Valmir Lima, da Redação
MANAUS – O major Wilmar Tabaiares da Silva Neto, que denunciou um esquema montado na Polícia Militar para liberar o transporte ilegal de madeira e carne de animais silvestres pela rodovia estadual AM-070 (Rodovia Manuel Urbano), afirmou que uma das autoridades que faziam pressão para extinguir a fiscalização do Batalhão Ambiental da PM era o deputado estadual Orlando Cidade (PTN), que tem base eleitoral no município de Manacapuru.
De acordo como major, Cidade convidou o comando do batalhão para uma reunião no gabinete dele, no mês passado, e pediu que os policiais reduzissem o rigor com que estavam atuando nas operações ao longo da estrada. “Ele reclamou que o Batalhão Ambiental estava fazendo muitas apreensões e prejudicando o comércio de Manacapuru”. Segundo o militar, Orlando Cidade argumentou que a caça de animais silvestres e a extração de madeira faziam parte da cultura do povo e deveria ser liberada pela Polícia Militar. “Sempre fomos intransigentes com os pedidos de políticos”, disse Tabaiares.
Durante a conversa, o major afirma que disse ao deputado que ele deveria propor a mudança da lei. “Diante da nossa resposta, ele disse, alto e bom som, que ia reduzir a nossa capacidade de agir”, afirmou.
Na última segunda-feira, o major foi exonerado do cargo de comando do Batalhão Ambiental e a barreira de fiscalização montada próximo à ponte Rio Negro foi desmontada, como queria o subcomandante-geral da Polícia Militar, coronel Eliézio Almeida.
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Cidade confirma
O deputado Orlando Cidade confirmou ao ATUAL o encontro que teve com os policias em seu gabinete, mas negou que seja responsável pela demissão do major Tabaiares do comando do Batalhão Ambiental. “Para mim foi surpresa você me trazer que ele foi exonerado”. Cidade disse ter convidado o comando do Batalhão Ambiental e ter recebido três policiais que ele não sabe o nome.
“Houve [o encontro], mas eu não pedi para eles maneirarem nada. O que eu falei a eles três que vieram foi do rigor como eles estavam aplicando a lei, em detrimento de pessoas humildes”, disse, no início da conversa.
Depois, Cidade afirma que pediu para a polícia “manerar”. “Realmente eu convoquei, chamei eles aqui na Assembleia, já fiz centenas de pronunciamentos, combatendo essas leis que eles atuam, de maneira errada. Eles estão aplicando de maneira errada a lei. Vieram três aqui comigo e eu falei a eles, porra, manéra, meu irmão. Vocês não estão lidando com bandidos. Vocês estão lidando com pessoas humildes. São pescadores, são piscicultores, são extratores de madeira, extratores de lenha, que estão tirando de suas propriedades para sua sobrevivência. ‘Não, é lei, e nós vamos cumprir a lei’, foi o que eles me responderam”, disse o deputado.
Cidade também afirmou que conversou “mais ou menos umas dez vezes” com o comando da Polícia Militar sobre a atuação do Batalhão Ambiental na região de Manacapuru e Iranduba.
Pedido de extinção
O deputado informou que é contra a existência do Batalhão Ambiental da Polícia Militar e que vai propor a extinção dele, porque o Amazonas não necessita dessa estrutura que ele considera ociosa.
“Foi um batalhão criado pelo governo passado, que hoje tem um contingenciamento de mais de 100 praças e oficiais, várias viaturas para apreender o que? Pirarucu e carvão… E madeiras quando não estão legalizadas. Em detrimento do sofrimento daquele caboco (sic), que hoje está sem a mínima oportunidade”.
Cidade afirmou que já tem um requerimento para apresentar na Assembleia Legislativa pedindo a extinção. “Eu estou pedindo a extinção do Batalhão Ambiental, porque não existe finalidade para eles, cara. Qual é a atividade que nós temos? Eu estou pedindo mais informações. Eu posso não conseguir, mas que eu vou pedir a extinção desse Batalhão Ambiental, com certeza, eu vou”, disse.
Ele explicou por que quer a extinção: “Não há justificativa pra nós amazonenses mantermos um Batalhão Ambiental. Quais são os crimes que nós temos? Não temos mais nada de madeira, isolaram tudo”.
“Ele é um mentiroso”
Orlando Cidade contesta a afirmação de Wilmar Tabaiares de que a AM-070 é o principal corredor de transporte de madeira ilegal, carne de animais silvestres e drogas. “É mentiroso esse cidadão. Toda madeira que transita lá é legalizada. Diga pra ele que eu disse que ele está mentindo”.
Ele disse desconhecer outro fato narrado pelo major de que o Batalhão Ambiental fotografou caminhões parados em ramais ao longo da AM-070 à espera da liberação da rodovia para a passagem da madeira ilegal. “Se ele está dizendo isso para o nosso projeto lá, de lá não sai um metro se não for legalizado”. Questionado se ele tem um projeto de exploração de madeira, ele corrigiu a informação: “Não, eu não. Tem uma cooperativa que tem”.
Orlando Cidade também disse que vai pedir ao Ministério Público Federal que peça a revogação da Instrução Normativa do Ibama do Amazonas, que torna o defeso do pirarucu permanente. “Só Estado do Amazonas que tem isso. O defeso do pirarucu tem que ser igual aos demais defesos de outros Estados”. Ele tem um requerimento pronto para entregar à Procuradoria Geral da República no Amazonas.