zaidan cresceu dentro do governo no segundo mandato de Omar Aziz. Ele deixou a Casa Civil em 2010 para ser o coordenador financeiro das campanhas de Omar, Eduardo Braga e Vanessa Grazziotin (estes candidatos ao Senado). Zaidan contratou para a campanha a empresa A.C Nadaf Neto Assessoria e Comércio Exterior, de um ex-servidor da Casa Civil, para fazer pagamento de mais de 6 mil cabos eleitorais. O caso foi denunciado pelo PSDB, de Arthur Virgílio Neto, por suspeitas de compra de votos. O inquérito aberto na Polícia Federal para apurar a denúncia caiu no esquecimento. Depois da campanha, Zaidan voltou à Casa Civil e nunca mais saiu de lá.
Semana agitada
A semana que começa neste domingo promete ser agitada nas Assembleia Legislativa do Amazonas e na Câmara Municipal de Manaus. Na primeira, com a votação de projetos “urgentes” que o governo prepara para enviar à Casa; na segunda, por conta da eleição para presidente. A movimentação de vereadores se intensificou desde a sexta-feira desta semana, com reuniões secretas, almoços e jantares com “candidatos”.