Há opinião próxima da unanimidade sobre o desempenho de Marina Silva em entrevista concedida ao Jornal Nacional, constante de programação jornalística da TV-Globo posta à disposição dos demais candidatos a presidente da República. Todos, com exceção evidente dos “marineiros”, “marinófilos” ou dos tais “sonháticos”, entendem que a acriana revelou-se um desastre, enfezada, insegura e vazia.
Não conseguiu explicar o imbróglio do jatinho de Eduardo Campos, titulado em nome de laranjas e usado na campanha a custo zero, como vem noticiando a mídia. Rateou nas respostas sobre o caso e tentou fugir de suas responsabilidades. Para quem apregoa seriedade, transparência e ética, em público e em privado, saiu-se muito mal. Caminhou exatamente como os velhos políticos que tanto condena, de Renan a Jader Barbalho e Sarney, mostrando-se desinformada e ausente, na melhor das hipóteses.
Com o mesmo comportamento de seu padrinho político e antigo correligionário, o metalúrgico Lula da Silva, disse que não sabia de nada, que jamais lhe deram alguma explicação a respeito da questão. Entrava e descia do avião, sofisticado, o modelo mais moderno de sua linha, avaliado em mais de duas dezenas de milhões de dólares, com a mesma tranquilidade com que no passado tomava uma canoa para chegar aos seringais no Acre. André Vargas, expoente do PT e até recentemente vice-presidente da Câmara Federal, em vias de ter o mandato de deputado, teve reação semelhante ao ser apanhado usando o jatinho do doleiro Alberto Youssef, preso até hoje em rumorosa operação da Polícia Federal, no contexto dos escândalos que no presente envolvem a Petrobras.
Ao tentar salvaguardar a imagem e a memória de seu ex-companheiro de chapa, com discurso frágil e cheio de dubiedades, escorregou sobre o injustificável, ao invés de assumir uma atitude clara a respeito dos fatos. É provável que Eduardo Campos tivesse esclarecimentos plausíveis sobre a situação, pois nunca cairia numa esparrela dessa natureza. Agora, dizer que o avião fora utilizado por empréstimo e que mais tarde seria feito o respectivo ressarcimento, com pagamentos que figurariam na prestação de contas a ser apresentada pelo comitê financeiro do candidato, nem a ingênua Velinha de Taubaté acreditaria em potoca tão elementar. Inaceitável negar conhecer os laranjas e “proprietários” do avião, nem com a maior boa vontade do mundo, porquanto sempre esteve na cúpula da campanha e nada se fez ou se fazia sem sua audiência e anuência prévia. De mais a mais, foi cliente e viajante assídua do jatinho sinistrado e só não esteve no voo da tragédia por obra e graça do destino, que lhe salvou a vida e a carreira política, colocando-a atualmente em condição privilegiada, segundo as mais recentes pesquisas eleitorais.
A semelhança das explicações de Marina Silva com o pronunciamento do metalúrgico Lula da Silva sobre o escândalo do Mensalão do PT, a partir dos jardins da embaixada brasileira em Paris, não é mera coincidência, como hábito da velha escola política que a candidata tanto insiste em combater. Frente ao malfeito ou mau procedimento, mínimos que sejam, essa gente nunca sabe ou ouve falar de nada. Agem todos como avestruzes, enterram a cabeça e deixam o grupo criminoso passar com seu indispensável aval, como se nada tivesse acontecido, certos de que enganam o povo brasileiro. Outra escapadela pela tangente, manejada sempre, é anunciar que o delito está sendo ou deve ser apurado pela Polícia Federal, como licença para fugir dos necessários esclarecimentos em torno do núcleo do problema, exatamente como o faz Marina, sem tirar nem pôr.
A propósito, José Dirceu, que cumpre pena na Penitenciária da Papuda em Brasília, acaba de declarar que “Marina é o Lula de saias”.
Ao ser indagada pelos jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta, a nova candidata do PSB, a caminho da Rede, também não ofereceu explicações para sua derrota no Estado do Acre. Lá, nas fronteiras perdidas do País, amargou uma votação ridícula, o terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2010, vencida no Estado pelo tucano José Serra, com mais do que o dobro da votação obtida pela acriana. Logo, fechou a cara e irritou-se com os entrevistadores, recolhendo-se sem palavras que pudessem desculpar a derrota sofrida em seu local de origem, robustecendo a ideia de que quem conhece Marina, não vota em Marina, precisamente como o fizeram seus conterrâneos, como observei em artigo neste espaço na semana passada.
O encontro com a candidata mostrou-se um verdadeiro fiasco. Espelhou, como não poderia deixar de ser, sua real estatura pessoal e política. Exibiu-se inteira e despreparada, longe das características e atributos que são exigidos de um postulante ao cargo de presidente da República, num país com as dimensões e complexidades do Brasil.
P.S. E tudo indica que deverá ganhar as eleições. Segundo o DataFolha já está empatada com Dilma Rousseff com 34% das intenções de voto, enquanto Aécio, com 15%, desce a ladeira. No segundo turno vence a candidata do PT com 50 a 40%, uma margem segura, que lhe garantirá uma eleição tranquila.
————————–